José Lemos
Quando José Reinaldo assumiu o Governo do Maranhão em abril de 2002, o estado tinha os piores indicadores econômicos e sociais entre todos os estados brasileiros. O IDH era 0,636, o equivalente ao que tinha de pior na África. O PIB per capita de apenas R$ 2.636,93 por ano, tinha poder de compra de apenas 1,1 salário mínimo. A produção agrícola, em geral, e a de alimentos tradicionais, como arroz, feijão, mandioca e milho, despencava em queda livre, porque a Secretaria de Agricultura havia desaparecido do organograma do estado em 1998, numa das mais desastrosas reformas administrativas já feitas num governo, que transformou Secretarias de Estado em Gerências. Diante daquele quadro, o Governador teve duas decisões que, na minha avaliação, transcorridos mais de sete anos da sua saída, foram revolucionárias. Recriou a Secretaria de Agricultura e nela criou as Casas do Agricultor Familiar (CAF), que faziam Assistência Técnica, Extensão Rural e Fomento. A segunda decisão foi estabelecer como meta ao final do seu governo, o estado ter IDH de 0,700.
Cercou-se de dois Assessores que foram fundamentais. Dois Economistas muito competentes. Os Secretários de Fazenda e o de Planejamento. A Secretaria de Fazenda conseguiu incrementar a arrecadação do estado sem elevar alíquotas, mas apenas aprimorando os métodos de coleta, dificultando sonegação. O de Planejamento era o “chato” do Governo. Era o homem certo para dizer “não” às demandas sempre crescentes das demais Secretarias e dos Deputados que davam sustentação ao Governador. Mas era sensível àqueles pleitos que iam à direção do avanço do estado.
Os resultados apareceram. O Maranhão saiu da ultima posição nos indicadores sociais, superou Alagoas e Piauí e aproximou-se do Ceará e Paraíba. O IDH do Maranhão, ao final da gestão de Zé Reinaldo, foi de 0,705. No último ano do Governo em 2006, o Maranhão consolidou uma tendência que vinha se manifestando desde 2003: o crescimento da captação de recursos do PRONAF. Atingiu a segunda posição no Nordeste, sendo apenas superado pelo mundão que é a Bahia com os seus mais de 400 municípios. Em conseqüência a produção de alimentos teve forte inflexão positiva.
Em todas as áreas o estado deslanchou. Tanto assim que foi criado um vácuo importante que derrotou em outubro de 2006 a candidata da família que manda no estado a um mundão de anos, a despeito do apoio explicito (e irregular, de um ponto de vista da legislação eleitoral vigente) do então Presidente da Republica, cuja cena mais patética foi registrada naquele famoso comício de Timon em que ele quase lhe arranca o braço de tão entusiasmado com a candidata que há apenas seis anos antes adjetivava com expressões chulas proibitivas para menores de dezoito anos.
Ao ouvir as vozes roucas das ruas, a atual Presidente confirma o que já imaginávamos. Está completamente perdida e terrivelmente mal assessorada. Tem a negligencia e a desqualificação mórbida de um Ministro da Fazenda. No Planejamento tem uma Senhora que dá pena ver e ouvir falar, tão inabilitada que está para o cargo. De quebra, como mentor das suas articulações atrapalhadas, e ao que se lê na imprensa, o seu homem de confiança, tem o Ministro da Educação, aquele mesmo que, quando senador tomou uma decisão que na época disse que era irrevogável e, menos de uma semana depois veio a publico para dizer que a estava revogando.
Com um time desses, é claro que apenas poderiam sair propostas alopradas, como convocação de plebiscito para decidir acerca a convocação de uma constituinte para fazer reforma política. Proposta tão esdrúxula e bombardeada, que a fez recuar em menos de 24 horas. Para não reconhecer o recuo, porque humildade não lhe chega perto, continua com o birro do plebiscito, sem constituinte, para consultar à população sobre a tal reforma. Se ocorrer plebiscito, omo boa parte dos brasileiros está “encabrestada” pelo programa Bolsa Família, haverá grande chance de acontecerem as “reformas” que interessam aos atuais donos do poder, mas são nocivas aos brasileiros.
A meta de inflação foi para o brejo. A Lei de Responsabilidade Fiscal, que vale para Governadores e Prefeitos, não se aplica à Presidência da Republica. Às dificuldades de mobilidade urbana, o governo responde com redução do IPI para os carros particulares comprados com crédito a perder de vista. Isso reduz o FPM dos municípios, e cria problemas nas cidades como transito horrível, coleta de lixo, dentre outras dificuldades. Ao excesso de gastos públicos, causa primária da inflação, a Presidente responde com um Ministério com 40 inutilidades, e mais de 22 mil cargos públicos sem concurso para os companheiros nomeados sem qualquer qualificação, com as poucas exceções. As vozes roucas das ruas pedem por melhoria dos serviços públicos, dentre eles a educação. Ela responde com recursos do Pré-sal que estão submersos e, se saírem algum dia, precisarão de ao menos cinco anos para se transformar em realidade, sem falar nas agressões ambientais que provocarão. Claro que esse conjunto de idéias somente poderia sair de mentes despreparadas. Não seria o caso de ela convocar Zé Reinaldo para lhe expor o que fez no Maranhão e deu certo? A família Sarney, certamente não gostaria. E dai? Em momentos de crise, precisam-se ouvir as mentes lúcidas. Aquelas que a vem assessorando e aconselhando, inclusive politicamente, mostraram que não estão interessadas em ver um país diferente.
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*Publicado no Imparcial do dia 29-06-2013.