Na edição desta quarta-feira, 29 de janeiro, do Jornal Nacional, o telejornal que faz a cabeça de milhões de brasileiros, o seu âncora leu, com voz empostada e feição sisuda a seguinte chamada: “A UNESCO colocou o Brasil na oitava posição no ranking dos países com mais analfabetos do mundo”. Essa entidade internacional é o Braço das Nações Unidas que trata de temas relacionados à educação, ciência e à cultura. Os pesquisadores que lhe prestam consultoria utilizam informações produzidas nos países. Lá não são feitas pesquisas dentro dos países, até por aspectos estratégicos ligados à soberania dos filiados. Portanto, não foi a UNESCO que colocou o Brasil na oitava posição entre os quase duzentos países avaliados nos últimos cinco anos, no que se refere à redução das taxas de analfabetismo. Tão pouco foi a entidade que fez com que não menos que 38% dos analfabetos da América Latina sejam brasileiros. Foram esses que administram o País desde 2003 que o fizeram, por absoluta incompetência. Na verdade a entidade internacional até foi condescendente com o atual governo brasileiro como tentarei mostrar neste texto. Desde meado dos anos noventa do século passado, ao final das tristes e desastradas passagens de Sarney e Collor pela presidência da República, começando com Itamar Franco, o Brasil iniciou um processo contínuo de redução da taxa de analfabetismo da população maior de quinze anos. Com efeito, segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo no ano 2000 era de 13,6%, tendo chegado a 11,5% em 2003. Portanto uma redução de 2,1% em três anos (0,7% ao ano). Uma desaceleração muito lenta, ainda assim melhor do que aconteceria depois. Em 2011 os analfabetos brasileiros ainda representavam 8,6% da população maior de quinze anos. Por incrível que pareça, o atual governo conseguiu inflexionar para cima a tendência de queda da taxa. Em 2012, sempre de acordo com o IBGE, a população analfabeta brasileira daquela faixa etária, havia ascendido para 8,7%. Portanto, entre 2003 e 2012 (nove anos), a redução da taxa de analfabetismo foi de apenas 2,8%, ou 0,3%, em média, por ano. Em 2011 o total de analfabetos maiores de 15 anos no Brasil, era de 12.865.551. Em 2012 haviam ascendido para 13.162.983. Portanto, em 2012 havia 297.432 analfabetos a mais se comparados àqueles de 2011. Uma tragédia! A situação calamitosa em que se encontra o Brasil, no quesito educação, fica mais trágica quando avaliamos outras estatísticas, agora produzidas pelo Censo Demográfico do IBGE de 2010. Façamos o seguinte exercício. Coloquemos em ordem decrescente, pelo tamanho dos PIB agregados, os 5.565 municípios brasileiros. Ainda nesse critério construamos dez grupos de municípios agregados da seguinte forma: primeiro grupo constituído dos 10% mais ricos (555 de maior PIB); os dez por cento seguintes, assim por diante, até o décimo grupo que será constituído daqueles 555 de menores PIB. Vejam o que acontece. No grupo dos 10% mais ricos, que inclui as capitais dos estados dentre outros, 40,2% da população maior de 25 anos não concluiu o nível elementar. Neste grupo, pasmem, apenas 14,4% da população, naquela faixa de idade, tem nível superior completo. Agora vem o desfecho cruel. Na metade inferior, constituída dos municípios com menores PIB, num total de 2.783, a população maior de 25 anos, que declarou não ter concluído sequer o nível elementar, varia de 72,4% a 75,6%. Nesses municípios a população maior de 25 anos que completou nível universitário varia entre 3,7% e 3,8%. Ganhará carona no AeroLula (ou AeroDilma?) para comer bacalhoada em Portugal, com direito a hospedagem em hotel de luxo, tudo pago pelos brasileiros que trabalham, quem não conseguir identificar onde fica a maioria desses municípios de menor escolaridade e de menor PIB agregado. Não foi a UNESCO, nem os “malvados imperialistas” que colocaram o Brasil nesta situação trágica de educação, mas essa gente que está aí há intermináveis onze anos. Os brasileiros de bem, que somos a maioria, não podemos deixar que continuem. Iriam fazer o que outros tentaram e não conseguiram: acabar de vez com o que resta de dignidade na maioria dos brasileiros, que se contentará vivendo de esmolas, e acreditando que só pode fazer curso superior se for discriminada. Sim, porque estabelecer que negros e pobres para entrar numa universidade precisam de cotas é admitir que sejam incapazes de competir. Não existe uma discriminação mais odienta e vergonhosa do que esta.
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*Texto publicado no dia 01 de fevereiro de 2014 no O Imparcial