José Lemos*
Em junho de 2015, quando eu defendi a Tese: “Pobreza e Vulnerabilidades Induzidas no Nordeste e no Semiárido Brasileiro”, para concorrer à vaga de Professor Titular nesta Universidade, eu fiz um prólogo naquele documento dizendo: “Prover bem-estar e felicidade para as pessoas que amamos e que nos amam é uma das nossas missões durante a nossa breve passagem por este belo planeta. Portanto, não é nada mais além do que cumprir a nossa obrigação. Na minha avaliação é muito mais gratificante se, além de cumprir esta missão, pudermos com as nossas ações, trabalho e atitudes, proporcionar bem-estar, alegria e felicidade para pessoas que não fazem parte do nosso circulo de amizade e que talvez jamais conheçamos. Fazendo assim, acredito ter valido a pena ter passado por este belo Planeta Azul”.
Claro que eu ainda não consegui fazer o que eu desejaria nesta direção. Nem para as pessoas que me amam e que eu amo, muito menos para aquelas que estão mais distantes do meu cotidiano. Mas busco com tenacidade alcançar esses objetivos.
Raul Seixas em uma das suas músicas antológicas, disse que era chato alcançar um objetivo num instante. No que eu concordo. Atingir objetivos com facilidades não tem a menor graça. Retira-nos a perseverança. Sem objetivos, ou com eles alcançados, nada nos resta a fazer por aqui. A não ser ficar “sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada e cheia de dentes esperando a morte chegar”. Nada mais inútil.
Em artigo recente neste mesmo espaço eu escrevi que, ao contrário do que ensina a geometria Euclidiana, nas nossas vidas a menor distancia entre dois pontos não é uma reta. Escrevi também que precisamos aprender com a sabedoria dos rios: serpentear e saltar obstáculos, na busca de nossos projetos. Fazendo, como o fazem esses seres que me fascinam, deixando na trajetória rastros que não nos envergonhem no futuro. Ainda com a sabedoria dos rios que incorporam na sua trajetória, pequenos córregos, riachos, águas de chuvas, que lhes engrossam a lâmina d’água, precisamos incorporar conhecimentos, aprender com todos, inclusive e, principalmente, com aqueles a quem julgamos ter menos conhecimento do que aqueles que acumulamos.
No começo dos anos oitenta eu concluí o meu Doutorado e tive a minha primeira aventura escrevendo para jornais. Escrevi um texto sob título “Os Dois Brasis” e enviei para o então Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Aquela submissão foi desprovida de qualquer pretensão de que os redatores sequer iriam se dar ao trabalho de ler.
Qual não foi a minha surpresa quando comprei o Jornal Impresso do domingo, dia nobre das edições dos jornais, e lá estava o meu texto. Inclusive com uma ilustração que os Editores se esmeraram em fazer. Foi bom demais. “Peguei corda” e nunca mais parei de escrever textos para jornais.
Fiquei “ousado”. Na época eu ainda estava muito empolgado com a possibilidade de Lula vir a ser Presidente da República, e o que representaria as esquerdas chegarem ao poder. Eu era um militante ativo, apesar da minha formação técnica, positivista, matemática e neoclássica. Contudo fiz incursões nas leituras e debates da obra de Marx. Morava nos EUA e fiz parte do Corpo Editoria da Revista “Latin American Perspective” que congregava pensadores de esquerda da Universidade da Califórnia, Riverside, em que eu trabalhei e estudei. Para aquela Revista eu escrevi um artigo em que discutia o que eu imaginava então representar, em termos de “perdas” para o Brasil, Lula ter perdido as eleições para FHC em 1994.
Criei coragem e escrevi um texto com esta temática, a politica no Brasil e a derrota das esquerdas como sendo maléfica para o nosso futuro como nação, e submeti ao corpo Editoria do Jornal Los Angeles Times. Um jornal conservador. Espantei-me quando vi o artigo publicado na integra, ao lado do Editorial do Jornal que tratava da situação politica do Brasil. O meu texto ancorou aquele Editorial. Sublime conquista.
De volta ao Brasil, dei continuidade a esta verve que crescia em mim. Escrevi inúmeros textos para o Jornal “O Povo” daqui de Fortaleza. Cheguei a publicar um artigo no jornal “O Estado do Maranhão” em que eu falava do meu Liceu. Os Editores do Jornal Pequeno também sempre foram receptivos aos meus textos. Ali publiquei muitos deles, inclusive nos domingos, dias em que o Jornal tem a sua maior vendagem.
Mas foi a parceria com o “O Imparcial” a mais cativante e criativa de todas para mim. Pelo começo de abril de 2004 o Jornalista Raimundo Borges, Editor do Jornal, me convidou para escrever textos inéditos aos sábados. Uma parceria em que não há ônus para o jornal. Apenas o prazer de eu escrever sobre os temas que eu avaliar como relevantes. Uma condição que eu coloquei foi esta: ampla liberdade de expressão. Deu certo. E agora neste mês de abril ultrapassaremos a marca dos 670 textos inéditos.
Faço deste espaço uma das trincheiras para cumprir o que eu escrevi na minha Tese de Titular de junho de 2015. O meu plano é, caso os Editores do Jornal continuem concordando, e caso o Homem lá de cima avalie que a minha missão ainda não foi cumprida por aqui, chegar ao milésimo texto. Faltam menos de 330. Será que chego lá?
Não será por falta de corridas e de malhações diárias que eu me frustrarei.
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*Professor Titular e Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará.
Currículo na Plataforma Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5498218246827183
Publicado em 9/04/2017