José Lemos
Uma das características de nós brasileiros é termos a memória curta. Rapidamente nos esquecemos de fatos relevantes, mesmo aqueles que nos afetam diretamente o cotidiano. Quem tem poder de decisão no Brasil, sabe disso. Sobretudo os políticos profissionais (com as poucas exceções de sempre) que usam esta característica para construírem fortuna e usarem os recursos públicos como extensão familiar.
Como então esperar que os maranhenses se lembrem de um episódio que aconteceu há cinco anos, mas que não lhes afetariam diretamente o cotidiano de hoje? Mesmo que naquele evento estivesse o Governador do Estado que correu perigo de morrer e que fez um governo que resgatou a auto estima dos maranhenses que andava rastejando?
Neste 27 de setembro completaram cinco anos do acidente com o helicóptero em que estávamos o então Governador José Reinaldo, eu, que na época exercia a função honrosa de Secretário de Agricultura do Estado, o Capitão Santana, Ajudante de Ordens do Governador, além do piloto, o grande herói daquele começo de tarde. Estávamos voltando de São João do Carú, um dos municípios mais pobres do Planeta, que serviu de cenário daquele quase sinistro. Felizmente o desfecho nos foi favorável, apesar do susto.
Se nada de grave aconteceu conosco, por que então relembrar um episódio que poderia ter causado muito sofrimento? Vocação para masoquismo? Não, Definitivamente não. Sempre procuro olhar para frente, tentando aprender com os muitos equívocos e eventuais acertos cometidos no passado, sem qualquer vontade de sofrer de novo.
A motivação em falar daquele episodio é a razão que nos levou naquele dia para aquele local remoto. Estávamos na missão de entregar para famílias rurais os projetos que elas haviam solicitado ao Programa de Desenvolvimento Integrado do Maranhao (PRODIM) que o Governador havia conseguido aprovar no Senado, depois de enfrentar a oposição dos próprios senadores maranhenses da época. Um fato inusitado em qualquer outro local, mas normalíssimo no estado que faz limite entre a Amazônia e o Nordeste seco.
O embargo foi feito por políticos maranhenses que se opunham ao Governador que, na sua mesquinhez, acreditavam que inviabilizando o seu governo abririam as portas para retornarem ao poder que haviam perdido. Por isso não hesitaram em prejudicar mais da metade da população do Maranhão que, na época, dava sinais que poderia sair da condição de estado mais pobre do Brasil. Isso incomodava aquelas figuras, pois lhes retirava “bandeiras” de luta.. Houve uma perda preciosa de tempo naquela pendenga. Apenas foi possível reunir condições legais de aplicação dos recursos liberados pelo Banco Mundial a partir do final de junho de 2006. Ainda assim, com todas as dificuldades, conseguimos viabilizar a implantação de projetos de mitigação da pobreza que beneficiaram nada menos do que 14 mil famílias nos municípios mais carentes do estado, como São João do Carú.
Uma das grandes carências do Maranhão é o abastecimento de água encanada. Por isso a maior demanda para o PRODIM (33,4%) foi para a perfuração de poços tubulares e implantação de redes de distribuição de água. A segunda maior demanda foi para agroindústrias familiares de processamento de mandioca. Havíamos planejado um modelo padrão que poderia processar, além da tradicional farinha d’água em condições corretas de higiene e qualidade, a extração da fécula, que é a parte mais nobre dessa cultura.
Naquela quinta-feira de setembro de 2006, todos nós estávamos “blindados” contra acontecimentos que pudessem nos impedir de prosseguir naquela missão. Ela era nobre demais para ser encerrada daquela forma. Por isso sobrevivemos e continuamos.
Na execução do Programa, trabalhando diretamente comigo, havia um grupo de profissionais competentes e responsáveis. Dentre tantos que existem no Maranhão que, anonimamente, sem serem reconhecidos o valor, dedicam o melhor que possuem em beneficio do Maranhão. Aquele grupo era liderado pelo talentoso Engenheiro Agrônomo Antonio Gualhardo, que houvera sido meu contemporâneo na tradicional Escola de Agronomia da Amazônia, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia em Belém. O sucesso da execução do programa deve ser creditado a eles e ao Governador Zé Reinaldo.
No Maranhão, infelizmente, a cada nova administração mudam-se tudo. Mesmo o que estava funcionando bem. Substituíram o Gualhardo e decretaram o fim do PRODIM. Pior para todos nós maranhenses, sobretudo para os pobres das áreas rurais.
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 30/09/2011