José Lemos*
Começo o texto de hoje, ultimo dia deste ano difícil de 2016, agradecendo o “convívio” com os meus leitores de “O Imparcial” que me prestigiaram com a leitura dos meus 52 textos semanais e inéditos. Sem duvida um grande privilégio.
Nesses 52 textos, num ritual que se repete desde abril de 2004, discorremos sobre os mais variados temas. Nele eu me desnudei sem subterfúgios para os meus leitores que tomaram conhecimento de como eu penso acerca de diferentes problemas.
Com certeza, em alguns, ou todos esses textos, há uma probabilidade enorme de que eu haja cometido equívocos. Contudo, eu posso, com a permissão dos leitores, me atribuir um bônus: O lenitivo de não ter ficado omisso. Isso parece não ser pouca coisa.
Um ano que começou com multidões nas ruas reivindicando mudanças radicais na forma em que estávamos sendo conduzidos. Ao menos o “gigante adormecido” se mexeu em todos os seus rincões. Não ficamos deitados “eternamente em berço esplêndido” como estávamos. Fomos para as ruas de forma pacifica, com bandeiras e cartazes nas mãos, palavras de ordem nas gargantas. Estivemos, em enormes passeatas com uma única arma: a nossa voz que chegou a ficar rouca.
Um ano em que tivemos um desfecho politico traumático, mas que parecia ser necessário, diante do caos em que estávamos. E que continuamos. Mas agora, embora não sendo a situação que buscávamos, pelos sujeitos envolvidos, pelos seus comprometimentos e pelos seus passados, parece que ao menos temos como pensar em mudanças de rumo. Tomara que consigamos a partir de amanhã, depois que os shows de pirotecnia e a nossa contagem regressiva anunciarem que o novo ano chegou.
Um ano particularmente difícil para doze (12) milhões de pessoas que viram as suas oportunidades de trabalhos esvanecerem devido à irresponsabilidade, à incompetência, à falta de escrúpulos de quem estava no poder. Um País que não é afetado por catástrofes como terremotos, tsunamis, furacões, mas que tem a desventura de ter governantes e parlamentares que o conduzem visando os seus próprios interesses.
Doze milhões de desempregados significam algo como 48 milhões de pessoas, numa população de 206 milhões, que neste momento em que o meu amigo leitor lê este texto, não sabe o que lhe acontecerá logo mais, quando chegar o ano de 2017.
Somente sabe o que é estar, ou ser desempregado, quem experimenta ou já experimentou na pele essa situação. A mais degradante que pode acontecer para alguém que tenha plenas condições físicas, intelectuais para o exercício de um trabalho digno.
Este ano de 2016 não deixará boas lembranças para essas famílias diretamente envolvidas nessa situação caótica. Muito menos para nós outros que, mesmo não tendo a desventura de estarmos desempregados, não podemos nos acomodar com uma situação assim. Fazemos parte da mesma nau. Ela adernando, afundaremos todos.
Dessas coisas eu tentei falar nos meus 52 textos deste ano. Em alguns momentos tentei fazer exercícios de “futurologia” sem ser feiticeiro, tarólogo, mago, ou cartomante. Apenas um Professor que trabalha com evidencias (não com vidências) e tenta interpretá-las. Infelizmente para todos nós, inclusive para mim, em alguns desses exercícios de antevisão eu estava certo.
Mas o ano novo está chegando. O primeiro exercício então será exorcizar as porcarias de 2016, que foram muitas. A pior delas é o desemprego que deixa uma multidão de famílias sem perspectivas. Precisamos trabalhar todos, fustigando quem nos governa e quem faz as leis para trabalharem pelo bem comum para que tenhamos de volta aos seus trabalhos esses brasileiros. Isso não pode esperar. Temos urgência nisso.
Sem usar frases feitas, e evitando lugar comum, eu desejo aos meus amigos leitores, e a todos os meus conterrâneos maranhenses, que consigam arrebanhar forças centrípetas de onde convirjam apenas bons fluidos, belos eventos, trabalhos para quem não os tem, com rendas dignas, e Saúde. Muita Saúde. Este o nosso bem maior que, quando perdemos, fiamos impossibilitados de buscar novos caminhos. Mesmo sabendo que essas conquistas são difíceis, e será bom que seja assim, porque saberemos lhes prover melhor valoração. Devemos, portanto, maximizar esse conjunto sem abrir mão de qualquer um dos seus componentes.
Almejo do fundo do coração que sejamos capazes de “sintetizar enzimas”, que são compostos bioquímicos que fazem com que componentes antes inertes ou quase inativos em um organismo, entrem em atividades (créditos para o meu amigo Professor Miguel Roeder), nos motivando, nos impulsionando, para que juntos possamos reverter o quadro que ai está. De forma definitiva.
Em interface com essas forças centrípetas e “enzimas” que haveremos de ter a capacidade de sintetizar no nosso organismo social em 2017, eu almejo aos meus amigos maranhenses, que todas as energias e sinergias negativas sejam fortemente carreadas por forças centrifugas. Para um enorme poço sem fundo.
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Professor Titular e Coordenador do Laboratório do Semiárido na Universidade Federal do Ceara. Escreve neste espaço semanalmente para O Imparcial desde abril de 2004.