José Lemos
Eu estava incomodado com a minha carreira acadêmica depois que sai da condição de Secretário de Estado no Governo do Maranhão. Aquele foi um período muito denso da minha carreira, até porque foi inesperado. Nos meus maiores devaneios de jovem estudante de Agronomia, eu jamais imaginei em ser Secretário de Estado de Agricultura. Por várias razões: não ter “sangue azul”, não ter padrinho politico e não dispor de votos para oferecer ao Governador que me honrou com o convite. A rigor, nem mesmo o meu voto pessoal, tendo em vista que sou eleitor em Fortaleza.
Mas ali eu consegui concretizar algumas das ideias que desenvolvi nos meus trabalhos acadêmicos e que estão registrados nos meus escritos. O Governador demonstrava total confiança em mim, ao ponto de, em alguns momentos, eu perceber que outros colegas de Secretaria ficassem com uma ponta de ciúmes, temendo talvez que eu tivesse alguma pretensão politica. Sempre lhes avisei que não as tinha.
Mas naquele período eu tive que renunciar temporariamente à minha carreira Acadêmica, o que eu gosto mesmo de fazer: dar aulas, fazer pesquisas, orientar um monte de estudantes, partilhar com os jovens o que eu acumulei de conhecimento até aqui. Não me arrependo de ter saído para ficar no poder Executivo do meu estado. Foi uma forma de eu também contribuir com os meus conterrâneos. Mas não tive dúvidas em parar, mesmo quando o Governador Jackson Lago teve a gentileza de me convidar para continuar Secretário. Avaliei que já tinha dado a minha contribuição.
Voltando para a Academia tive que me reinventar. Aqueles que me conhecem sabem que eu sempre fui sonhador. Para alguns até um pouco lunático. Acho que deixei esta impressão não apenas no Governador que me honrou com o convite para ser Secretário de Estado, em duas pastas, mas também para os demais secretários.
Na minha ultima estadia nos Estados Unidos, como Professor Visitante na Universidade da Califórnia em Riverside, eu havia escrito um trabalho sob título “Desertification of Drylands in Northeast of Brazil” (“Desertificação nas Terras Secas do Nordeste do Brasil”). Aquele foi um trabalho que, pela primeira vez, de forma sistematizada e usando o método cientifico, mapeou os municípios do Nordeste em relação às suscetibilidades para a Desertificação. Conceito que havia sido aprimorado em dois eventos importantes: ICID aqui em Fortaleza e ECO92 no Rio de Janeiro.
Depois, já de volta para cá, escrevi no começo deste milênio um artigo cientifico que apresentei no Congresso da Sociedade Brasileira de Economia Rural (SOBER) e depois foi publicado pela Revista Econômica do Nordeste (REN) em que eu fiz o mapeamento dos municípios do semiárido de acordo com os níveis de degradação. Um trabalho que foi ancorado naquele que eu produzi quando estava na Califórnia. Este é um dos meus trabalhos mais citados por autores que trabalham com esta temática.
Contudo, estava faltando um pedaço (como diria Djavan, em uma as suas mais belas canções para o meu gosto). Queria ter um espaço na UFC para fazer reflexões sobre o semiárido. Mas o setor desta UFC onde eu estava alocado, em zona de conforto, não me permitia criar um ambiente de estudos assim. Eu precisava deslocar-me para o Centro de Ciências Agrarias. Estava alocado na Faculdade de Economia da UFC.
O Ceará tem 150 dos seus 184 municípios reconhecidos pelo Governo Federal como pertencentes ao semiárido. Proporcionalmente, é o estado do Nordeste com maior inserção de municípios, área e população. Então aqui é o local adequado para se criar um espaço como este. Comecei a saga para mudar de Departamento e de Faculdade. Quem é da Universidade sabe como isto é difícil. Quase impossível. Mas eu consegui remover resistências e me comprometi com a minha Faculdade de então que continuaria dando aulas à noite e orientando trabalhos. E assim continuo fazendo.
Consegui a remoção e concretizei outro grande sonho da minha carreira Profissional. Criar o Laboratório do Semiárido (LabSar). Consegui atrair uma professora também sonhadora para viajar comigo nesse projeto, e juntar uma plêiade de estudantes de graduação e de pós graduação. Toda a argamassa estava pronta.
Em 13 de maio de 2014 começamos os nossos trabalhos. Três anos de muitas dificuldades. Ainda não temos uma sede definitiva. Temos dificuldades de recursos. Mas isso não impediu de produzirmos Teses de Doutorado e Dissertações de Mestrado (nove no total). Monografias de especialização (três) e de graduação (doze).
Publicamos seis (6) artigos em Revistas Cientificas Nacionais. Levamos 12 trabalhos para Congressos científicos nacionais e, no ano passado, emplacamos três (3) artigos no Primeiro Congresso Internacional da Diversidade do Semiárido. Um desses trabalhos é outra conquista que eu, e algumas pessoas do Maranhão queremos: incluir ao menos 15 municípios maranhenses no semiárido. Já se vão 12 anos de batalha e ainda não conseguimos sensibilizar os Políticos Maranhenses. Não desistirei enquanto não ver isto acontecer.
Os nossos bolsistas (25 atualmente) publicaram, sob nossa orientação (minha e da Professora que faz parte do LabSar) em eventos como encontros Universitários, congressos regionais, ao menos 40 trabalhos nestes três anos.
Estamos apenas começando…
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*Professor Titular e Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará.