José Lemos
Ano passado, e no começo deste ano, eu ousei fazer algumas sugestões para serem discutidas visando prover um mínimo de ordenamento ao caótico trânsito de São Luis. Como deixei claro nas intervenções, eu não sou especialista na área de engenharia de tráfego, mas apenas observador de situações em outras partes do mundo, em cidades bem mais populosas do que a nossa Capital em que a mobilidade urbana tem fluidez. Ousei fazer, naquela oportunidade, como o faço agora, porque sou maranhense e, embora não vivendo na minha querida cidade, estou sempre por aqui, e aqui vivi a fase mais importante da minha formação que me preparou para encarar o mundo. Eu queria que os leitores fizessem a avaliação das minhas sugestões neste contexto. Não se tratam de proposições acabadas, mas idéias que eu submeti e submeto para a reflexão de todos.
As sugestões que eu fazia tinham três dimensões temporais: para o curto, médio e longo prazo. Mas elas precisam começar. Quanto antes iniciarem, melhor será para a população da cidade. A esta altura, tanto quem se desloca nos seus carros próprios, ou aqueles que não tendo carro próprio, precisam de transporte coletivo, sofrem com o caótico trânsito da nossa cidade. Portanto, o problema é de todos: ricos, classe média e os pobres.
Na semana passada o Prefeito de Fortaleza, que é médico, estudou nos Estados Unidos, e também sabe como funciona bem o trânsito na maioria das cidades daquele País, convocou a imprensa de Fortaleza para anunciar medidas de curto prazo para equacionar o congestionado trânsito de Fortaleza. A sugestão que ele deu maior ênfase, na essência, é muito parecida com a que fiz para melhorar o trânsito de São Luís no curto prazo, com algumas diferenças. O Prefeito anunciou que duas das principais avenidas de Fortaleza, cada uma com seis pistas de rolamentos que ligam o centro da cidade à Praia do Futuro, que fluem nos dois sentidos, terão sentido único. Ele chamou a intervenção de “trafego binário” nas Avenidas Santos Dumont e Dom Luis, duas das mais congestionadas desta cidade, em qualquer hora do dia ou parte da noite. A partir do dia 31 de maio deste ano, cada uma delas terá um único sentido. Uma fluirá apenas da Praia do Futuro para o Centro e a outra no sentido Centro-Praia do Futuro. Todas as rotatórias serão eliminadas e transformadas em esquinas com semáforos. Na proposta do Prefeito há algumas intervenções que eu não concordo. Os canteiros centrais, que atualmente dividem as avenidas ao meio, serão eliminados, para que as avenidas tenham, em vez de seis, sete pistas. Mas uma parte dessas pistas será destinada às ciclovias. Haverá faixas exclusivas para ônibus, no que também discordo, pois acho que os transportes coletivos precisam muito mais do que faixas exclusivas. O Prefeito anunciou que aquela intervenção será “piloto” para, a partir dos erros e acertos, a experiência se estender para outras avenidas de Fortaleza.
As minhas sugestões para São Luis, feitas naquelas ocasiões e replicadas agora com esta motivação adicional, tinham três etapas. No curto prazo, fazer com que o transito na Av. Guajajaras tivesse sentido único Aeroporto-Centro da cidade. O fluxo no sentido Centro-Aeroporto seria feito por dois corredores: Os da Av. João Pessoa, e o da Av. dos Africanos, passando pela Rodoviária de São Luis. Todas as rotatórias sendo eliminadas e transformadas em cruzamentos com semáforos. As pistas da direita seriam restritas aos transportes coletivos: ônibus, táxis e vans, devidamente credenciadas pela Prefeitura. Nesta pista também circulariam as motocicletas. As pistas da esquerda ficariam destinadas aos carros particulares. Caminhões seriam proibidos de circular por essas áreas entre sete da manhã e oito da noite. Os canteiros centrais das avenidas, como eu imagino, não deveriam ser demolidos, mas transformados em ciclovias. Neste caso, ao contrário dos ciclistas de Fortaleza que transitarão em faixas tênues que apenas são delimitadas por marcação feita com tinta, em São Luis teria o obstáculo natural das calçadas ou meios-fios como proteção.
No médio prazo, o projeto piloto seria espraiado por outras vias de São Luis. Para o longo prazo, mas começando logo, seriam implantados os veículos leves sobre trilhos (VLT). Na minha cabeça, talvez impregnada de saudosismo dos tempos de criança e de adolescente, o melhor percurso seria por onde transitava o antigo trem da RFFESA, pela Estrada da Vitória. Seriam construídas estações em pontos estratégicos que seriam interligadas aos pontos de ônibus. A Prefeitura liberaria mais licenças para táxis e vans. Isso aumentaria os empregos para motoristas, cobradores e a oferta de transporte coletivo. No centro de São Luis poderia ser resgatado o Bonde, com roupagem mais moderna, como acontece em cidades da Europa. Circulariam no trajeto de antigamente, passando em frente ao Cemitério do Gavião, descendo a Rua do Passeio, indo para a Praça João Lisboa e seguindo na direção do Portinho. Outra linha de bonde a resgatar seria aquela que passava em frente ao Mercado Central. São Luis ofereceria momentos lúdicos para a sua população e seria uma cidade mais atraente para turistas. Será que ao menos daria para pensar em alternativas assim? Tudo isso deve ser debatido amplamente com a população. Dá para sonhar com a minha cidade assim? Fica lançado o desafio para o Prefeito e a sua Equipe.
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*Texto publicado em O Imparcial do dia 15/03/2014 e no Jornal Pequeno do dia 16/03/2014