José Lemos
No Hemisfério Norte o Outono começa entre os dias 20 e 23 de setembro e se encerra entre 20 e 23 de dezembro de cada ano. Naquele Hemisfério a estação também se caracteriza pela queda das folhas e das frutas que amadurecem intensamente nesse período. Por isso a estação também é conhecida como “Fall” (queda). Os dias ficam mais curtos e o frio começa a se manifestar mais intensamente devido à aproximação do inverno. Talvez por essa razão as poesias associem à essa estação situações de melancolia. Deve ser essa a origem da expressão “outono da vida”, que significa proximidade do fim do nosso contrato como inquilinos efêmeros deste Planeta Azul.
Em contraste, aqui no Hemisfério Sul, esse período é o da Primavera. A estação mais bonita do ano, em ambos os Hemisférios. Outubro, portanto, é o segundo mês desta estação que, ao contrário daquela, inspira romantismo nas poesias. Nela há explosão de diferentes tonalidades de cores. Manifestações intensas de vida, enfim!
No mês de Outubro, em Belém do Pará as tonalidades Branca e Azul ficam em destaque, com o sentimento de religiosidade dos católicos que a expressam reunidos na Multidão que segue o Círio de Nazaré. Participam da Procissão, ou a reverenciam nas sacadas das suas casas e apartamentos. Uma festa que mexe com toda a população dessa bela e acolhedora cidade, independentemente da religião. Impossível é ficar indiferente ao que acontece em Belém em dias como o próximo 13 de outubro.
Círio de Nazaré que também acontece nesse mesmo dia, na nossa cidade, São Luis, percorrendo partes de dois populosos Bairros: Cohatrac e Cohab. Ali, outro aglomerado de gente também segue a Procissão homenageando a Virgem de Nazaré.
São Luis, que nesta época do ano tem o Céu mais azul. Quando eu era garoto, à tonalidade azul do céu, se misturavam as dos “papagaios” (“pipas”) que empinávamos e fazíamos as “lanceadas”. Nuvens esparsas às vezes ameaçam e provocam pequenos “chuviscos”. Ainda que a nossa cidade padeça com a falta de arborização, há lugares bonitos onde ainda podemos encontrar muito verde.
Em outubro é safra da nossa Juçara (Açaí, fora do Maranhão). Em Maracanã, bairro carente que era famoso na época em que havia o trem que ligava Teresina a São Luis por ser a penúltima estação antes de chegar à última localizada no centro da cidade, voltou a ter evidencia por causa da “Festa da Juçara” em outubro. Juçara que empresta a sua cor roxa, para a aquarela que prevalece na nossa cidade nesta época do ano. Em Maracanã, ou fora dali, nos deliciamos com fartas tigeladas de Juçara “grossa” (suco mais consistente). Que ficam ainda mais deliciosas se tomadas com uma boa farinha d’água e com alguns punhados de camarão seco. Do mar. Nada de camarão criado em cativeiro. Deliciamos-nos até ficarmos com os dentes arroxeados e o “buxo cheio”.
Aqui no Sertão Semiárido, o lindo azul do Céu sem nuvens, contrasta com o cinzento que prevalece na Caatinga. Os dias começam mais cedo. Cinco da manhã e o Sol já aparece, “vindo do Oriente”, sem muito “entusiasmo”, porque lá está no Outono. “Vaidoso” como é, não conseguiu mostrar toda a sua nudez, tom amarelo birlhante, e calor para aquela gente bonita do olho amendoado. Chega feliz, porque “sabe” que entre nós o seu esplendoroso “striptease”, carregado de energias, será festejado em plenitude, haja vista nos trazer a certeza do renascimento em um novo dia que começa.
Por isso, durante os dias as temperaturas por aqui são bem elevadas. As chuvas ficaram para trás desde o fim de maio. A esperança é que voltem intensas depois do Natal. Às noites, o clima fica bem mais ameno. Há lugares que precisamos de roupa mais “pesada” para as noites, porque as temperaturas ficam muito baixas.
Contrastando com a tonalidade cinzenta da Caatinga e o azul do céu sem nuvens, aparecem os pseudofrutos que mexem com os nossos sentidos: olfato, pelo aroma único; visão, devido aos tons amarelos e vermelhos; e um sabor inconfundível. É o caju.
A safra do caju que começa em meados de setembro e tem o seu pique em outubro e novembro, emerge numa época em que praticamente não há clima (literalmente) para o cultivo de vegetais e para a criação de animais. A sabedoria da natureza nos doa essa árvore que tem uma fisiologia que a permite produzir sob condições bastante adversas. Por isso os cajueiros proporcionam ocupação e renda para sertanejos que têm vida difícil, mas sempre esperançosa, também nesta estação do ano.
Em outubro de 1990 a “Fundação Susan G. Komen” distribuiu laços cor-de-rosa entre os participantes da “Primeira Corrida pela Cura do Câncer de Mama”. A partir daquela data o mundo adotou o “Outubro Rosa” como simbologia para prevenir o Câncer de Mama. No Brasil a campanha começou em 2002.
Câncer de mama pode provocar óbito, ou deixar sequelas que afetam as vidas posteriores de mulheres que passarem por uma cirurgia invasiva que as podem mutilar física e psicologicamente. As mutilações e as mortes podem ser evitadas se a doença for detectada nos seus primórdios. E isso é possível fazendo a prevenção. Bem vinda a Tonalidade Rosa à Primavera Brasileira de tantas cores para que, ancorados nela, incentivemos as nossas Mães, Esposas, Filhas, Conhecidas a fazerem a prevenção. Caso ainda não a tenham feito, este mês de Outubro Rosa é bom motivo para começar.
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Texto publicado no dia 5 de outubro de 2019.