José Lemos*
Novo ano, projetos renovados, promessas refeitas de rever equívocos do passado, de corrigir o roteiro da vida. Quem sabe aquele tão prometido regime para perder alguns quilinhos? Ou mesmo começar alguma atividade física porque o corpo dá sinais de está ficando “travado”? Além disso, existem os projetos para avançar profissionalmente. Conquista do primeiro emprego para muitos jovens. Buscar aquela tão sonhada promoção, que além de incrementar a conta bancária, trará satisfações para aqueles já ocupados. Fazer coisas novas, diferentes, mais excitantes. Repensar a vida afetiva. Finalmente realizar aquele sonho acalentado a tanto tempo de ficar em definitivo com a pessoa amada. Aquela que, por alguma razão, não chegou no momento que seria menos traumático para tomar a decisão, mas que está ali, ao alcance.
Mas uma das características desta fase do ano que nós cristãos vivenciamos com o Natal e depois a virada do ano é a construção de esperanças. Ter esperança não é a mesma coisa de esperar. Ter esperança implica em ação proativa, buscar conquistas, como aquelas que eu descrevi no parágrafo anterior deste texto. Leva-nos a agir como protagonistas da nossa história. Fustigamos o que queremos. Esperança é tão forte que ganhou significação nas ciências estatísticas. Valor esperado significa média. Esperança de vida ao nascer é o tempo médio de vida que cada um de nós tem ao nascer. Nos locais muito pobres as taxas de mortalidade infantil são elevadas, porque há falta de saneamento, de água tratada, de coleta de lixo. Há promiscuidade em fim, e falta de comida. Morrem mais crianças nessas localidades por diarreia e por desnutrição. Em decorrência a esperança de vida é menor nesses locais do que naqueles em que não há essas carências. Estados que negligenciam nestes itens, tem esperanças baixas de vida.
Ao longo das nossas vidas estamos sujeitos à ocorrência de muitos eventos ou situações. Cada um deles tem uma probabilidade. Podemos incrementar esta probabilidade pelas nossas atitudes. Assim, se desejarmos alcançar um futuro promissor, devemos investir boa parte do nosso tempo buscando o saber. Mais educados teremos uma esperança de renda maior no futuro. Assim, o Estado, entendido no sentido lato (Federal, Estadual e Municipal) tem papel fundamental neste direcionamento, provendo escolas de qualidade para crianças, adolescentes e jovens. Tendo hábitos salutares, como ficar distante do fumo, do álcool em excesso, de comida gordurosa, frituras, dos “fast foods”, e dos refrigerantes, reduzirá a probabilidade de termos problemas de saúde e assim aumenta a esperança de termos vida longa e saudável. Um dos nossos objetivos por aqui neste planeta. Devemos ter a consciência de que as nossas estradas somos nós que construiremos. As esperanças virão como conquistas.
Esperar é diferente. Implica numa situação passiva. Não buscar as conquistas e ficar aguardando que elas ocorram como obras do acaso ou por benesse de alguém “bonzinho”. Boa parte dos brasileiros sobrevive de transferências governamentais na forma de Bolsas Família. E observa-se que governadores de estados pobres copiam o que faz o Governo Federal. Criam estruturas com status de Secretarias para viabilizar que mais pessoas acessem a esse programa. Ou seja, na cabeça desses governantes, que inclusive se designam populares, a manutenção de multidões na espera de benesses, decorrentes da produção de outros, é bem mais confortável e cômoda do que prover-lhes educação para construírem esperanças. Mantê-los como expectadores (na espera) requer menos esforço e talento de governantes do que criar instrumentos com que as pessoas construam o seu destino, elevando-lhes as esperanças das conquistas. Governantes com este pensamento, infelizmente a maioria dos que acabam de tomar posse, devidamente inspirados na Presidente (e que inspiração!) partem do fundamento, incorreto, de que o dinheiro que forma os orçamentos federal, estaduais e municipais é público. Não é. Ele apenas é possível porque existe um grupo (cada vez menor no Brasil, face à estagnação do PIB imposta por esta mentalidade) que trabalha e paga escorchantes impostos diretos e indiretos. O resultado dessa crença de que deixar cidadãos esperando, em vez de fazê-los ter esperança, é a estagnação econômica, a degeneração social e a degradação ambiental. Este é o caminho para onde estão nos levando. Criando uma massa inerte que espera indefinidamente depósitos de migalhas em suas contas bancárias abertas apenas para este objetivo, jamais para a entrada de pagamentos decorrentes do seu trabalho. Gente que nunca será cidadã. Será massa de manobras desses que lhe parecem benevolentes. Retribuem-lhes a “gentileza”, feita com o dinheiro recolhido do nosso suado trabalho, lhe provendo mais poderes, via voto vendido ao preço do valor da Bolsa, que serão compensados com mais gente recebendo as tais bolsas. E o ciclo no Brasil promete continuar. Para isso existem as Secretarias Estaduais e um Ministério no Brasil com esta finalidade. Haverá um momento em que esta ciranda não mais poderá prosseguir devido “à fadiga” da máquina produtiva.
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 3-01-2015