José Reinaldo*
O fato de termos mais de 50% das famílias maranhenses dependentes do Bolsa Família para viverem, incomoda muito aqueles que, como eu, querem um Maranhão próspero, com menos pobreza e menos desigualdade. O problema maior é a constatação de que entra governo e sai governo e essa realidade continua a nos desafiar, persistente, constante, como se esse fosse o nosso destino, o de sermos um estado pobre, com maioria de famílias muito carentes.
Seria isso por culpa de um grupo político, como nos habituamos a ouvir? Ou isso apenas quer nos isentar de culpa, e aí jogamos a culpa no vizinho, e assim vai ficando tudo como está? Mas, como continuar a colocar a culpa em um ou outro, se nos últimos anos, já tivemos uma diversidade maior de grupos políticos no governo do estado? E a situação continua imutável, a nos desafiar, evidenciando que a culpa é de todos nós por não termos elaborado, durante todo esse tempo, um plano de desenvolvimento de Estado, olhem bem, não de governo, mas de estado, que corrigisse as causas de nossa pobreza na origem, nos mostrando o caminho, e que todos os governantes jurariam dar continuidade quando na Assembleia prestassem seu juramento de posse?
Eu tentei de tudo quando era governador, com uma equipe extremamente qualificada no governo, muito forte na área social, contando, entre outros, com o professor Lemos e também com Luís Fernando, nós conseguimos colocar o ensino médio em todos os municípios, investimos fortemente na agricultura familiar, só o PRONAF emprestou 400 milhões de reais para a agricultores familiares, o PRODIM, com recursos do Banco Mundial, financiou dezenas de projetos de organizações comunitárias, entregamos milhares de casas em que os proprietários nada precisavam pagar, dávamos material de construção para que as famílias reformassem suas casas de taipa e palha, colocamos centenas de sistemas de ‘agua e de unidades domiciliares de esgoto, fizemos a Universidade Virtual e dezenas de Centros Tecnológicos, o ensino médio também podia ser profissionalizante, Saúde na Escola, bolsa Atleta-fomos pioneiros no Brasil- além de muitos outros benefícios sociais e com isso conseguimos melhorar alguns indicadores básicos, como o IDH, mas o fato é que não houve a mudança necessária, não houve continuidade dessas ações, muitas não prosseguiram e o resultado é esse, persistente e terrível que leva a permanência da pobreza retratado pelas mais de 50% das famílias dependentes do Bolsa Família para viverem.
Eu tenho um plano nascido da minha experiência como governador e político, de horas de conversas sobre o tema da pobreza com especialistas, da leitura de experiências bem sucedidas no mundo, de que independente dos benefícios e investimentos que pudermos trazer para cá, – a refinaria virá neste ano e o ITA começará a funcionar neste ano- estou convicto de que se não resolvermos o problema na origem, se não cuidarmos das novas gerações, se não atuarmos nas bases formadoras da nossa pobreza, seremos sempre um estado de PIB alto, mas extremamente desigual e pobre, com a maioria das nossas famílias muito pobre.
É fácil ver que os nossos piores indicadores sociais estão na área rural. Lá se encontra o povo mais desassistido, com educação precária, senão precaríssima, sem formação para o emprego e sem emprego e por isso mesmo pobres. Muitos ali parecem viver de aposentadorias rurais, e de benefícios do governo. É o que movimenta essa precária economia.
As mães com muitos filhos, não tem assistência de bons serviços do governo, nem nas coisas básicas com saúde e educação. Não são assistidas nem no pré-natal, momento delicado de toda a mulher, nem recebem orientação, e assim abandonam colégios e empregos virando infelizmente elos da corrente da pobreza. O mesmo acontece com os meninos, forçados, muitas vezes pelos próprios pais a largarem o estudo para lutarem pela sobrevivência. Estou convencido de que se não rompermos isso e não atacarmos esses problemas no nascedouro, nós vamos ficar eternamente a nos atacar, uns aos outros, culpando os adversários pelas mazelas formadoras de nossa pobreza. Que se prolongarão.
Como o problema é parecido, mas em escalas de gravidade variável, em todo o norte e nordeste, vou propor ao governo federal que crie um programa social e de desenvolvimento dessas regiões, baseado na assistência as mulheres desde o pré-natal e as suas crianças, do zero ano até os sete anos, anos fundamentais para a formação dessas crianças, idade onde os cérebros estão em formação, oferecendo, tanto as mães como as crianças educação da melhor qualidade, preparando as novas gerações para a vida. O objetivo é dar a essas crianças a mesma educação que está ao alcance das crianças de famílias mais abastadas financeiramente, para que elas cheguem ao ensino formal fundamental, sabendo ler, sabendo interpretar textos, sabendo resolver questões básicas de matemática, crianças seguras e confiantes, que assim terão condições de vislumbrarem um futuro melhor que os afastará da violência, de uma gravidez precoce, e prontas a ir adiante na vida.
Preparando assim as novas gerações e melhorando a vida dessas famílias com a educação das mães, estaremos preparando as futuras gerações o que sem dúvidas mudará o Maranhão, definitivamente.
Isso se daria em locais construídos e preparados especificamente para essa tarefa, com profissionais multidisciplinares, de formação superior, especialistas, e nesses locais teríamos a assistência as mães, educação infantil, assistência de saúde, completa, e analise constante dos resultados.
Para isso não faltariam recursos inclusive de Fundações internacionais, afinal quem não gostaria de colocar a sua marca em um projeto que busca eliminar a pobreza formando novas gerações de jovens?
Isso tudo se daria em estabelecimentos que serão chamados de Centros de Avanço Social. Estamos preparando esses projetos, detalhando-os com especialistas e debatendo essa ideia, tentando aprimorá-la ao máximo.
Vamos em frente.
============================================
*Ex-Governador do Maranhão (2003/2006) Deputado Federal. Texto para o Jornal Pequeno do dia 20/02/2018.