José Lemos
Se há um tema que pessoas de qualquer linha ideológica convergem: é o que se refere a uma distribuição mais equitativa de renda entre as populações. Centro, Esquerda, direita, moderados ou extremistas, em termos de concepção ideológica, acham que deve ser feito algo para que todos tenham uma participação equiprovável na apropriação da riqueza gerada nas atividades econômicas do País. Um consenso.
Na época do regime militar, o Ministro Delfim Neto, a quem atribuem a ideia “genial” de sugerir para a Dilma ir para o Congresso na sua abertura de trabalhos deste ano e receber aquelas sonoras vaias (mui amigo!), dizia que a riqueza precisava ser distribuída, mas o bolo precisava crescer primeiro. Quando do “milagre econômico brasileiro” a riqueza do Brasil crescia em ritmos chineses de hoje, mas a grande maioria dos brasileiros estava muito ruim. A renda era terrivelmente mal distribuída.
Depois vieram as crises que começaram em 1973 com a disparada dos preços do petróleo, via cartelização dos principais países produtores, que controlaram a oferta, promoveram subida nos seus preços, e provocaram um verdadeiro pandemônio na economia mundial. O Brasil, que naquela época importava em torno de setenta por cento do petróleo que lhe movia, literalmente, a economia, foi um dos países que mais experimentou dificuldades. Nos períodos de crises, os pobres são os primeiros a serem atingidos, e a apropriação da renda se torna ainda mais desigual, porque os agentes econômicos que dominam os seus mecanismos geradores se articulam, inclusive politicamente, para sentirem menos os abalos da conjuntura desfavorável.
Os trabalhadores em geral, e os menos qualificados em particular, sofrem com o desemprego provocado pelas crises cíclicas da economia, através do achatamento salarial provocado pela rotação da força de trabalho que lhes torna mais vulneráveis diante dos patrões. A vulnerabilidade salarial, do emprego e das condições de trabalho se exacerba proporcionalmente ao tamanho da “fila” dos desempregados.
Nos ciclos das atividades econômicas os pobres são os primeiros a entrarem em dificuldades nas crises, e os últimos a serem contemplados com as benesses do crescimento da riqueza na bonança. Uma verdade que é mais cruel em economias desesperadamente carentes (de tudo) como a brasileira.
A dificuldade, ou incompetência, de governos como este que aí está, que fala o tempo inteiro em reduzir desigualdades está justamente em não adentrar na essência das sua causas. Nós Nordestinos, que representamos aproximadamente 30% da população brasileira, desde os regimes militares, passando por Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e agora essa Senhora nos atormentando e ameaçando ficar também por oito anos, sempre detivemos em torno de 13% da riqueza do País. Nos períodos de crescimento ou nos de crise. Não conseguimos passar disso. O Sudeste, (leia-se São Paulo e Rio de Janeiro), detém, historicamente, em torno da metade do PIB nacional.
Quais seriam os fatores causadores? Será porque Cariocas e Paulistas são mais bonitos do que nós, que temos o sofrimento como marca e nos deixa normalmente com um visual nem tão atraente assim? A diferença fundamental não está no visual, embora ele possa contribuir ao nos incutir alguma falta de autoestima. Está sim na qualidade da nossa força de trabalho. A escolaridade média dos estados mais ricos é bem maior do que a dos estados mais pobres. A taxa de analfabetismo nossa, nordestinos, é a maior do País. Dos 13,17milhões de brasileiros analfabetos maiores de 15 anos que existam no Brasil em 2014, segundo nos informa a PNAD daquele ano, 7,12 milhões (54%) estavam no Nordeste. No Brasil, em geral, a renda é muito baixa, e ficará mais baixa agora depois dessa aventura de treze anos de irresponsabilidades administrativas e corrupções que passaram a fazer parte do nosso cotidiano politico-policial. O fosso entre ricos e pobres ficará ainda maior, condimentado que será por uma inflação de dois dígitos, que sempre penaliza os mais pobres. Em vez de acenar com credibilidade para aqueles que produzem riqueza num regime de economia de mercado (trabalhadores e empresários), governos incompetentes os ameaçam com mais impostos e, com isso, com mais desestimulo à formação de riqueza. Os pobres sempre serão os mais penalizados com medidas assim. Sobretudo se detiverem indicadores de educação como estes que temos no Brasil e na sua região mais carente. A lição que essa gente nunca aprenderá é que não se muda estrutura de apropriação da renda e da riqueza com voluntarismos, discursos populistas, frases de efeito, distribuindo bolsas qualquer coisa, estabelecendo cotas em universidades, admitindo que existam brasileiros que somente conseguirão adentrar ali se tiverem um “empurrãozinho”. Faz-se isso com educação de qualidade em todos os níveis. Pobres, negros ou brancos, em boas escolas, competirão em igualdade de condições com ricos de qualquer raça. A (artigo definido) única forma de transferir renda para os pobres é lhes provendo educação de qualidade. ===========
*Artigo publicado em O Imparcial do dia 6/02/2016.