José Lemos
Sinergia é uma palavra de origem grega (synergia) que, em síntese, significa cooperação. Sinergia é o momento em que o todo é maior do que a soma das partes. Alguns sinônimos de sinergia são: coesão, união ou entendimento. Os meus leitores já “sacaram” que a proposta deste texto, é tentar demonstrar que havendo deseducação, fatalmente haverá pobreza. As duas caminham sinergicamente.
Para tentar mostrar essa conexão, vou buscar um trabalho seminal de 1962 elaborado pelo Economista Theodore Schultz. Nesse trabalho está o arcabouço da teoria do capital humano. Essa teoria sugere que educação eleva a produtividade dos trabalhadores, provendo-lhes habilidades que se traduzirão em maiores rendas.
A teoria é constantemente utilizada para explicar diferencial de rendas nas ocupações dos trabalhadores. Em termos gerais, é expressa como a habilidade da força de trabalho em ler, escrever e dispor de treinamentos específicos e elaborados. Mais treinada a força de trabalho, mas chance terá de ter obter melhor remuneração.
Segue-se que quando a força de trabalho é deseducada, não terá habilidades para desenvolver atividades mais complexas, terá baixa produtividade, o que fará com que tenha também baixa renda e, como decorrência, será pobre. O circuito que leva ao empobrecimento terá a deseducação como vetor importante.
Para jogar luz sobre pistas acerca dessa sinergia entre deseducação e pobreza, busquei alguns exemplos, em termos de desenvolvimento humano, de países que estão no topo do ranking das Nações Unidas e alguns daqueles que estão nas piores posições.
Tomando o ranking de desenvolvimento humano, aferido pelo índice de desenvolvimento humano (IDH) para o ano de 2017, observamos que Noruega, Austrália, Suíça, Alemanha e Dinamarca são os países de melhor qualidade de vida do mundo. Tanto que, nesta ordem, lideram aquele ranking. Neles o PIB per capita anual varia de US$ 42.822,00 na Austrália a US$ 67.614,00 anuais na Noruega. O PIB per capita é uma boa aproximação da renda da população de um aglomerado humano. O que chama atenção nesses países é a escolaridade média das respectivas populações maiores de dez anos, que varia de 12,7 anos na Dinamarca a 13,4 anos na Suíça.
Na parte inferior do ranking de qualidade de vida estão, nesta ordem: República Central Africana, Niger, Chad, Burkina Faso e Burundi. São os cinco Países mais pobres do Planeta. Estão da 188ª à 184ª posição nesse ranking, respectivamente. O PIB per capita desses Países varia de miseráveis US$ 587,00 anuais na República Central Africana a US$ 1.991 anuais, no Chad. A escolaridade média varia de 1,4 anos em Burkina Faso a 4,2 anos na República Central Africana.
Nesse ranking das Nações Unidas o Brasil ocupa a desconfortável e humilhante 79ª posição, com PIB per capita anual de apenas US$ 14.145,00, extremamente mal distribuído, como sabemos. A escolaridade média dos brasileiros é de apenas 9 anos.
Os quatro estados mais pobres do Brasil são, nesta ordem: Maranhão, Piauí, Alagoas e Paraíba. Para esses estados se estima para 2017 um PIB per capita que varia de US$4.558,02 no Maranhão (o menor do Brasil) a US$5.736,13 anuais na Paraíba. Maranhão, Piauí e Alagoas detém a as menores escolaridades médias do Brasil (6,5 anos). A Paraíba tem escolaridade de 7,1 anos.
O PIB per capita anual do Maranhão é menor do que o de Myanmar (US$ 4,943,00) um dos países mais pobres do planeta, situado na Ásia, e que ocupa a 145ª posição em termos de IDH em 2017. A escolaridade média do Maranhão é menor do que a de Vanuatu (6,8 anos), outro país extremamente pobre situado na Oceania e que ocupa a 134ª posição na hierarquia de qualidade de vida elaborado pela ONU em 2017.
No Maranhão a situação consegue ser ainda mais grave porque em apenas 10 municípios o PIB per capita é superior a essa média. Esses municípios fazem parte do MATOPIBA, uma reunião de municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, aonde se desenvolvem atividades agrícolas intensivas no uso de tecnologias de ponta que viabilizam elevadas produtividades das terras e dos trabalhadores envolvidos nas atividades. Esses dez municípios mais dinâmicos se situam no Sul do Maranhão. O seu dinamismo independe das ações do estado que ali os produtores querem apenas que não atrapalhe, por exemplo, cuidando das estradas de escoamento da produção.
A grande tragédia do nosso Estado é a deseducação, como se viu no texto. Neste ano de eleição é bom ficarmos atentos aos candidatos para as casas legislativas estadual e federal, bem como para aqueles do poder executivo. Cobrar de todos o compromisso com a agenda da educação. E não adianta apenas promessas de quem já demonstrou não ser capaz de colocar o nosso estado, ainda tão rico em riquezas naturais, na rota do progresso. Vamos observar o passado de todos eles e votar naqueles que efetivamente mostraram compromissos com essa agenda e que já demonstram, com ações concretas, capacidade de incrementá-la. Chega de promessas que nunca são cumpridas.
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Texto para o dia 11/08/2018.