Jose Lemos*
O mês de outubro é rico em motivações e de inspiração para os não jornalistas, como eu que, de forma voluntária e despretensiosa, se aventuram por esse caminho a um só tempo fascinante e desafiador: o de articulista de um jornal como O Imparcial.
Militante assumido e estudioso voluntário, embora não sendo profissional da área de saúde, das causas de todos os tipos de cânceres, em especial os de próstata e de mama, este mês eu comecei com o texto “Outubro Rosa”. O fiz mais como alerta para a prevenção, em função do meu histórico de vida com a proximidade com esses dois terríveis tipos de doenças, do que com qualquer pretensão de emitir proposta de ações efetivas. Essas devem ficar ao encargo dos profissionais abnegados dessas áreas.
Quinta-feira, dia 12 de outubro, se comemorou o dia da Padroeira de um País ainda majoritariamente católico. Os que professam outras religiões, sobretudo os funcionários públicos, gostam do feriado, embora discordem da religião. Faz parte do portfólio de contradições inerente aos seres humanos. Neste mesmo dia, comemoramos o dia das crianças. Esses seres que vem sendo bombardeados com irresponsabilidades midiáticas que tentam confundir as suas cabecinhas, numa época em que querem apenas brincar e serem protegidas pelos seus pais e pessoas que lhes amam. Não estão preocupadas com ideologias, quaisquer que sejam. Querem apenas se sentir seguras.
Em outubro, no dia 15, reservam-se as reverências aos Professores. Qualquer que seja a nossa profissão, da mais humilde à mais sofisticada, dependemos dos Professores que fizeram de tudo que estava ao seu alcance para que nós apreendêssemos, avançássemos e tivéssemos condições de lutar por um futuro melhor.
Na infância, normalmente, prevalecem as professoras. Aquelas mulheres, muitas vezes ainda bem jovens, outras nem tanto, mas todas tendo em comum a vontade de encaminhar as crianças nos primeiros caminhos do saber, mas que nem sempre tem o reconhecimento do seu trabalho por parte dos pais das crianças que orientam.
Na adolescência, quando começamos a definir o que queremos fazer no futuro, estão lá os Professores e as Professoras nos ensinando Ciências, Português, Matemática, línguas estrangeiras, nos preparando para encarar a vida adulta que está bem na frente.
Na Universidade a lide do Professor é mais suave. O Professor estará diante de jovens que passaram por todas as etapas anteriores. Conheceram e tiveram bons professores na sua trajetória. Portanto, são pessoas que já tem uma definição. Caberá aos Professores, dessa etapa, lapidá-los para que possam sair bem preparados para encarar a profissão que escolheram.
É certo que, da forma com que se faz a seleção agora, os estudantes podem chegar a um curso universitário que não foi aquele que desejou. O ENEM tem esta enorme inconveniência. As linhas de corte da sua seleção fazem com que os estudantes mais preparados migrem para os cursos de maiores demandas. E a concorrência nesses cursos é feita por estudantes das melhores escolas particulares, onde estudam os jovens de famílias melhor posicionadas na pirâmide de renda. Sobram para os cursos de menores demandas os estudantes que não lograram nota suficiente para conquistarem vagas naqueles cursos e em Universidades de mais prestigio. Assim, esses cursos de menores demandas e as Universidades de menor prestígio, tem uma chance enorme de assim permanecerem indefinidamente, elitizando mais ainda um sistema já elitizado.
Esta é apenas uma, dentre muitas, distorções do desastroso sistema de ensino brasileiro. Sobrará para os Professores em sala de aula trabalhar com estudantes desmotivados, que estão fazendo um curso que não era aquele que desejavam. Isso é muito mais frequente atualmente nas Universidades Públicas do que imaginamos. Tanto que os percentuais de evasões e de repetências são enormes.
Ser Professor é bem mais que uma profissão. É sacerdócio. É missão. Uma bela rima. O Professor jamais deixa de ser estudante. Passa a vida se atualizando, fazendo pesquisas para não ser um mero reprodutor do que está nos livros textos.
Eu digo aos meus estudantes que, se eu não fosse Professor, eu seria Professor. É gratificante eu saber que um ex-estudante está deslanchando. Fico com uma sensação de dever cumprido. Mas também sofro quando sei daqueles que não conseguiram avançar. Nesses casos eu me penitencio por não ter sido suficientemente competente para tê-los ajudado quando estiveram na condição de meus estudantes e que eu podia ter feito algo.
Os nossos estudantes passam por nossas vidas. Na minha já foram muitos. Esta é a parte dolorosa da profissão. Quando nos afeiçoamos a eles, se vão, seguem os seus caminhos. A compensação é que chegam outros. Uma constante rotatividade que eu não quero imaginar como será quando ela tiver que ser brecada… Por minha causa…
Ser tratado como Professor me faz um enorme bem. Por isso eu quero congratular-me com todos os colegas de profissão. Desde os que lecionam nas creches, aos que o fazem nos colégios, e aos Professores Universitários. Tomara que aqueles que decidem no Brasil reconheçam a nossa função e importância, e isso se traduza num efetivo compromisso com educação de qualidade em todas as fases. O único programa social que reduz e pode eliminar todas as desigualdades. Além de ser libertador.
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*Professor Titular, Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará. Artigo publicado no O Imparcial do dia 14/10/2017.
1 Comentário
Parabéns por seu sacerdócio exercido sempre com uma qualidade exponencial!