José Lemos*
Albert Einstein revolucionou o mundo científico quando em 1905 disse, de forma conclusiva, que o tempo e o espaço são relativos e estão em constante inter-relação sinérgica. Algo que parecia complicado para o entendimento humano de então, mas que pode ser perfeitamente inteligível se paramos para fazer algumas reflexões. Por exemplo, dentro de um avião voando a uma velocidade de 800 quilômetros por hora, estando sentados em uma das poltronas, estaremos parados em relação ao aparelho, mas não em relação ao que acontece lá fora. Caso nos levantemos para ir ao banheiro, e se o banheiro estiver localizado na parte traseira do avião, estaremos andando para trás num móvel que se desloca àquela velocidade para frente. Parados, estamos todos em movimento devido à movimentação da terra. Relatividade em relação ao universo.
Ainda segundo a genialidade de Einsten, devido ao relativismo, o tempo pode passar de forma mais acelerada para alguns e menos para outros. Seria algo assim, numa interpretação minha: Em atividade o nosso tempo passa depressa. Ocioso, a sensação é de que o tempo não passa. Mas ele, o tempo, está passando igual para quem está em atividade ou não. O relativismo é que leva a este tipo de pensamento.
Quando somos crianças e adolescentes o tempo demora a passar porque queremos logo chegar à fase adulta para nos livrar das rédeas dos nossos país. Uma vontade incrível de encontrar o próprio caminho, ainda que estejamos fazendo de forma equivocada e os nossos pais nos sinalizem que seguindo por aquela trilha poderemos ter problemas. Mas como estamos no começo da vida e os nossos pais já estão um pouco mais à frente, avaliamos que eles tiveram as experiências próprias e não querem que nós tenhamos as nossas. Não nos lembramos de que os nossos pais foram criados pelos nossos avós que tinham, à nossa época de jovens, estas mesmas preocupações conosco. O relativismo se interpondo entre gerações conflitantes.
Sendo jovens, parece-nos que o amanhecer é algo que acontecerá indefinidamente nas nossas vidas. Então por que nos preocupar com algo trivial, e acordar cedo para contemplar a beleza do nascer de um novo dia? Adultos, maduros, aprendemos que o alvorecer é sempre um dia a mais na nossa vida que precisa ser vivido intensamente. Talvez porque saibamos que parte do nosso tempo já ficou para traz e o relativismo do que resta pela frente é incerto, aprendemos a observar mais estes espetáculos que a natureza nos proporciona gratuitamente a cada nova chegada do sol.
E saímos por aí. Mãos levantadas aos Céus, agradecendo pela dádiva, e pela ventura de contemplar mais uma aurora. Passamos a dedicar mais atenção ao cantar dos pássaros, igualmente felizes com os primeiros raios do sol. Olhamos para as superfícies das folhas das plantas que resistem à selva de pedras em que vivemos, para contemplar-lhes a beleza do orvalho que acumularam durante a noite, e que exibem orgulhosas e ansiosas por captarem a luz do sol que está vindo na sua direção para lhes fomentar a vida. Que é a nossa própria fonte primária de vida.
Assim a nossa trajetória vai seguindo o seu curso. Momentos de alegria. Instantes de tristeza. Períodos em que pensamos que havíamos chegado ao fundo do poço porque tivemos dificuldades de toda ordem, inclusive e, principalmente, de saúde. E aqueles de superação em que olhamos para trás e vislumbramos que não passaram de pesadelos de noites mal dormidas. As alternâncias que se seguem no curso das nossas vidas, mostram-nos que a teoria de Einstein se aplica perfeitamente à nossa breve trajetória por este belo planeta azul. São relativos os momentos de alegria e os de tristeza. De fartos sorrisos e de dores intensas. Podemos chorar devido ao sofrimento. Mas o pranto pode cobrir o nosso rosto, embaçar nossa visão e engasgar a nossa voz de felicidade. Nestes dias eu passei por esta ultima experiência.
Nos jactamos em ser os mais inteligentes, as mais perfeitas estruturas criadas pelo Pai. A nossa arrogância é inestimável. Religiosos, acreditamos que apenas nós, temos alma. Agimos como se os demais seres fossem apenas nossos coadjuvantes. Por isso, nos arrogamos ao direito de cometer-lhes atrocidades. Desenvolvemos uma relação de superioridade em relação a todos os demais seres que igualmente ocupam espaços nesta terra: animais, plantas, rios, mares… Acreditamos que podemos fazer com eles o que bem nos convier. Inclusive agimos assim em ralação a outros humanos.
Insistimos em não entender que o animal mais violento será incapaz de agredir ou matar outro animal se não for em defesa própria ou para alimentar-se, na faina pela vida. A relatividade das estruturas vitais. Existem predadores que desenvolvem todo tipo de estratégia para alcançar as presas que, por sua vez, criam os seus mecanismos de defesa e assim as populações seguem devidamente balanceadas, desde que nós, seres humanos – aqueles que são os mais inteligentes – não atrapalhemos. Agredimos os outros animais, as vegetações, os cursos d’água e, os nossos semelhantes. Chegamos a fazer isso em nome do amor, em razão de uma religião, de um dogma, de uma seita ou para conquistar poder. Relativa e definitivamente, os outros seres são bem mais inteligentes e menos “humanizados” do que nós.
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*Primeiro Texto escrito como Professor Titular. Publicado no O Imparcial do dia 13/06/2015 e no Jornal Pequeno do dia 14/06/2015.