José Lemos
Quem já teve o privilégio de morar nos Estados Unidos, participar do cotidiano da vida daquela Nação, sabe que quase tudo ali é feito para funcionar e para facilitar a vida dos cidadãos. Chegando-se a uma cidade como Los Angeles, pela primeira vez, a impressão que passa ao ver aquele complexo de elevados e viadutos, que mais parece um “sistema venoso” é que aquilo ali é um labirinto indecifrável. Nada mais enganoso. Quando se chega nas imediações é tudo muito bem sinalizado e com bastante antecedência. Mesmo que, ainda assim, o motorista erre o seu caminho, logo em seguida tem as saídas em que tudo pode ser recomeçado. Os semáforos são “inteligentes”, estão sempre abertos para onde o fluxo de transito é mais intenso. Não existem vias preferenciais. Num cruzamento sem semáforo, todos são obrigados a parar. Sairá primeiro quem chegou primeiro. Caso alguém tente burlar essa rega, o que é raro em se tratando de cidadãos americanos, cria-se um verdadeiro pandemônio. Não há veículos transitando em sentidos contrários na mesma via, a grande fonte de acidentes. As vias e avenidas são de mão única.
Estas reflexões me vieram à cabeça porque leio que a Prefeitura de São Luis está elaborando o seu plano plurianual (PPA) para os próximos quatro anos e, acertadamente, o Prefeito está convocando audiências públicas. Embora não morando em São Luis, mas sendo maranhense, com umbigo enterrado nessa terra, tenho compromissos com a cidade em que fui criança e adolescente e que me preparou para eu ganhar o mundo. Por esta razão é que resolvi fazer públicas algumas, dentre muitas, “reflexões que tenho feito nestes dias com os meus botões”. Desculpem se eu “viajar na maionese”.
Que São Luis tem uma miríade de problemas, não é novidade pra ninguém. Um dos maiores é, sem dúvida, o transito caótico. Então estive pensando em algumas alternativas que tem muito a ver com a minha estadia em países como Estados Unidos e Austrália. Países que tive a oportunidade de conhecer morando por algum tempo como estudante ou pesquisador. Estive imaginando. Por que não usar o esquema de vias com uma única direção em São Luis? As Avenidas Guajajaras e Getúlio Vargas, por exemplo, teriam todas as suas pistas com fluxo apenas na direção Aeroporto-Centro. Com as pistas do lado direito (em ambos os casos) exclusivamente para ônibus e táxis. No sentido Centro – Aeroporto, seria utilizada a Avenida dos Franceses, que passa em frente à Rodoviária, começando o fluxo na Avenida dos Africanos. Da mesma forma, todas as pistas do lado direito das demais avenidas seriam para os ônibus e táxis, e os automóveis particulares rodariam nas pistas à esquerda. Os caminhões (exceção dos de coleta de lixo) seriam proibidos de trafegar por essas vias entre as sete da manhã e às sete da noite.
A ponte de São Francisco teria sentido do Centro para as Praias, e a ponte Bandeira Tribuzi, teria sentido inverso. Com esta medida, aquele congestionamento que se forma na cabeceira das duas pontes, e no seu fluxo, com certeza desapareceria. Para ir para Ribamar, uma estrada muito perigosa, por causa do fluxo em duas direções contrárias, a ida seria apenas pela antiga estrada. A volta seria pela estrada que passa no Paço do Lumiar e sai na estrada da Maioba. Para eliminar aquele congestionamento horroroso que acontece todos os dias, em qualquer horário, no retorno da Forquilha, todos os carros que viessem pela estrada da Maioba teriam, obrigatoriamente, que desviar o fluxo e sair por dentro do Cohatrac. Nos bairros todas as vias teriam mão única. Uma rua segue na direção norte-sul ou leste-oeste e a rua ou avenida paralela, faz o fluxo de transito em sentido contrário.
Acredito que o redesenho do trafego dando prioridade efetiva para o transporte coletivo, não através de “corredores” que não resolvem o problema porque este reside no fato de existir concorrência na mesma pista de automóveis, ônibus e caminhões, deixando apenas os ônibus em uma das pistas, com certeza a velocidade de deslocamento aumentará. A Prefeitura poderia ampliar a frota de taxi, com a elevação da oferta de placas. A tarifa certamente baixaria, mesmo nos picos de demanda. Medida que reduziria os táxis clandestinos e empregaria mais motoristas As pessoas seriam encorajadas a deixarem os carros nas garagens e se deslocarem, de transporte coletivo ou de táxi, o que deve melhorar bastante a qualidade de vida, reduzindo o número de carros nas ruas andando devagar, consumindo muito combustível, emitindo mais gases tóxicos e provocando estresses e aborrecimentos em todos. A Prefeitura e o Governo do Estado poderiam encontrar instrumentos fiscais para dar estimulo aos empresários do setor de transporte urbano adquirirem aqueles ônibus “sanfonas” que carregam muita gente com conforto. Tendo transportes coletivos confortáveis e rápidos, os proprietários de carro seriam encorajados a deixarem os seus automóveis nas garagens das suas casas. Será que isso faz sentido? Ao menos eu coloquei pra fora parte do que estava guardado e me incomodando. Caso perceba que o texto tenha alguma ressonância, nas próximas semanas deixarei escapar mais algumas das reflexões solitárias que venho fazendo com os meus botões.
=============
*Publicado em O Imparcial no dia 13-07-2013