José Lemos**
No último dia 5 de junho, dia Internacional do Meio Ambiente, o Governador José Reinaldo Tavares lançou o plano de recuperação da mata ciliar do Rio Itapecuru. Aquele se constituiu num sonho antigo, não apenas das comunidades ribeirinhas que vivem às margens do rio, mas também da própria população maranhense, sobretudo a da capital que tem nas águas do rio Itapecuru a sua principal fonte de abastecimento. A verdade é que este rio, e praticamente todos os rios maranhenses, estão experimentando um processo de assoreamento, causado pela retirada da vegetação que brota às suas margens naturalmente. Essa retirada se deu por várias razões, inclusive por práticas de agricultura predatória exercidas por agricultores de diferentes portes. O objetivo deste texto não é apontar culpados, mas mostrar a saída que o atual Governo do Estado encontrou para recuperar a vegetação ciliar deste nosso principal rio. Esperamos que esta experiência pioneira possa servir de exemplo a ser seguido para todas as bacias hidrográficas maranhenses, sobretudo pela forma como está sendo desenvolvida.
O projeto em execução está sendo desenvolvido de forma piloto entre os municípios de Codó e Timbiras. Ali, de forma experimental, estão sendo recuperados inicialmente seis (6) hectares de mata ciliar. O projeto que está sendo executado com a participação ativa das comunidades ribeirinhas tem o seguinte desenho. A partir da margem do rio até uma extensão de 40 metros, a revegetação está sendo feita com espécies nativas da própria mata ciliar. A seguir, numa extensão de mais 20 metros, estão sendo plantadas fruteiras de diferentes portes. Nas entrelinhas das fruteiras estão sendo cultivadas culturas de portes herbáceos e arbustivos. Esta concepção de manejo tem a finalidade de assegurar sustentabilidade e garantir renda e segurança alimentar para as famílias ribeirinhas no curto prazo. Isto porque as árvores demorarão de 5 a 20 anos para predominarem na paisagem, e nesse período de tempo os agricultores precisarão sobreviver. Nesse caso a sobrevivência está garantida pelo cultivo de plantas herbáceas, ou culturas de ciclo curto, de no máximo um ano como: hortaliças, melancia, mandioca, arroz, feijão e abóbora.
Este trabalho, que se constitui num antigo sonho de Acadêmico, foi desenhado na perspectiva de que as principais espécies que devem predominar na paisagem a ser recuperada do rio são as palmeiras, principalmente a juçareira seguida do buritizeiro e da bacabeira. A bacabeira tem uma simbologia adicional para o projeto por tratar-se de espécie em extinção e no nosso trabalho também teremos esta concepção de preservação desta espécie importante. As palmeiras, por serem monocotilidôneas, apresentam um sistema radicular fasciculado, ou em cabeleira, de grande densidade. Por esta razão exercem uma forte barreira às avalanches de água, segurando assim o processo de erosão de solo que iria provocar o assoreamento do rio. Esse complexo radicular também funciona como um sistema venoso. De tal sorte que as águas pluviais ao caírem suavemente nos solos, uma vez que serão amortecidas pela parte aérea das plantas, irão ser conduzidas pelas raízes para o interior do solo, contribuindo assim para a recarga do lençol freático que, nas proximidades do rio, irá contribuir para aumentar a sua profundidade em qualquer época do ano, sobretudo na quadra chuvosa.
A concepção do projeto tem importante apelo ambiental, na medida em que as plantas, no seu processo de fotossíntese, irão capturar gás carbônico da atmosfera e liberar oxigênio. Há ainda um forte apelo social, na medida em que juntamente com o plano de recuperação da mata ciliar do rio, estamos levando sistema de abastecimento de água que beneficiará em torno de 190 famílias, ou aproximadamente 1.000 pessoas que vivem às margens do rio onde o projeto está sendo implantado.
Também estamos levando eletrificação rural para aquelas duas comunidades com recursos do Banco Mundial que ora o Estado está administrando. Desnecessário falar do apelo econômico do projeto, haja vista que estamos criando condições para os agricultores retirarem renda e segurança alimentar, agora de forma ambientalmente correta. Adicionalmente, estamos desenvolvendo, juntamente com a Prefeitura de Codó, um projeto de repovoamento do rio Itapecuru com espécies nativas. Gostaríamos de frisar que tivemos uma grande colaboração da Alumar que nos forneceu mais de 2000 mudas de espécies nativas que fazem parte do acervo de plantas que está repovoando de forma piloto o rio Itapecuru. Esta é uma experiência que poderá colocar o Maranhão na vanguarda de projetos de recuperação de bacias hidrográficas no Brasil. Para isso estamos elaborando um programa de divulgação e inscrevendo o projeto em todos os concursos nacionais e internacionais, para que ele possa ser bem conhecido muito além das nossas fronteiras.
__________
*Artigo publicado no O Imparcial do dia 11/08/2006
**Secretário de Estado de Agricultura do Maranhão.