José Lemos*
Em março de 2006 o então Governador do Maranhão, José Reinaldo, convidou-me para assumir a Secretaria de Estado de Agricultura. Na oportunidade eu ocupava a Secretaria que fazia planejamento estratégico do Governo, desde o começo de 2005. Recebi aquele convite com dois sentimentos: surpresa, embora os comentários de bastidores indicassem aquela possibilidade, e deferência do Governador que, com aquele gesto, demonstrava satisfação com o meu trabalho na outra secretaria.
Como faltavam apenas nove meses para o término do seu mandato, avaliei que o Governador queria ter alguém de sua confiança numa Secretaria que detinha o terceiro orçamento do estado, para levar o governo até o final sem maiores atropelos.
Eu não encarei assim. Vi ali um grande desafio. Embora o tempo fosse exíguo. Naquele pequeno lapso de tempo entre o convite e a minha resposta passou um turbilhão de ideias, que cultivei enquanto exercia a outra pasta. Mas uma era um grande sonho de acadêmico. Antes de dar a minha resposta ao convite falei para o Governador que aceitaria se ele concordasse que fizéssemos um projeto piloto de recuperação da mata ciliar do Rio Itapecuru. Ele me olhou meio incrédulo, porque sabia que não havia orçamento definido para um trabalho daqueles. Ainda assim concordou.
Tomei posse em 5 de abril. Um dia diferenciado na minha vida profissional. Jamais imaginado, mesmo eu sendo um sonhador incorrigível. O Secretário de Agricultura de qualquer Governo, sobretudo do Maranhão, é cargo que precisa de forte retaguarda política, vinculação partidária e “sangue azul” do escolhido. Raramente é levada em consideração a formação técnica na área. Por incrível que pareça são raros os Agrônomos que assumiram esta função no Maranhão. Eu não tinha qualquer dos requisitos. O Governador apostou na minha formação de Agrônomo. No meu discurso de posse, no dia 5 de abril, eu falei que em 5 de junho daquele ano, dia internacional do meio ambiente, ele, Zé Reinaldo, iria plantar as primeiras árvores do projeto de Recuperação da Mata Ciliar do nosso principal rio. Um rio que estava, e continua estando, em agonia, com enormes áreas de assoreamento comprometendo o seu curso.
Para exercer a função de Secretário de Agricultura busquei cercar-me de excelências. Convidei um Colega Agrônomo, Doutor e Professor da UEMA para esboçar o projeto. Na coordenação do projeto coloquei uma Agrônoma competente e entusiasmada, ex-orientada minha no Mestrado de Agroecologia da UEMA. Na assessoria de Finanças pus um Economista, ex-orientado meu de Mestrado aqui na UFC. No escritório da EMBRAPA que implantamos, coloquei outro Agrônomo que é também ex-orientado de Mestrado em Agroecologia. No programa de mitigação estruturante (nada de assistencialismo) da pobreza, mantive um Agrônomo que é um dos melhores quadros do Maranhão. Trouxe uma Agrônoma Alemã, radicada no Maranhão, que trabalhava numa ONG para mobilizar as comunidades ribeirinhas e ajudar na aquisição e no plantio das mudas. Chamei um ex-colega de Liceu, Engenheiro Civil com Doutorado na USP, Professor da UFMA, para ajudar no desenho do projeto. Coloquei na Chefia do meu Gabinete uma moça competente que tinha orientação minha de receber todos de forma humanizada. Eu lhe recomendei que quanto mais maltrapilho fosse o visitante, maior a prioridade para falar comigo. O nosso público majoritário de agricultores deveria receber tratamento VIP. E assim ela fez com desenvoltura.
Convidei a direção da ALUMAR para nos ajudar no fornecimento das mudas. E eles aquiesceram cedendo mais de 2000 de espécies nativas. Arranquei do Secretário de Planejamento um reajuste para os salários do pessoal de campo (Agrônomos, Técnicos Agrícolas, Assistentes Sociais, Extensionistas). Consegui colocar em dia o pagamento deles que estava sempre atrasado, ao menos dois meses. Criamos uma sinergia incrível que envolveu a todos. A população de Codó, o município escolhido para o projeto, se apropriou da ideia. Projetamos recuperar seis hectares experimentalmente.
O projeto tinha apelos social, econômico e ambiental. Levamos ainda sistemas de abastecimento de água e de eletrificação rural que beneficiaram 190 famílias que vivem às margens do rio onde o projeto foi implantado. Para tanto usamos recursos do Banco Mundial que a Secretaria administrava.
No dia 5 de junho, como previsto, numa terça-feira ensolarada: o Governador Zé Reinaldo, o Prefeito de Codó e eu, plantamos as primeiras mudas daquele que foi um dos meus grandes sonhos concretizados. Desnecessário falar da emoção que senti por ocasião das poucas palavras que proferi naquele dia que jamais esquecerei. No final, recuperamos 12, em vez dos 6 hectares previstos, com o mesmo montante de recursos (sem aditivos). Infelizmente, aqueles que nos sucederam nos Governos posteriores não tiveram a sensibilidade para dar continuidade ao projeto. Coisas do Maranhão. Muitas das árvores plantadas estão lá viçosas e desafiando o bom senso. Aqueles foram dias mágicos. Como falou a Chefe do Gabinete: “Nós todos éramos felizes e sabíamos”.
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*Artigo publicado em 6 de junho de 2015 no O Imparcial e no dia 07 de junho no Jornal Pequeno de São Luís, Maranhão.
2 Comentários
Boa tarde Prof Lemos…durante essa leitura pude sentir o entusiasmo da época em questão. Revivi por alguns minutos aqueles anos e sentindo uma leveza maravilhosa…de um tempo que foi pra mim de crescimento tanto profissional quanto pessoal. Gargalhei aqui alto e sozinha me identidicando em duas passagens deste artigo. Me entristeci ao final com os desfecho do projeto. Um abraço prof…Parabéns pelos artigos.
Carissima Ivana
so agora vejo a sua mensagem. Fiquei feliz em ter noticias tuas. Mas contente ainda de saber que você também tem saudades daqueles tempos aureos. Foram dias de muito trabalho, mas éramos felizes. E sabiamos.
Grande abraço
lemos