José Lemos*
A Organização das Nações Unidas (ONU) informa-nos que em 2010 a população da terra atingirá a marca de sete (7) bilhões de seres humanos. Um lado sombrio desta informação é que os países menos desenvolvidos apresentam as maiores concentração dessa população. Com efeito, a ONU estima que 1,3 bilhões estarão na China e 1,1 bilhões na Índia. No Brasil nos aproximaremos dos 200 milhões. Como são mais pobres, esses países terão mais dificuldades em administrar as conseqüências, como se discute sucintamente neste texto.
Algumas estatísticas precisam ser colocadas para que possamos avaliar os impactos que uma população deste tamanho, e em crescimento, terá sobre os recursos naturais, renováveis ou não e, por conseqüência, sobre o ambiente em que vivemos.
Em média, cada ser humano libera em torno de 300 gramas de dejetos e produz cinco (5) quilogramas de resíduos sólidos diariamente. Assim, em 2010 serão produzidos algo como 35 milhões de toneladas de lixo e 210 milhões de quilogramas de dejetos diariamente que precisarão ter destino correto. Ai reside o imbróglio.
A necessidade média diária de cada ser humano é de 20 litros de água para beber, cozinhar alimentos e fazer higiene pessoal. Basta fazer a multiplicação pelo tamanho da população para se ter uma idéia da magnitude do desafio que se tem pela frente, num mundo em que este recurso natural, além de mal distribuído, já apresenta sinais muito claros de escassez em espaços geográficos definidos e significativos.
Com efeito, a ONU dedicou o seu Relatório de Desenvolvimento Humano de 2006 para estudar o impacto da falta de acesso à água de qualidade e à falta de saneamento sobre a qualidade de vida das pessoas, na perspectiva de que a privação desses dois ativos sociais se constitui num indicador relevante de pobreza. Naquele Relatório a ONU estima que uma população de 2,5 bilhões não tem acesso à água e ao saneamento. A grande maioria dessa população está na África, Ásia e America Latina.
Numa perspectiva conservadora estima-se que, em média, cada ser humano deve ter ração diária de um quilograma, o que significa que todos os dias a terra terá que produzir sete (7) bilhões de toneladas de alimentos em 2010. Sem dúvida, um grande desafio. Atualmente o planeta produz alimentos suficientes para a sua população. Não obstante este fato, a ONU estima que neste ano de 2009 aproximadamente um bilhão da população do mundo passa forme, pela absoluta falta de renda que possibilite adquirir a ração diária mínima. Portanto, temos um quadro de pobreza extrema induzindo a privação de uma das necessidades básicas vitais de todos os seres vivos: alimentação.
O fantasma malthusiano voltará a assustar se não assumirmos agora um compromisso com o futuro. A tecnologia para produzir alimentos não substituirá indefinidamente as terras de cultivos. As áreas destinadas à produção de alimentos se reduzem de forma significativa por várias razões. Uma delas é a urbanização das populações que incrementa a necessidade de serem construídas residências para uma população em crescimento. Como o espaço geográfico do planeta está dado, a expansão das áreas urbanas, necessariamente, ocorrerá sobre territórios antes destinados à produção de alimentos. Em sinergia com este avanço das áreas urbanas observa-se a degradação, em ritmo acelerado, do recurso natural solo, decorrente da sua exploração intensiva e sem parcimônia. A erosão deste recurso natural, provocada pela eliminação da sua cobertura vegetal, por causa da prática da agricultura predatória, exercida por pequenos agricultores e por mega empresários do setor rural, além do desflorestamento, contribui para a redução das áreas destinadas a produzir alimentos.
O cultivo intensivo de agroenergeticos para substituir a energia vinda do petróleo também se constitui em fator que restringirá a oferta de alimentos no futuro, encarecendo-os pela sua escassez relativa. A disputa pelos ativos da economia se constitui na principal causa da pobreza no capitalismo. Por isso, não há perspectivas de melhorar a distribuição da renda. Consequentemente, o encarecimento dos alimentos aumentará o contingente de famintos no mundo num prazo não muito remoto.
Feito este diagnostico superficial pode-se apontar alternativas exeqüíveis. Algumas delas são as reciclagens dos resíduos sólidos e dos dejetos humanos que se constitui em fator imperioso para redução do potencial poluidor desses elementos na natureza. Já existem experiências bem sucedidas que fazem o tratamento de esgotos e os utiliza como fonte alimentadora de biodigestores, ou os transformando em adubos orgânicos. A coleta seletiva de lixo também se impõe como o caminho a ser seguido nas cidades de todos os portes. Ela pode, por exemplo, destinar o lixo orgânico para a produção de compostos que se transformarão em adubos orgânicos, que podem ser utilizados na recuperação da fertilidade de solos, substituindo, em grande quantidade, o adubo químico derivado do petróleo que é o grande vilão dos males que experimentamos no ambiente de todas as cidades do planeta.
Os seres humanos precisam refletir acerca dos equívocos do passado e, mais do que isso, agir para não repeti-los e encaminhar outro processo de desenvolvimento econômico e social que seja parcimonioso e respeitoso com os recursos naturais. Precisamos assumir um compromisso com as gerações futuras. Isso se chama desenvolvimento sustentável que para acontecer precisa vir acompanhada de sustentabilidade econômica, que gera e distribui, de forma equitativa, a renda rompendo paradigmas e modelos atuais empoderando os sujeitos sociais; sustentabilidade social, que viabiliza acesso a todos os ativos sociais necessários para a vida com dignidade; e sustentabilidade ecológica, que implica em lidar com os recursos naturais, renováveis ou não, de forma respeitosa e parcimoniosa, coisa que não fizemos até aqui. Sem estes compromissos o resultado será previsível: O Caos. Precisamos ter juízo e respeito com o nosso futuro comum.
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*Escreve aos sábados para o Jornal O Imparcial de São Luis, Maranhão. Artigo publicado no dia 29 de agosto de 2009.