José Lemos
Nos anos oitenta a Banda Legião Urbana, pela qual eu nunca morri de amores por achar o seu líder arrogante, lançou uma música de muito sucesso chamada “Que País é esse?”. Lembro que na época ele se dirigiu à nossa cidade, São Luís, de forma preconceituosa e pejorativa. Ele (o líder do grupo) parecia querer nos criticar pelo fato da nossa terra ter sido o berço da família que mandou no estado por longos anos, de onde saiu, por obra do acaso, um Presidente que muito nos envergonhou pelo conjunto da sua obra. A música fez muito sucesso e batia forte no governo do Presidente maranhense. Hoje, por razões bastante diversas, a pergunta da música continua atual.
Um País que depois de ter recuperado alguns dos preceitos democráticos como o direito de eleger, por via direta, os seus governantes, mas que continua tão anacrônico como o era nos períodos em que isto não era possível. A primeira eleição direta para Presidente da República, em 1989, nos proporcionou a infelicidade de ter que escolher, no segundo turno, os dois piores candidatos. Numa eleição em que figuras como Mário Covas, Ulysses Guimarães, tiveram votações inexpressivas no primeiro turno.
Elegemos “O Caçador de Marajás”, aquele que iria abater o terrível dragão inflacionário com um único tiro. Desferido o tal tiro, ele (o tiro) ricocheteou e atingiu a maioria dos brasileiros, justamente aqueles que são os mais vulneráveis para balas perdidas. O desastre era anunciado. Na época eu escrevi para o Jornal O Povo de Fortaleza um artigo cujo título foi: “Collorir, um verbo intransitivo.” Nele eu tentava mostrar algumas das improbidades que infelizmente se confirmariam depois. Por isso não deveríamos “transitar” nele. O “atirador” foi defenestrado e assumiu Itamar Franco.
Passamos por um período de ajustes, que foi doloroso, mas conduzido no começo com as mãos firmes daquele homem que, embora tendo formação universitária, não possuía lapidação intelectual, mas tinha uma característica que deveria ser a regra, mas agora é exceção, dos homens públicos: honradez e não usar o poder para ficar rico.
Foi uma longa travessia que começou ali, e que teve continuidade em dois governos que conseguiram ajustar as contas nacionais, trazer a inflação para níveis civilizados, e o respeito internacional. Foram estabelecidas medidas que davam pistas de que o Brasil finalmente deixaria de ser republiqueta de bananas (com todo respeito que tenho por esta fruta da qual sou consumidor contumaz, corredor que sou). Para consolidar a estabilização monetária foram criadas medidas importantes como a Lei de responsabilidade fiscal, taxa flutuante de câmbio, meta inflacionária, taxa de crescimento da despesa pública menor do que a do crescimento do PIB, privatizações de empresas que funcionavam como cabides de empregos e para barganhas políticas por cargos. Tudo aquilo criou condições para a criação dos programas assistencialistas que se pretendiam ser de curto prazo, como a Bolsa gás, Bolsa Escola e outras que tais. Claro, todo aquele conjunto de medidas corretas foi bombardeado pelo então eterno candidato a presidente (só pensava e continua só pensando nisso), e pelo seu partido. Chegaram a chamar as Bolsas de “eleitoreiras”. Quem diria?!
Mas ai nós brasileiros, avaliamos que teríamos que fazer uma mudança naquele rumo. Havia um discurso que prometia o paraíso para os pobres. Todos iriam poder aposentar-se aos cinquenta e poucos anos. Os pobres iriam ter três refeições por dia. Melhor, sem precisar trabalhar. Apenas não diziam, espertamente, quem iria pagar a conta que somos nós da classe média. E não seriam pratos quaisquer. Seriam suculentos, com direito a todos os tipos de carnes. O paraíso estava ao alcance de todos. A distância era apenas de um clique num número mágico: 13. O da sorte grande. E a maioria acreditou.
Assumiu um senhor que, embora sendo semianalfabeto, arvorou-se no direito de discorrer sobre todos os temas: desde as razões da circunferência da terra, até as teorias Freudianas. Mandou “receitas” de como governar para lideranças mundiais. Sempre aplaudido por uma claque bajuladora. O homem foi num crescendo e se transformou num grande “engenheiro postal”. Evidente que não se está falando de correios. Por onde, aliás, começou a serem desvendadas as falcatruas que desencadearam o Mensalão e o Petrolão, instrumentos que foram utilizados para o enriquecimento dos companheiros e, muito provavelmente, dele e do filhão, aquele gênio.
No melhor estilo Republiqueta de Bananas impôs, e nós aceitamos, uma senhora totalmente despreparada para ser presidente. Ela que não teve qualquer escrúpulo de registrar que tinha Doutorado na Plataforma Lattes do CNPq, onde nós, que fazemos parte da comunidade cientifica, temos hospedados os nossos Currículos. Justamente ela que mal concluiu (não se sabe como) o bacharelado em Economia. Só isso já seria motivo para demissão por falsidade ideológica. Mas, pasmem, é o de menos dentre as irresponsabilidades e incompetências que cometeu e continua praticando. Além das mentiras, do estelionato eleitoral, o “fazer o diabo” para eleger-se, a irresponsabilidade fiscal, a manutenção de diretores corruptos na Petrobrás, para não contrariar ao seu mentor. O uso do dinheiro público para se reeleger. E agora, sem qualquer desfaçatez, o seu inventor assumiu de fato a Presidência, nomeando e demitindo Ministros, tudo na base do toma lá dá cá. Ela não passa de um zumbi. E a oposição oficial, juntamente com as duas casas do Congresso Nacional, avalia que não há fatos para impedi-la de ficar num lugar para onde jamais deveria ter ido. Que País é este? Até onde chegamos!
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*Artigo publicado no Jornal Pequeno do dia 4/10/2015. Outra versão foi publicada no O Imparcial do dia 3/10/2015