José Lemos
A Nova Zelândia é um pequeno País situado na Oceania, continente remoto para nós brasileiros. A Austrália é o maior País daquele continente. Ambos apresentam algumas das melhores qualidades de vida do mundo. Tive o privilégio de conhecê-los em viagens de estudo. São Países relativamente novos em termos de ocupação por desbravadores externos, basicamente ingleses a pouco mais de duzentos anos. A Nova Zelândia começou toda a sua pujança deslanchando a produção agrícola. No começo, essa produção era voltada apenas para o mercado interno, gerando riquezas, alicerçando o país para os saltos que viriam depois.Hoje é um grande exportador de produtos agrícolas. No início da história da sua ocupação aquele país recebeu imigrantes ingleses. Muitos mau afamados. Mas tiveram o discernimento de perceberem que estava na produção agrícola a sua única chance de sobrevivência e de buscarem um futuro melhor. O resultado está ai. Um país riquíssimo, que se encontra entre aqueles de melhor Índice de Desenvolvimento Humano no mundo.
O Maranhão, a despeito da sua enorme riqueza de recursos naturais, e do seu potencial para deslanchar um circuito virtuoso de progresso, patina com os piores indicadores econômicos e sociais do Brasil. Isto acontece porque assim convém a quem retém-lhe as rédeas de domínio por infindáveis anos. Os que detiveram o poder político no estado sabem que no momento em que essa massa humana tomar conhecimento do que pode conquistar, eles não terão mais vez. Faz parte da estratégia de dominação a manutenção de um contingente populacional à margem do processo econômico e social, porque desta forma abrem-se espaços para o assistencialismo, que não retira ninguém do estado de carência, mas cativa pessoas a serem eleitores constantes e incondicionais.
No Maranhão está tudo por recomeçar. Há ações de curtíssimo prazo que precisam ser encaradas para fazer com que o sentimento de esperança não arrefeça. Enquanto agimos de imediato, devemos ter planos para o longo prazo, de tal sorte que a situação que queremos criar, tal como na Nova Zelândia, seja irreversível. Aquele belo País deveria ser a nossa referência. Se eles conseguiram, nós também conseguiremos. E temos muito melhores condições de recursos naturais do que eles. Então a nossa saída, de curto prazo, é incrementar a produção agrícola. Neste setor é bem mais barato criar empregos duradouros. As pessoas que ali estão não fazem a menor questão de saírem do seu ambiente se lá tiverem condições mínimas de sobrevivência. Isso não é pouco, haja vista que, sem esse mínimo, são potenciais emigrantes e o que lhes espera em São Luis ou em qualquer cidade, são áreas de risco para morar, desemprego ou subemprego. Para os garotos que ficarão ociosos sem escolas, estarão abertas as portas para as drogas. Para as garotas, igualmente sem escolas e ociosas, se escancaram as cortinas da prostituição.
Temos que planejar agricultura em estepes (degraus). No curto prazo com lavouras anuais. Nesta perspectiva (curto prazo) as culturas alimentares (arroz, feijão, mandioca e milho), em que o Maranhão tem tradição, podem se constituir no ponto de partida. Para o médio e longo prazos pode-se planejar a inserção do Maranhão no programa de bio-energia, com várias opções, reflorestamento, cultivo de fruteiras, criação de animais de diferentes portes. O estado já tem o segundo maior rebanho bovino do Nordeste.
Especificamente no caso das lavouras alimentares, em 1982 o Maranhão colheu a maior área e a maior produção agregada de arroz, feijão, mandioca e milho desde que o IBGE começou a contagem em 1933. Naquele glorioso ano (1982) colhemos aproximadamente 2,3 milhões de hectares e 5,43 milhões de toneladas daqueles produtos. A área colhida de arroz foi de 1,16 milhões de hectares; a de feijão 117,38 mil hectares; mandioca 450.128 hectares e milho 553.401 hectares. Estas seriam as áreas objeto do planejamento para fazer o Maranhão começar a deslanchar. Os rendimentos atuais dessas culturas são muito raquíticos no estado, refletindo a baixa tecnologia adotada que é consequência do descaso dos governos que não provêm pesquisa nem assistência técnica. No passado, já foram bem melhores. Com efeito, em 1941 o Maranhão colheu 1800 quilogramas por hectare de arroz (atualmente colhe 1.200 kg/ha); 800 kg/ha de feijão em 1938 (430 kg/ há em 2010); 20 toneladas (isso mesmo) por hectare de mandioca em 1939 (atualmente produz apenas 7,3 toneladas por hectare); e 1.500 quilogramas por hectare de milho em 2009 (atualmente produzimos 1.400 kg/ha). Com tecnologia, assistência técnica, orientando os nossos agricultores familiares com projetos sustentáveis para captarem recursos do PRONAF poderíamos buscar, nos próximos anos, o cultivo daquelas áreas de 1982, bem como conquistar ao menos aqueles rendimentos históricos das culturas. Caso façamos isso, sem avançar um hectare na fronteira agrícola do estado, produziremos 12,30 milhões de toneladas daqueles alimentos. Em 2010 a nossa produção total desses itens foi de apenas 2,7 milhões de toneladas. Podemos, portanto, praticamente quintuplicar a produção de alimentos no estado com base apenas no que já foi feito no passado, usando a imaginação no presente. Isso já nos próximos três anos. O Maranhão conseguiria aplainar o terreno para, finalmente, desencadear um circuito virtuoso de avanços. Isso é perfeitamente possível. Poderemos sim nos tornar a Nova Zelândia do lado de cá. Por que não?
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 12-04-2014 e no Jornal Pequeno do dia 13-04-2014.