José Lemos
A presença do Eminente Juiz Sergio Moro no Senado da República serviu, dentre muitos aspectos, para mostrar a diferença que existe entre uma pessoa íntegra, com uma formação técnica sólida, ético, sabedor da sua condição de passageiro efêmero por um cargo de poder e que tem no seu horizonte apenas uma perspectiva de estabelecer regras que possam permitir para as gerações futuras entenderem que não vale a pena o mal-caratismo, e os homens e mulheres que, no geral, fazem parte daquela casa legislativa. Uma diferença que não deixa qualquer dúvida entre o Trigo (produção de alimentos saudáveis) e o joio (ervas invasoras que atrapalham a produção).
O seu trabalho irretocável como juiz de primeira instancia em Curitiba, coordenando a operação que se convencionou chamar de “Lava jato” é um divisor de águas neste Pais, que é saqueado desde que os portugueses chegaram por aqui, mas que viu isso se exacerbar a partir de 1985. Teve um salto no Governo Collor, em que se imaginava ter chegado ao fundo do poço, mas os Governos Tucanos e, sobretudo, os liderados pelo PT, mostraram que aqueles eram crimes praticados por “pivetes”.
Os brasileiros haviam saído de governos militares, que duraram de abril de 1964 fevereiro de 1985. Os governos militares começaram a fazer água quando a economia do País passou a experimentar elevadas taxas de inflação e desaceleração de atividade, em grande razão decorrente da elevação dos preços do barril de petróleo.
Foi o que aconteceu no começo dos anos setenta. Os militares haviam criado em 1964 com a ascensão indireta de Castelo Branco ao poder, o Programa de Ação Econômica do Governo e a Reforma do Sistema Financeiro (PAEG), que visava trazer a inflação, então em alta, para patamares mais civilizados e criar condições para o crescimento do PIB que estava em franco processo de estagnação.
A opção para o crescimento do País, criada nos governos anteriores, sobretudo de Juscelino Kubitscheck (31/01/1956 a 31/01/1961) foi privilegiar a construção de rodovias em detrimento das ferrovias e hidrovias, a despeito da enorme disponibilidade costeira do Brasil e dos rios então caudalosos que “serpenteavam” as suas terras do interior. Esse modelo nos levou a uma elevada dependência de petróleo
O PAEG criou condições para o PIB brasileiro crescer a taxas elevadíssimas, saltando de 9,8% em 1968 a incríveis 14% em 1973. Aquele lapso de tempo ficou conhecido como “Milagre Econômico”. O Presidente de então era Emilio Garrastazu Médici que, apesar da dureza do regime militar, se tornou muito popular.
O Preço do Barril de Petróleo que em 1973 era de US$2,81, saltou para US$10,98 em 1994, US$29,19 em 1979; US$ 30,05 em 1983. E não parou mais de ascender. Um País que era todo movido a petróleo, sentiu nas suas entranhas essas dificuldades. Os preços do petróleo eram transmitidos aos preços de todos os itens da economia, inclusive e, principalmente, alimentos e transportes. Resultado, inflação galopante, e governos militares sob fogo cruzado. No Governo de João Batista Figueiredo a inflação chegou a 100% ao ano. Mal saberíamos que depois do primeiro “Governo democrático” de Sarney a inflação chegaria a 80% ao mês.
De lá pra cá foi uma sucessão de governos populistas, irresponsáveis e, sobretudo, corruptos. Muito corruptos. A população, mantida criteriosamente em elevado patamar de desinformação, devido à baixa escolaridade e às elevadas taxas de analfabetismo, ficava no meio do caminho. Apareceram os programas paliativos, já no segundo mandato do governo FHC, que viraria a maior fonte de compra de votos com dinheiro público em grotões do Brasil: As bolsas gás, bolsa escola…Depois, com a ascensão de Lula ao Poder em 2003, com o seu programa “Fone Zero” que logo fez água e foi abandonado, foi criado o Programa Bolsa Família, que se transformaria no carro chefe desses governos que se dizem de esquerda, sobretudo no Nordeste. Região que continha onde sempre esteve, com 13% de participação do PIB brasileiro desde os anos noventa, menor escolaridade média e com a metade dos analfabetos brasileiros.
E com esses governos, a implacável corrupção. O Estado Brasileiro foi saqueado por um grupo poderoso que queria se perpetuar infinitamente no poder. Até que surge, quase que por acaso, uma operação nos arredores de Curitiba, num posto Lava Jato, sob a liderança de um Juiz de primeira instancia, uma verdadeira devassa do País.
Isso, claro, incomodou quem poderia ser incomodado. Os brasileiros de bem se mobilizaram e ai sim, e de fato, resolveram se “livrar de tudo aquilo que ali estava”. Dos candidatos a Presidente da República que apareceram, os eleitores logo vislumbraram que apenas um reunia condições de dar um basta naquilo. E descarregaram, sem dó, e com muita esperança de acabar a corrupção e o desemprego, os seus votos no candidato. Isso incomodou muito o status quo, que não se conforma em ter perdido a sua fonte interminável de poder e de riqueza: os nossos impostos. Parlamentares do Congresso Nacional, e dentre os 81 senadores, que estão comprometidos com algum embaraço que pode vir à tona como decorrência dos trabalhos dos também competentes procuradores em Curitiba, chamaram Sergio Moro para tentar desmoralizá-lo. Quebraram a cara ao inverterem as posições: quem é honesto e honrado ser inquirido por figuras como aquelas. Só numa Republiqueta como a nossa isso é factível de acontecer. Claro que ele faria o que ele fez: mostrou para eles e elas, e para o Brasil, quem tem compromisso com os brasileiros. Inclusive e, principalmente, com os mais pobres que aqueles senhores e senhoras (todos e todas bem resguardados com seguranças fortemente armados e pagos por nós), se arvoram a falar, de forma mentirosa e hipócrita, que defendem.
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Texto para ser publicado no dia 22/06/2019.