José Lemos
Os fundadores do País em 2003, com o meu voto, militância e envolvimento no pleito de 2002 e nos três anteriores, não se contentaram em apenas “redescobrir” o Brasil. O poder lhes empavonou tanto, que acreditam que podem tudo. Podem desrespeitar os demais poderes, interferir no cotidiano da vida dos brasileiros, no comportamento, na cultura, na forma de falar, escrever. Falar e grafar errado as palavras virou cartilha produzida com o nosso dinheiro e distribuída por um Ministro que ganhou de presente, pela “ousadia” (forma amena de chamar bajulação) a condição de candidato a Governar a mais rica capital brasileira, apenas atendendo ao capricho do seu criador, e contrariando outros interesses, que não são, obviamente, os dos paulistanos.
De uns tempos para cá inventaram a paranoia do “politicamente correto”. Mal disfarçadamente, as regras se constituem em cópia grosseira do que fazem os americanos. Lá sim, levam ao extremo a discriminação racial. Logo essa gente que sempre enxerga os EUA como opressores, lhes faz copia grosseira de comportamento!
Os americanos, para demarcar aqueles que consideram ter sangue puro, “The Americans” chamam os negros de “africanamericans”. Os asiáticos são “asianamericans”. Os latinos são “latinamericans”. Formas claras de identificar quem é quem na sociedade deles.
Aqui no Brasil, os negros deixaram de sê-lo para transformarem-se em afrodescendentes, ou “africanbrazilians”. Como os americanos, que não são considerados puro sangue, inventaram por exclusão, aqueles que são “puro sangue” no Brasil, como se isso fosse possível. Uma das nossas maiores riquezas reside, justamente, nessa mistura de raças, que é um dos símbolos maiores de brasilidade.
Não satisfeitos em macaquear os americanos, que tanto abominam, inventaram que os “afrodescendentes” precisam de cotas para entrar nas universidades públicas. Não assumem a irresponsabilidade de oferecerem cursos elementares e médios ruins nas escolas públicas, onde estudam jovens com todas as tonalidades de pele, mas pobres. Esta sim, uma grande manifestação de discriminação. “Afrodescendentes” nos bancos das universidades, mesmo entrando sem precisar de cotas, sempre serão encarados, pelos outros colegas, como privilegiados. Com chances de serem discriminados. Não pela cor da pele, mas pelo fato de terem tido as entradas facilitadas.
Eu tive um colega no Liceu Maranhense que era negro e tinha um sinal enorme no rosto. Daqueles sinais peludos. Por causa disso, era motivo de gozação, que sempre tirou de letra. A cor da pele não lhe impediu de ser brilhante, terminar o curso médio entre os cabeças da turma, e ser aprovado de primeira, e com mérito, no Vestibular de Medicina. Tornou-se um grande cirurgião. Infelizmente morreu precocemente.
Mudam a Constituição para flexionarem substantivos e adjetivos, contrariando regras elementares da nossa língua. Agora as Universidades formarão “Economistos”, “Jornalistos”, “Dentistos”, “Fona-Audiologas”, “Fisia-terapeutas”, “Físio-terapeutos”. O velho SENAI formará “Torneiras Mecânicas”. A “Juventuda” não será apenas “irreverenta”, mas “inteligenta”, e “conscienta” das suas obrigações. Os “taxistos” e demais “motoristos” respeitarão mais os “pedestros” e “pedestras”. “Francamento”!
Geriatras, Gerontólogos e o Estatuto do Idoso (não da “Melhor Idade”), tratam tecnicamente as pessoas com idade acima de sessenta anos como “Idosos”. Está escrito, no Artigo oitavo do Estatuto que “o envelhecimento é um direito personalíssimo”…
Mas o “politicamente correto”, inventado pelos descobridores do Brasil Maravilha, estabelece que se deva chamar a velhice de “Melhor Idade”. De onde tiraram essa idiotice, eu não sei. Como pode ser melhor idade uma fase da vida em que o desrespeito é generalizado aos direitos mais elementares? O Governo que quer chama-los de melhor idade não teve a menor cerimônia em taxar as aposentadorias daqueles que conseguem chegar a esta fase da vida. Justamente quando são mais vulneráveis às doenças, tem a sua minguada renda subtraída pela insanidade de um governo que está preocupado com o “politicamente correto” em vez do bem-estar dos cidadãos que conseguem envelhecer. Talvez por considerar esta fase da vida como a da “melhor idade”, um Ministro do Governo anterior, que foi presidente do Partido do Presidente, houve por bem colocar os idosos em longas filas sob sol escaldante no Norte e Nordeste, e sob frio sibérico no Sul, por causa de um recadastramento que, na verdade, escancarava a incompetência do governo no controle do número de aposentados.
Melhor idade é quando somos crianças ou adolescentes, não quando conseguimos envelhecer num país em que os idosos penam nas filas do INSS, do SUS, dos postos de saúde. Se não podem ajudar, farão um grande bem se não atrapalharem.
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*Artigo publicado em 9-06-2012