José Lemos
O mais ufanista dos brasileiros não esperava que as olimpíadas no Brasil transcorressem em clima de tranquilidade e que o País fosse capaz de oferecer ao mundo aquele espetáculo da abertura dos jogos e a alegria contagiante daqueles que conseguiram ingressos para assistir às competições ao vivo.
Eu costumo acompanhar pelo canal da BBC ou pela CNN o que dizem de nós lá fora. Dois meses antes de começarem os jogos no Brasil as noticias que eram mandadas daqui pelos correspondentes daqueles canais eram sempre depreciativas. Infelizmente corretas. Falavam da poluição nos locais onde aconteceriam algumas das provas, da insegurança no Rio de Janeiro. Notícias sobre o temido mosquito aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e do zica virus ocupavam mais espaço naquelas reportagens do que as expectativas de sucesso dos competidores.
A crise politica no Brasil. Os desmandos administrativos dos últimos treze anos, finalmente reconhecidos internacionalmente, recessão, inflação, desemprego, crise fiscal, corrupção… Esses eram os temas veiculados por aqueles dois canais internacionais que são importantes formadores de opiniões no mundo inteiro. Vale ressaltar que eles apenas faziam eco do que era veiculado pela grande imprensa internacional.
Somente não esperavam era que justo alguns representantes da maior potencia olímpica do planeta, e medalhistas nestas olímpiadas, aprontassem n uma noitada de farra homérica, e em ações não condizentes com a boa educação e com o comportamento que se espera de um atleta. Ou de qualquer pessoa. Ironicamente tiveram que fazer os dirigentes do seu poderoso comité olímpico pedir desculpas para nós que éramos os arruaceiros. É. A vida tem dessas armadilhas recônditas!
Eu faço parte do grupo de brasileiros que avaliou como sendo dois atos de grande irresponsabilidade, sob todos os ângulos, as realizações da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e das Olimpíadas agora em 2016. Uma decisão movida pelo capricho e megalomania do então presidente da República, no auge do embevecimento em que acreditava ter sido o melhor Governante do Brasil desde a chegada de Cabral. Na época os planos dele eram outros. Imaginava que em 2015, depois de uma breve quarentena em que alguém da sua inteira confiança ficaria para lhe esquentar a cadeira, voltaria para governar o País nos braços da população e, em 2016, iria para o meio da multidão ser reverenciado pelo feito. Saiu tudo errado. Para ele e para os seus sequazes.
Olimpíadas que ocorrem a cada quatro anos é um período de reverenciar heróis e heroínas. Pessoas esculpidas com corpos se aproximando da perfeição. Músculos, braços, pernas, peitos, costas… Tudo superando o ideal de um mortal comum. Todos os hormônios secretados de forma muito intensa. Metabolismo inimaginável. Brilhos nos olhos. Corações pulsando acima das batidas dos mortais comuns… Resultados de trabalhos intensos supervisionados por Educadores Físicos, Fisioterapeutas, com uma carga pesada de exercícios físicos em intermináveis horas diárias e por longos anos. Nutricionistas balanceando a dieta. Tudo planejado para que os desempenhos sejam esses que nós assistimos em imagens de alta definição. Em que os bons resultados de alguns dependem muito mais dos talentos individuais, haja vista que há “empate técnico” na formatação física. Ao menos para os nossos olhos daqui da planície.
Três semanas em que “deuses humanos” buscam, incessantemente, o olimpo, que na sua origem significa “ uma das montanhas mais altas da Grécia”. E na mitologia grega “um centro religioso consagrado ao culto de Zeus”. Nesse olimpo a sagração desses deuses se concretiza quando conseguem chegar ao pódio, que o dicionário nos ensina ser a “plataforma com três degraus para os melhores atletas.”
Terminadas as olimpíadas nós voltamos à nossa realidade de “não-deuses” e com outras expectativas. Para a esmagadora maioria dos brasileiros, o olimpo é bem menos simbólico, e muito mais duro de escalar. Para aproximadamente 14 milhões deles teria outra definição: encontrar um lugar para trabalhar e ter vida digna, que lhes foram surrupiados justo por aqueles que juraram que lhes proveriam se chegassem ao poder. Os brasileiros são diferenciados por valores muito menos nobres do que os que diferenciam os atletas de alto desempenho. Enquanto para a maioria, sobretudo, negros e pobres, a justiça é cega e “cientifica”, para a alguns ela é vesga e pouco chegada a evidencias que ao menos se aproximem do que se pode chamar de cientificas. Os poucos brasileiros diferenciados por esses critérios, sempre estão nos “pódios” em que chegam, não por seus méritos, mas pela forma esperta com que tratam o bem público. Os atletas que ralam para alcançar os seus objetivos, tem prazo de validade para chegar ao olimpo e ao apogeu dos pódios. Os “diferenciados” ou “incomuns” do Brasil são “subidos” a “pódios” e a “olimpos” contaminados. E não tem quem os tirem de lá.
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*Artigo publicado em 20 de agosto de 2016 no O Imparcial