José Lemos*
Triste do País que depende das lideranças com essas que aí estão! Quando imaginávamos que havíamos superado as causas da inflação, que a Lei de Responsabilidade Fiscal seria respeitada, que os governantes pensariam nos interesses coletivos e não nos seus próprios projetos de poder, voltamos ao caos econômico e social que prevalecia até Itamar Franco assumir o poder em lugar de Collor de Melo, cujas presepadas poderiam ser consideradas como pequenos delitos, se comparadas com as que vemos no Brasil a partir de 2003.
Em 2003, com o mote de que a esperança havia superado o medo, ascendeu ao poder um presidente e um partido que tinham um discurso (agora se sabe que era falso) ético e diferente de “tudo isso que aí está”. Ganhou as eleições, diga-se de passagem, com o nosso respaldo: Os Acadêmicos. Eu fui um dos entusiastas daquela ascensão. Cheguei a chorar no ato da posse do operário que havia chegado lá. Decorridos treze (número sintomático) anos depois constatamos, tristemente, que tudo aquilo era engodo e escondia, de fato, uma proposta de poder infinito. Um poder, que para prevalecer, qualquer meio seria justificado. Ancorado nesta máxima superou, com larga vantagem, tudo o que se imaginava que havia de pior neste País varonil. Um gigante que insistia em prosseguir deitado em berço esplendido, adormecido “sem perceber que era subtraído em tenebrosas transações”. Créditos para Chico Buarque que os escreveu se referindo ao nosso conterrâneo, então presidente da República por acidente de percurso, mas que cabe, como uma luva, nos governos que começaram em 2003.
Eu tive o privilégio de conhecer, e conversar olho no olho, um dos homens que considero dos mais íntegros e que estaria ombreado com personagens do porte de Mario Covas, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. O ex-governador Jackson Lago.
No dia 29 de dezembro de 2006, antevéspera da sua posse como Governadora, o Dr. Jackson Lago teve a gentileza de convidar-me para ir ao seu apartamento para conversar sobre o Maranhão, e para ouvir, segundo ele me falou, sugestões que eu poderia lhe dar para o futuro da nossa terra. Em princípio achei estranho tamanho desprendimento, porque a eleição já estava ganha. Em geral, essa gente quando assume postos assim não costuma falar com quem está na planície. Quando querem algo de alguém sempre buscam conseguir colocando intermediários para fazer a sondagem. Ele ligou diretamente para a minha casa e falou, ele próprio, comigo ao telefone. No apartamento dele aconteceu um bate papo que não teve testemunha. Por isso não entrarei em detalhes porque ele não tem mais (infelizmente) condições de contestar, na hipótese de eu cometer alguma injustiça acerca do nosso profícuo diálogo.
Relato esta passagem em reconhecimento ao grande homem que foi Jackson Lago. Pensava o Maranhão para o futuro. O seu passado como Prefeito de São Luís, por três mandatos limpos, o credenciava para fazer o governo que dele se esperava.
Não irei falar do Governo dele, até por respeito à sua memória. Falarei do processo esdruxulo, do ato jurídico violento que o sacou do poder, e colocou quem havia perdido as eleições. Ali sim, foi cometido um golpe. Um Governador legitimamente eleito que fez campanha limpa. Exibia o currículo que possuía. Não mentiu em relação a este particular. Isto não é pouca coisa. Não fez promessas que depois abandonaria, tão logo assumiu o poder. Não tinha passado vinculado à administração de uma estatal usada de forma imoral para corromper políticos e empresários inescrupulosos visando permanecer indefinidamente no poder. Não prometeu “fazer o diabo para se eleger”. Não obstante aquele currículo, não se ouviu na época em que se cometia aquela violência contra um homem daquela estatura, as vozes que hoje se levantam para dizer que é ilegítimo o impeachment de uma mulher despreparada, que mentiu na campanha, que usou a máquina administrativa de todas as formas para permanecer no poder, que mergulhou o País no caos que presenciamos . As tais “pedaladas fiscais”, ao contrário do que é agora alardeado por ela, que seria para beneficiar os pobres, na verdade foram feitas para mantê-los cativos. Não fossem aqueles artifícios contábeis, não haveria recursos para a “compra de votos” via Bolsa Família, por exemplo, e ficaria clara, naquela época, a situação critica em que já se encontravam as finanças públicas brasileiras, que ela conhecia, mas que escondeu dos brasileiros incautos durante a campanha do ano passado. Sem aquele artificio ela teria perdido as eleições. Houve claramente o uso do dinheiro público, dos nossos suados impostos, do uso da desinformação, da manipulação de dados, para favorecer a sua eleição. São essas as acusações que ancoram o pedido de impedimento do seu mandado.
Comparar a ação de impeachment contra Dilma com a que aconteceu com João Goulart é “forçar a barra”. Jango não era acusado de pedaladas fiscais, de usar dinheiro público para se eleger, de mentir em campanha, de dizer que era possuidor de título de Doutor que ele não tinha. E ele foi deposto num ato de força militar, como sabemos. Nós queremos retirar essa senhora ancorados em fundamentos que estão estabelecidos na Constituição Brasileira. Haveremos de conseguir. Para o bem do Brasil!
*Publicado em O Imparcial do dia 12-12-2015.