José Lemos
Utilizam-se amostras para fazer pesquisa envolvendo sujeitos (gente) quando é dispendioso e demorado estudar todo o universo. Caso tenhamos bom treinamento em Estatística, podemos desenhar boas amostras que nos ajudarão desvendar, com elevada chance de acerto, prováveis trajetórias de fenômenos que estamos interessados em conhecer. Nesse tipo de pesquisa delimita-se um tamanho mínimo da amostra, em que se estabelece o erro que se está disposto a assumir. Em geral muito pequeno.
A amostra deve refletir, proporcionalmente, a composição do universo de onde será extraída, em termos de sexo, escolaridade, religião, etnia, renda… Tudo feito corretamente, resta selecionar quem serão os fornecedores das informações. A seleção deve ser totalmente aleatória. Todos os sujeitos, na sua faixa de inclusão, devem ter igual probabilidade de serem incluídos na amostra.
Seguindo essas regras de forma correta (duvido que sejam seguidas integralmente por esses “institutos de pesquisa” nacionais ou regionais), decide-se quem irá fazer a coleta das informações. No caso de pesquisa de opinião para candidato a cargo de Presidente (ou Governador) os entrevistadores têm os seus candidatos. Eles não são marcianos que caíram de paraquedas. Nada os impedirá de, estando na disputa os candidatos A, B e C e, sendo A o da sua preferencia, eles marcarem nas suas planilhas de respostas o nome deste candidato, mesmo quando alguém opinou por algum dos outros dois. Ai está uma fonte aberta para fraude nessas “pesquisas eleitorais”. Circula no Youtube um vídeo do jornalista Augusto Nunes em que ele fala de fraude que aconteceu em Joinville, Santa Catarina, numa eleição passada. Um candidato subornou um dos entrevistadores para ele apenas registrar na “pesquisa” o nome do candidato a governador e senador que interessava ao subornador.
Outro equivoco grasso desses “levantamentos fajutos” (pesquisas não são) está no tal “percentual de rejeição” de um determinado candidato. Ora se eu respondi que votarei no candidato A para Presidente ou para Governador, tendo mais dois candidatos concorrendo (B e C), eu “rejeito” os outros dois. Óbvio. Então a pergunta deveria ser feita àqueles que disseram estar indecisos, não a mim. Caso 10% dos entrevistados se declara nessa condição de indecisos, a esses sim, a pergunta deveria ser feita: Entre os candidatos B e C em qual você não votaria. Caso 40% optasse pelo candidato B, a sua rejeição seria 40% sobre os 10% indecisos (4%), não sobre o total como é apresentado.
Todos que tinham 18 anos, ou mais, em 1989 lembram do que a rede Globo fez para viabilizar a eleição de Collor, justamente via essas “pesquisas”. Fez isso até o último momento quando manipulou, via edição do JN, o último debate. Certo que os dois candidatos que foram para o segundo turno, de tão ruins, eram “tecnicamente empatados na enorme margem de erro”. Dos brasileiros. Numa eleição que tinham candidatos da estatura de Ulysses Guimaraes e Mário Covas.
Os telejornais se esmeram em manipular eleições a partir da apresentação dos resultados dessas “pesquisas”. Quando um candidato que caiu na simpatia da Editoração e dos âncoras dos telejornais avança em 2% entre uma “pesquisa” e outra, o (a) âncora capricha na ênfase de que ele cresceu daquele percentual. Quando é um candidato que não caiu nas graças dos editores ou ancoras dos telejornais (sabe Deus quais seriam as razões) avança nos mesmos 2% entre duas “pesquisas”, o (a) âncora capricha dizendo que o candidato “oscilou” de 2%, dentro da margem de erro”. Lindo, não!
Mas essas “pesquisas” são didáticas. Elas não são obras do acaso, além de engrossar generosamente os cofres dos tais institutos que as fazem. Elas servem para aplainar os incautos eleitores para o bote que os donos das emissoras e dos três poderes querem dar na escolha do candidato da preferencia deles. Inflam candidatos do interesse deles, nessas “pesquisas” e escamoteiam avanços de candidatos que lhes sejam antipáticos. Agindo assim, facilitam o trabalho de adulteração das urnas eletrônicas que exibirão os resultados apenas três horas depois de concluídas as “eleições”.
Sobram denuncias da insegurança das urnas eletrônicas. Elas são programadas por alguém iluminado. Pessoa que não sabemos quem é, mas que é também eleitor e tem interesse nos resultados da eleição. Subordinada a gente que também é fortemente interessada nos resultados das eleições. Como todos nós somos. A diferença é que nós temos apenas o nosso voto para tentar mudar os rumos do País.
A justificativa do TSE de que as urnas são auditadas é difícil de engolir. São 1570 municípios no Brasil. Milhares de urnas eletrônicas distribuídas desde os mais remotos locais da Amazônia, Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul. Mesmo que a auditagem fosse feita em todas as urnas (algo improvável pela dimensão dos números e pelo tamanho do Brasil), entre a auditagem e a coleta dos votos há um prazo considerável. Suficientemente longo para que alguém mal intencionado as manipulem. Todas são acionadas por um único “pendrive” que apenas poucas pessoas conhecem os segredos. As informações desse poderoso “pendrive” para acionar todas as urnas devem seguir por alguma via eletrônica. Que não será feito por marcianos. Poder demais concentrado nas mãos de tão pouca gente. Que nós não conhecemos. E naquele “pendrive” está o destino de todos nós. Nós, os eleitores, que jamais teremos a certeza de que os nossos votos foram para os candidatos que escolhemos em quaisquer dos cargos. Assim é a “Democracia” brasileira. Cheia de “aspas”. Pobre País!
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*Texto para o dia 29/09/2018.