José Lemos*
É evidente que a sociedade brasileira tem experimentado algumas mudanças nos últimos anos. Nós que sempre levamos muito a sério aquela parte do nosso Hino que assevera que estamos deitados eternamente em berço esplendido. Nessa condição nada precisamos fazer porque as coisas cairão do céu como maná dos deuses.
Nas minhas preleções com os meus estudantes, querendo estimulá-los a não ficar esperando de forma letárgica que as coisas lhes aconteçam, eu lhes digo que do Céu só caem chuvas. E aqui no Nordeste nem isso, ou caem em quantidades insuficientes e mal distribuídas, o que é uma das características do semiárido.
Mas a inflexão que observamos no Brasil aconteceu a partir do julgamento dos envolvidos no “Mensalão”, escândalo protagonizado por políticos de alto coturno. Naquele julgamento, ainda que de forma suave para os figurões, nos pareceu que as porradas que sempre caíram sobre os “Chicos” comuns finalmente atingiam os “Franciscos” que se constituem nas versões até então inatingíveis daqueles. Naquele momento, ainda estarrecidos, achávamos que só o fato de uma figura daquela ir aos tribunais como um mortal comum, já era algo inusitado neste País tropical e varonil.
Finalmente aquela célebre frase “você sabe com quem está falando?”, que ouvimos de gente que se acha “diferenciada” querendo impor as suas prioridades frente aos demais mortais, parece que estava caindo em desuso ou sendo ridicularizada.
Também é um sinal de novos tempos o desvendar pela “Operação Lava Jato” do “Petrolão”, que fez o “Mensalão” ficar parecido como delito de pequenas causas. Em que grandes empresários, formadores de boa parte do PIB brasileiro, financiadores das campanhas dos poderosos, foram e estão sendo condenados a serem “hóspedes” de “hotéis” nada parecidos com aqueles que sempre frequentaram.
Ainda assim, restam algumas interrogações, exclamações e reticencias…
No Maranhão, sempre lá, um Governador legitimamente eleito por mais de um milhão de esperançosos conterrâneos, foi apeado do poder sob a alegação dos seus acusadores de que teria usado o poder político e econômico para capturar os votos que o elegeram. Detalhe sutil, como elefante andando em joalharia: O Governador afastado do poder, quando candidato, não detinha qualquer mandato. Mas os Ministros do TSE acreditaram no relato surreal de um Senhor barbudo que, ao que se comentou na época, tinha pretensões de fazer parte da ABL escrevendo obras de gosto e estilo duvidosos. Cometeram uma violência jurídica sobre um homem integro. Aliás, um dos poucos que tínhamos no estado, e no Brasil, por aquela época. Fato reconhecido pelos seus algozes, claro, depois que morreu precocemente. Provavelmente como decorrência da tristeza profunda de ter sido injustiçado de forma tão cruel.
Mas o pior ainda não havia acontecido. Admitindo, pela hipótese do absurdo, como às vezes fazemos no método cientifico, de que aquelas informações eram verdadeiras, e que o Governador precisava mesmo ser apeado, a expectativa era que o seu vice também o fosse, como de fato aconteceu, e houvesse novas eleições para o Governo do Maranhão. Esta parecia ser a decisão mais razoável. Parecia. Os Ministros empossaram a segunda colocada naquele pleito e fizeram, com aquela atitude, os maranhenses mergulharem em mais de seis anos de irresponsabilidades administrativas.
Pilhado em gravações feitas pelo “Juruna” dos tempos das redes sociais e de comunicação instantânea, e que se dizia ser seu amigo (ainda bem), o “Francisco” que deve ter sido o mentor intelectual daquela ação que tirou do poder um governador legítimo, falou nas gravações para o “amigo” que estamos vivendo a “Ditadura do Judiciário”. Interessante que esse “desabafo” não foi usado em 17 de abril de 2009 quando Jackson Lago foi apeado. Percebemos que sete anos depois o “pau” que bateu tão violentamente no “Chico”, ao menos já está fazendo cócegas no “Francisco”. Justo ele, que foi adjetivado de “incomum” pelo maior de todos os “Franciscos”, jamais imaginou que algo ao menos levemente parecido bateria às suas portas. Bateu!
Mas parece que os tempos ainda não são de plena comemoração. “Chicos” e “Franciscos” ainda não são tratados da mesma forma e celeridade. A esposa do Presidente afastado da Câmara dos Deputados, que está no mesmo patamar lamacento de quase todos esses que ai estão, teve acatadas as denuncias contra ela e enviadas para o temido e integro Juiz Sergio Moro, em tempo incrivelmente ágil, para os padrões da justiça brasileira, quando figurões estão em julgamento. Contudo, aquele homem que diz ter feito o Melhor Governo “desse País” em todos os tempos; o mesmo que disse ser a pessoa mais honesta “do planeta”; o “palestrante”, sem plateias ou registros que se jactou de ser um dos mais caros do Planeta; o homem que nos “ameaçou” dizendo que iria concorrer e ganhar o Prêmio Nobel da Paz; o “Francisco” que, ao contrário do Santo, fez a alegria dos ricos, que o adoravam por isso, à custa da crença dos pobres, devidamente deixados sem instrução; tem o calhamaço que o incrimina dormitando indefinidamente em alguma gaveta privilegiada em Brasília. Até quando?
*Professor Titular e Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará. Escreve aos sábados neste espaço do Jornal O Imparcial desde abril de 2004.
1 Comentário
Colega Lemos, é esperar para comprovar.Eu acompanho todas as sessões do senado e da câmara federal. Prossiga nas suas assertivas política.