José Lemos.
Eu tive o privilégio de passar por todas as etapas da carreira de Docente que comecei na Universidade Federal da Paraíba no Campus de Campina Grande. Na época esse Campus fazia parte da enorme estrutura da UFPB que tinha sede em João Pessoa.
Iniciei a minha carreira de Docente como Auxiliar de Ensino. Passei para Professor Assistente, quando terminei o Mestrado. Concluído o Doutorado, eu fiz concurso para Professor Adjunto aqui na UFC. Aprovado, pedi demissão da UFPB e vim pra cá. Aqui ascendi para Professor Associado. Faltava apenas chegar ao topo da carreira Docente: Professor Titular. Em junho de 2015 eu defendi a Tese que eu havia levado alguns meses escrevendo e que fazia parte dos documentos que eu precisava reunir para fazer o concurso tão esperado por mim. Fui aprovado, e desde então ascendi ao topo da carreira Docente.
No prólogo da Tese que defendi eu escrevi: “Prover bem-estar e felicidade para as pessoas que amamos e que nos amam é uma das nossas missões durante a nossa breve passagem como inquilinos efêmeros deste belo Planeta. Portanto, não é nada mais além do que cumprir a nossa obrigação. Contudo, na minha avaliação é muito mais gratificante se, além de cumprir esta missão, pudermos com as nossas ações, trabalhos e atitudes, proporcionar bem-estar, alegria e felicidade para pessoas que não fazem parte do nosso circulo de afeição e que talvez jamais conheçamos. Fazendo assim, acredito ter valido a pena ter passado por este belo Planeta Azul.”
Para tentar cumprir essa opção de vida, ou qualquer outra, precisamos estar atentos às armadilhas que o transcurso do tempo e da nossa caminhada nos aprontam. Planos e projetos acalentados com carinho podem sucumbir diante de imprevistos. Quase sempre não nos preparamos para essas armadilhas. Sobretudo quando temos juventude. Fase da vida em que pouco ou jamais pensamos em finitude. Isso não é ruim. A juventude é para viver em intensidade. Nada de pensar em fim de linha. Isso deve ser deixado para a fase madura. Quando nos ficamos mais “chatos”.
Eu passei, de forma concreta, por dois momentos em que tive a sensação de que a minha trajetória por aqui havia terminado. Antes da primeira delas o maior susto que eu tive foi a sensação de quase ter perdido a visão do lado esquerdo em abril de 1998, devido a um descolamento de retina. Felizmente estive em mãos competentes aqui mesmo em Fortaleza, e a minha visão foi recuperada em plenitude.
A partir do ano de 2006 os meses de setembro passaram a ter conotação diferenciada para mim. Em 27 de setembro de 2006 eu experimentei por alguns segundos, que pareceram infinitos, a sensação da finitude, de que o meu contrato de inquilino e, nessa condição, de passageiro efêmero, estava sendo concluída. Foram momentos muito tensos, de pânico, desespero… Tudo junto… Indescritível no momento e motivo para reflexões, como esta que estou fazendo, decorridos 13 anos daquele dia.
O Governador Zé Reinaldo havia ascendido a essa condição em abril de 2002 por desincompatibilização da titular de então que seria candidata ao Senado. Na condição já de Governador ele havia projetado retirar o Maranhão da pior posição nos indicadores sociais e econômicos que desfrutava então. Ele me conhecia apenas pelos meus trabalhos nessa área. Ainda assim ele teve a coragem de me convidar para esboçar um projeto estruturante de combate à pobreza do Maranhão. Eu ajudei a desenhar o que se chamaria Programa de Desenvolvimento Integrado do Maranhão (PRODIM), que dependia de recursos do Banco Mundial, da ordem de US$40 milhões. Tendo conseguido a liberação, ele me convidou para coordenar a execução do programa.
Selecionamos e viajamos para os municípios mais carentes, por onde começamos, e conseguimos, o projeto de regeneração dos indicadores ruins do Estado. No dia 27 de setembro de 2006 fomos para São João do Caru, um dos municípios mais carentes do Maranhão. Antes havíamos passado em Bom Jardim, onde entregamos projetos para as organizações de agricultores daquele município também carente.
Era uma quinta feira de muito calor, nuvens rarefeitas em São João do Caru. Decolamos à bordo do helicóptero em torno das 13:15 de volta para São Luis, em viagem que duraria aproximadamente uma hora. No helicóptero estávamos eu, Zé Reinaldo, o Piloto e o Capitão Santana, Ajudante de Ordens do Governador.
O helicóptero decolou e, ainda na subida, apresentou pane no motor que movimenta a hélice que o faz decolar e manter estabilidade no vôo. Não tenho idéia da altura em que já estávamos. Mas eram presumíveis ao menos 200 metros. A habilidade, perícia e o sangue frio do Piloto, as mãos de Deus as orações da Dona Amélia (minha mãe, onde estiver) fizeram com que escapássemos todos sem qualquer sequela.
Ali nos foram transmitidas várias mensagens. Uma delas, difícil de aceitar, que a vida pode desaparecer de repente. Outra, que todos os nossos projetos podem sucumbir num lapso infinitamente pequeno de tempo. Realidades que temos dificuldades de assimilar. Que precisamos passar por momentos difíceis para tomar a decisão de viver cada minuto, como se fosse o derradeiro. E para refletir acerca da bobagem que representa a luta insana que possamos ter para acumular bens materiais nessa nossa passagem efêmera por este Planeta. Fazendo assim teremos enorme chance de, findo o nosso tempo por aqui, fomentar beligerâncias e intrigas entre pessoas que amamos. E o esforço que fizemos e que eu registrei no prólogo da minha Tese pode ter sido em vão.
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Texto para o dia 21/09/2019.