José Lemos
A CONAB e o IBGE divulgaram que no ano passado (2018) a produção de cacau no Pará superou, pela primeira vez, a da Bahia. É certo que a superação do Pará em relação à Bahia deveu-se, além do bom desempenho dos cacauicultores do estado, aos problemas com a safra baiana devida, principalmente, à seca. Bahia produziu 106 mil toneladas e o Pará em torno de 123 mil, no ano passado.
Mas tudo isso não é obra do acaso. Agricultura, a primeira tentativa cientifica da humanidade, já se vão 10 mil anos, é atividade que requer perseverança, dedicação, talento, conhecimento, entrega, pesquisa, coragem, algum grau de disposição ao risco…
Essa sinergia aconteceu com um grupo de profissionais no meado dos anos setenta que encontrou agricultores dispostos a acreditarem no que parecia ser uma loucura. Eram anos em que a agricultura paraense deslanchava nos arredores de Belém.
A então Escola de Agronomia da Amazônia (EAA), hoje Universidade Federal Rural da Amazônia, gozava de grande prestigio. Existia apenas o curso de Engenharia Agronômica. O vestibular era muito concorrido e difícil. A SUDAM viabilizava Bolsas de Estudo (um salario mínimo em valores de hoje) para os maranhenses fazerem aquele curso. Foi por isso que eu vim fazer Agronomia em Belém.
A EAA diplomava anualmente entre 50 e 60 jovens Engenheiros Agrônomos que eram empregados imediatamente. Na minha turma foram 67 os formados. Havia várias alternativas para os jovens Agrônomos desempenharem o seu talento. ACARs (hoje EMATERs), bem como Secretarias de Agricultura dos Estados da região Norte, do Maranhão, Goiás, Mato Grosso, SUDAM, Cooperativas eram algumas das instituições que lhes ofereciam trabalhos com salários remuneradores. No começo dos anos setenta os militares criaram a Rodovia Transamazônica. Ali se abriu outro campo quase ilimitado de postos de trabalhos para Agrônomos. Por aquela época a nossa profissão era uma das mais prestigiosas. Éramos os Genros que os pais gostariam.
Nesse clima, a ACAR-Pará, vinculada à Secretaria de Agricultura do Pará, trouxe para lhe dirigir os trabalhos dois jovens e talentosos Agrônomos gaúchos. Arno Schnider, para ser o Secretário Executivo e Augusto Simões, Secretário Executivo Adjunto e de Planejamento. A esse grupo somaram-se o talento do Agrônomo Cearense José Vanglésio Aguiar, que iria chefiar o Departamento de Estudos e Projetos, e o Agrônomo Maranhense Raimundo Cutrim, responsável pelo setor de controle e avaliação. Todos muito jovens com idade entre 25 e 30 anos.
A nossa turma colou grau no dia 02 de dezembro de 1972. No dia 6 de dezembro a então ACAR-Pará realizou curso para contratar extensionistas. Fomos trinta (30) os aprovados naquele concurso. Tomamos posse no dia 2 de janeiro de 1973. Depois de um breve pré-serviço em Belém fomos alocados nos Escritórios regionais espalhados em todo o estado do Pará. Parte do grupo iria atuar no projeto de colonização ao longo da Rodovia Transamazônica, no Trecho Altamira-Itaituba. Para lá foram alocados o Franco, para o Escritório de Altamira. Raimundo Kleber, Olinto (já falecido) e eu fomos alocados no Escritório do Km 46 na Agrópoles Brasil Novo (hoje município Brasil Novo). Lá encontramos o nosso Chefe, Raimundo Parente, que houvera se formado três anos antes na mesma EAA. Luís Alberto (Castanhal), Armando Cato (também já falecido), foram alocados na Agrovila do Km 70. Lá encontraram como Chefe do Escritório o maranhense José Eliel, que se formou um ano antes de nós. Todos nós estávamos com idade entre 22 e 25 anos. Coordenando os trabalhos na sede em Altamira, estava outro maranhense, o Edvaldo Cutrim, também egresso da EAA. Completando as equipes havia um grupo de talentosos Técnicos Agrícolas, Assistentes Sociais, Professoras com formação de nível médio… Todos muito compenetrados.
Era meado dos anos setenta. A ACAR-Pará fez convênio com a CEPLAC para iniciar o plantio de cacau na Rodovia Transamazônica no Trecho Altamira-Itaituba. Cabia a nós a execução do projeto. Saímos em busca de convencer futuros cacauicultores. Todos desconheciam a cultura. Fizemos cursos, treinamentos com eles. Dentre outras coisas lhes ensinamos que o cacaueiro não tolera excesso de luminosidade. Precisa de sombreamento. O provisório era de bananeira nanica. O definitivo era de Eritrina. Leguminosa parecidíssima com o Paricá. Vejam só!
Tendo selecionado os cacauicultores saíamos distribuindo as mudas juntamente com a adubação necessária para cada cova. Andávamos em Jeep Willys, em Estradas de difícil deslocamento. As mudas eram alocadas num reboque do Jeep. A nossa faina tinha hora para começar, mas não tinha hora para terminar. Não havia sábados, feriados, domingos. Precisávamos fazer tudo no tempo das águas. A distribuição das mudas se deu de Altamira até o Km 100, na então Rurópoles, hoje município de Medicilândia.
Vejo agora, com enorme alegria, em documento da CEPLAC que 61,2% da produção de cacau do Pará sai dali. E os maiores produtores são justamente: Altamira, Brasil Novo e Medicilândia. Valeu viver o bastante para ler e saborear essa informação. Fatos como esse justificam a nossa breve passagem como inquilinos Efêmeros deste Belo Planeta Azul.
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*Texto enviado para a Redação de O Liberal, em Belém, em 16/02/2017. Será publicado no Jornal Pequeno de São Luís, Maranhão, no dia 17/02/2019.