José Cursino Raposo Moreira*
A baixa qualidade da atual pauta das transações externas brasileiras é evidenciada pelo fato de a balança comercial do país apresentar saldo favorável apenas graças às matérias primas e alimentos vendidos ao exterior, já que no atinente aos bens de consumo, máquinas e equipamentos a situação nacional é francamente desfavorável. Isto é o que revela recente estudo publicado sob a chancela da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a pedido do jornal o Globo. .
Assim tem-se que o déficit comercial do setor de bens de capital, o de máquinas e equipamentos, cresceu de US$ 8,2 bilhões em 2008 para US$ 21,5 bilhões em 2010; já o de bens de consumo duráveis, como automóveis, televisores, eletrodomésticos e outros, no mesmo período, também se elevou, saindo de US$ 4,4 bilhões para US$ 11,2 bilhões. Enquanto isso, o comércio de matérias primas e de bens não duráveis apresentou saldos comerciais crescentes, evoluindo de US$ 27 bilhões em 2008 para 39 bilhões de dólares em 2010. O que caracteriza esta situação como de baixa qualidade é o aprofundamento da tendência de o país exportar crescentemente produtos com baixo grau de agregação de valor internamente, como é o caso das matérias primas, e, ao mesmo tempo, importar em ritmo crescente produtos industrializados. Estas circunstâncias contribuem para a criação de empregos e geração de tecnologia avançada no exterior, enquanto o Brasil vai se especializando na exportação de produtos mais simples e de menor geração de valor, com evidentes prejuízos para o seu desenvolvimento tecnológico.
Por sua vez, não se sabe até quando durará a conjuntura favorável do comércio de produtos primários, que tem beneficiado o país. Por outro lado, menos ainda pode o Brasil exercer controle sobre a dinâmica do comércio internacional desses produtos, encontrando-se em estado de dependência a uma situação que não domina, podendo sofrer efeitos malignos de mudanças súbitas de seu cenário, hipótese bastante provável nestes tipos de mercados. .
No meio industrial, em razão deste quadro, teme-se a ocorrência de um processo de desindustrialização No que diz respeito a máquinas e equipamentos, constata-se que de cada dez unidades destas que se compram no Brasil, seis são importadas, ao mesmo tempo em que se projeta um déficit de US$ 100 bilhões na balança comercial brasileira de manufaturados em 2011. No setor de automóveis, tem-se atualmente uma comercialização interna de 23 % de veículos importados, quando em 2005 era de apenas 5%. Na indústria de confecções existe a ameaça da competição chinesa, o que pode ocasionar o desaparecimento de 2,5 milhões de empregos nos próximos anos na cadeia têxtil, pois as confecções são fortes demandantes dos tecidos deste segmento.
O saldo obtido pelo comércio brasileiro nas condições mostradas acima precisa, portanto, ser requalificado, para gerar as divisas de que o país necessita, mas sem comprometer sua industrialização e desenvolvimento tecnológico. Assim a balança se equilibra.
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Economista e Conselheiro do Conselho Regional de Economia do Maranhão.cursinomoreira@elo.com.br