José Lemos*
O Ministério da Educação (MEC) divulgou nesta semana os desempenhos dos estudantes dos nível elementar e médio dos estados e municípios brasileiros em Relação ao IDEB. Pode-se resumir esses resultados numa palavra: desastre.
Esse desfecho não aconteceu por acaso. Decorreu de quase 14 anos de desatinos, de desvirtuamento do ensino, ancorado numa maciça e cara campanha publicitária, com o nosso dinheiro, tentando vender uma imagem que não existia. Um explicita falta de prioridade para o que de fato interessava aos estudantes dos níveis elementar e médio: apreenderem: ciências, história, geografia e línguas. Óbvio que o resultado não poderia ser outro em português e matemática, objetos da pesquisa do IDEB!
Em vez disso o que se viu foi a predominância do ideário ideologizado numa tendência clara que contaminou as escolas públicas deste País. Doutrinas que ensinavam fundamentos equivocados que colocavam em xeque princípios que sempre nos foram muito caros. Os resultados não poderiam ser outros!
Os professores deixaram de ter autoridade nas salas de aula. Quando tentavam exercitar o direito de fazerem os estudantes estudarem eram tidos como autoritários. As salas de aula se parecem com tudo, menos com que deveriam ser: espaços salubres para a troca sinérgica do conhecimento. Claro que não poderia dar certo!
Reprovação de quem não estava habilitado a seguir em frente passou a ser algo impensável. O “politicamente correto” era tratar os reprováveis como “coitadinhos”, passar-lhes as mão sobre as cabeças e deixarem-nos prosseguir na sua saga rumo ao fundo do poço. E com eles todo o ensino público. Óbvio que só poderia dar nisso!
As escolas públicas, principalmente, de nível elementar e médio deixaram de ser espaços de promoção do conhecimento e do patrulhamento do saber. Ao contrario, se tornaram em espaços de discussões inconsequentes, de desrespeito, de proselitismos inconsequentes. Do patrulhamento politiqueiro. Evidente que daria errado!
Professores desmotivados e mal remunerados, instáveis na função por quê terceirizados, tendo que aturar diretores nomeados em decorrência da sua militância politica, mesmo que estivessem em desacordo. A meritocracia não conta. Todos são nivelados por baixo. Sendo assim não valeria a pena esforçar-se para melhorar o seu desempenho. Firmou-se o pacto da mediocridade em que os professores (nem todos, claro) fingiam que davam aulas e os estudantes (também nem todos) faziam de conta que estavam aprendendo. O resultado não poderia ser outro!
Lembro que eu tive excelentes professores no Liceu Maranhense. A minha memória me remete para dois de matemática. O de álgebra, professor Sued, que iniciava as suas aulas pontualmente. Empolgava-se ao fazer as suas derivações algébricas no velho quadro negro, usando giz. Saia fazendo demonstrações e quando o quadro acabava ele não tinha qualquer pejo de seguir escrevendo pelas paredes. O Professor Ivaldes, que lecionava trigonometria, também era um abnegado e exigente nas suas aulas e provas. O professor de Português que chamávamos de “Picardia”, por sua vez nos exigia leituras, interpretação de textos, entender as raízes das palavras. O Professor de Biologia dissecava a composição do corpo humano e nos obrigava a estudar fundo todo o complexo celular. O Professor de História nos remetia aos primórdios da humanidade e depois nos trazia para a contemporaneidade, sem mascarar fatos ao sabor de ideologias. A de Geografia, Professora Maria de Jesus Carvalho, a nossa mãezona, não deixava por menos. E todos éramos cobrados através de provas sistemáticas. Os que não acompanhavam eram reprovados e repetiam no ano seguinte. Simples assim!
O Maranhão, para variar, ficou na rabeira na pesquisa do IDEB do nível médio. São Luís somente está na frente de Campo Grande entre as capitais no IDEB do nível elementar. Mas o Governo Federal criou as cotas nas Universidades Públicas (nem todas porque o ITA não aceita este tipo de estudante) para resolver o problema da mediocridade que vem da base. Este sim o verdadeiro golpe, inclusive com forte ancora preconceituosa. Nada a estranhar que o Brasil esteja mergulhado nessas trevas!
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*Professor Titular e Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará.