José Lemos
Todos nos lembramos do desastre natural que aconteceu no Nordeste do Japão no começo de 2011, quando um tsunami destruiu uma cidade, matou milhares de pessoas, deixou outro tanto desabrigadas, matou animais de estimação e de criação, e provocou estragos numa usina nuclear, que produz energia para aquela parte do país. Contudo, os japoneses com a tenacidade, responsabilidade, cuidado com a coisa pública que têm, em menos de dois anos já haviam praticamente recuperado tudo o que havia sido perdido. Porém, os traumas pelas perdas de parentes, amigos e animais, não recuperarão jamais. Mas a vida já está voltando à normalidade naquele país admirável.
Quando o Governador José Reinaldo assumiu, em abril de 2002, o Maranhão não tinha Secretaria de Agricultura no seu organograma administrativo. Os maranhenses não tem fenômenos naturais destruidores, como aquele do Japão, mas têm políticos que são capazes de provocarem estragos nas suas vidas com intensidade muito parecida com aquelas. É certo que não matam de imediato, mas o fazem no médio prazo, porque forçam as famílias a emigrarem para locais desconhecidos, onde não terão em que se ocupar, não serão alcançadas por serviços de moradia, saneamento, água encanada, já naturalmente precários. Quando existem. Um “tsunami” havia acontecido no estado, na forma de políticas públicas equivocadas, que provocou os primeiros estragos no meado dos anos noventa, e mostrou a sua maior capacidade destruidora, dois anos antes do final do século passado. O governo daquele período, primeiro esvaziou, e depois retirou de vez do organograma administrativo do estado a Secretaria de Agricultura. Mas não apenas ela. No que chamaram de “reforma administrativa”, com impacto semelhante ao de um “tsunami político” mandaram para os destroços e na mesma avalanche, as Secretarias de Meio Ambiente, Ciências e Tecnologia, dentre outras.
A primeira tarefa do novo governo foi consertar os estragos deixados pelo “tsunami político”. Começou pela recriação da Secretaria de Agricultura, fundamental num estado que é o mais rural do País. Um estado que ainda detém 21,6% de analfabetos e, cuja escolaridade média patina em 6,4 anos. Em cenários assim, qualquer um que entenda minimamente de administração pública sabe que a única vantagem comparativa e competitiva está no setor agrícola. Deslanchar esse setor é o começo de uma corrente virtuosa de progresso. Geram-se âncoras aonde os setores de transformação e de serviço, que no começo são incipientes, aos poucos vão encontrando demanda efetiva e expandem. Em todo lugar do mundo foi assim. No Maranhão, um rosário de incompetências fez diferente, e provocou, na economia do estado, resultados parecidos àqueles decorrentes de turbulências naturais que não temos por aqui.
Com a re-fundação da Secretaria de Agricultura, foram criadas as Casas do Agricultor Familiar (CAF), provedoras de assistência técnica, fomento e extensão rural. Providencias necessárias para a recuperação dos desatinos feitos sobre a agricultura familiar produtora de alimentos que, em 1998, houvera chegado ao fundo do poço produzindo 656 gramas por pessoa-dia, num estado que, em 1982, produziu 3.116 gramas diárias de alimentos per capita. Os resultados apareceram. O Maranhão, que em 1999 tinha participação marginal na captação de recursos do PRONAF, em 2006 saltou para a segunda posição no Nordeste, ficando atrás apenas da Bahia. A produção diária per capita de alimentos ascendeu para 1.720 gramas naquele ano. Um pico.
Contudo, ainda faltava recuperar um elo importante da cadeia que alavanca a agricultura: Uma entidade de Pesquisa. O Governador conseguiu trazer para o Maranhão uma extensão do Escritório da EMBRAPA do Piauí. No inicio funcionando precariamente com apenas três funcionários. Hoje o escritório se expandiu e se transformou uma unidade pesquisadora de Babaçu. Babaçu que é uma das grandes riquezas naturais do Maranhão e que vem sendo devastado, tanto pelos criadores de gado que o retiram para colocar pastagens, quanto pelos agricultores familiares, que eliminam as palmeiras, tocam fogo para fazerem a limpeza das suas áreas.
Contudo, acredita-se que esta prática esteja com os dias contados. Realizamos uma pesquisa com recursos captados pela ASSEMA que tem sede em Pedreiras. A pesquisa-ação, que envolveu um grupo selecionado de agricultores de Esperantinópolis, testou a possibilidade de cultivo em consorcio de lavouras alimentares (arroz, feijão, mandioca e milho) com palmeiras de babaçu em diferentes densidades. Depois de quatro anos de repetições experimentais em 12 lotes de um terço de hectare, a pesquisa mostrou que o cultivo em consórcio não apenas é possível, como pode prover renda monetária de R$6.308,00 por hectare-ano. Uma sacada, tendo vistas que a produção atual é de subsistência, e o PIB per capita do Maranhão é de R$ 6.888,60/ano. Esta renda é potencial, e será conseguida caso sejam aproveitados, além da amêndoa do babaçu para a produção de óleo bruto, o mesocarpo e o endocarpo do coco, na forma de carvão, que tem poder calorífico bem maior do que o derivado de estacas de madeira. De quebra, ainda poupa a vegetação nativa que não precisa ser cortada para ser transformada em carvão.
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*Artigo publicado em 13 de abril de 2013