José Lemos
Nem o mais ferrenho adversário do Partido dos Trabalhadores de posicionamento mais à direita, e que tivesse urticária ao ouvir falar de socialismo no Brasil, imaginaria que apenas treze anos depois do partido chegar ao poder, o seu maior líder, estivesse às vésperas de prestar depoimento à Justiça Brasileira acusado de atitudes que o partido e ele próprio atribuíam à maioria dos políticos brasileiros.
Ao surgir nos anos oitenta turbinado pelas greves lideradas pelo seu líder maior nas montadoras situadas no ABC paulista, desafiando o poder forte e de exceção exercido pelos militares, o PT se apresentava com um discurso ético, revolucionário, renovador de hábitos e costumes políticos. Somente nos seus quadros estariam todas as virtudes das boas práticas políticas que vaticinavam o correto uso dos recursos públicos.
Depois de perder as eleições para o Governo de São Paulo, Lula, o candidato que aproveitava a sua condição de ex-operário e metalúrgico (função que exerceu por apenas oito anos), recebeu votação expressiva dos eleitores paulistas para representá-los no Parlamento a partir de 1987. Aquele não era qualquer parlamento. Tinha como grande responsabilidade escrever a nova Carta Magna do País para devolvê-lo feições de democracia participativa e criar condições para que os brasileiros finalmente pudessem estar ancorados em um documento que pudesse nos dar os rumos para o futuro. A participação dele, Lula, naquele momento politico foi pífia. A única “sacada genial” que teve foi dizer que havia 300 picaretas no Parlamento brasileiro de então, mas nunca os identificou. Todos foram maculados por aquela declaração.
O discurso politico do PT seduzia a juventude de então, boa parte dos professores universitários e estudantes. Fomos atraídos por aquela nova perspectiva de fazer politica. Era o espaço de que precisávamos para o exercício do discurso das reformas, das mobilizações, da construção de um País mais justo para todos nós que o habitávamos e para as gerações futuras. O conceito de desenvolvimento sustentável, aquele que preconiza dias melhores para as gerações atuais, preservando a base de recursos naturais para as futuras gerações, começava e já era efervescente.
Imaginávamos então que não havia outro espaço capaz de exercitar os fundamentos daquele conceito, bem como a promoção da justiça social, da equidade na apropriação da renda e da riqueza, no fomento de melhores patamares de educação, no acesso das grandes massas de brasileiros aos ativos como saneamento e água encanada. Embarcamos todos naquela utopia. Mas as utopias são para ser fustigadas.
Nas primeiras eleições para Presidente em 1989 o País se dividiu. Os que eram do Bem estavam com Lula. Os que eram do Mal estavam com Collor. E o “Mal” prevaleceu. Para nós foi um sofrimento enorme. No dia seguinte à posse do novo Presidente já estava a militância do PT, e o seu maior líder, pedindo o impedimento do novo Presidente. Foi feito um “Gabinete Paralelo de Ministros”, olha só, tendo como líder, claro, o Lula. Era o “Governo Paralelo”. Já tivemos disso sim no Brasil.
Depois vieram as eleições de 1994, em que eu não me envolvi diretamente porque morava nos EUA, onde trabalhava e estudava em Universidade da Califórnia. A de 1998, já de volta, eu estava lá firme defendendo a plataforma do operário candidato. O mesmo aconteceu em 2002, já bastante incrédulo, tendo em vistas os arranjos que foram feitos já sinalizando que o poder teria que ser alcançado de qualquer forma.
Poder que finalmente conquistado serviu para desnudar o caráter do Presidente, e de boa parte das lideranças do PT. Os mesmos que tinham discurso anticorrupção estão mergulhados até o pescoço em casos escabrosos. Destruíram a economia do País. Criaram um contingente de brasileiros que se acostumou a apenas receber transferências e que não se move para construir a sua própria vida com trabalho duro. O Presidente se aliou com aqueles que adjetivava com termos impublicáveis. Destruiu a Petrobrás que dizia defender. O PT com os aliados, mergulhou o País numa recessão que não se tem a dimensão de quanto será, e quando acabará. Recrudesceu a inflação. Encareceu as energias depois de prometer que não o fariam, objetivando ganhar a eleição de 2014. A quantidade de analfabetos, em termos absolutos, aumentou nas ultimas contagens. Jogaram milhões de pais e mães de família no desemprego. Tolheu a perspectiva de jovens construírem um futuro. Não temos um resquício de faísca de luz no final deste tenebroso túnel que Lula, seu partido e seus aliados oportunistas nos meteram.
Mas o pior legado do PT no poder é fazer com que nós brasileiros acreditemos que todos os políticos são desonestos. No poder faz pior do que fizeram todos aqueles que dizia combater. Sabemos que a via de condução de uma sociedade tem que ser a democrática com representantes e dirigentes eleitos. Técnicos como eu, emitem opiniões (corretas ou não), mas não decidem. Quem decide são os políticos. Ao serem todos nivelados por baixo pelo PT, ficou difícil a construção de um novo País a partir dos escombros que este partido nos legou. E o pior que não vislumbramos alguém com vocação de estadista e que possa, de forma desprendida, assumir o rescaldo e reconstruir a Nação que precisamos ter para os nossos descendentes. Já nem falo mais por mim.
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 13/02/2016.