José Lemos
Na semana passada escrevi neste espaço que o Maranhão teve num passado, nem tão remoto assim (2002/2006) uma experiência de administração que mostrou que é possível fazer diferente e melhor com poucos recursos, bastando usar a criatividade.
O então Governador José Reinaldo houvera herdado um estado falido, com uma dívida contraída no Governo anterior, que não se sabe onde foram aplicados os recursos, que deixou um rombo que corroía mensalmente parte o orçamento estadual.
Diante daquele caos financeiro o Governador partiu para a luta para otimizar os recursos que restaram. Começou reconstruindo a Secretaria de Agricultura, que havia sido eliminada do organograma administrativo do estado pela gestão desastrada que o antecedeu.
Com a recriação da Secretaria de Agricultura foram criadas as Casas dos Agricultores Familiares (CAF), agencias de assistência técnica, extensão e fomento rural. Como não era possível colocar CAF em todos os 217 municípios, o Governador dividiu estrategicamente o estado em territórios ou sub-regiões onde eram alocadas sedes que trabalhavam irradiando o seu campo de atuação nos municípios adjacentes.
Apenas com aquela ação inteligente, o Maranhão que tinha participação apenas marginal na captação de recursos do PRONAF para os agricultores familiares em 1999, chegou em 2006, ao final do Governo de Jose Reinaldo, como o estado que ficou no segundo com mais captação daqueles recursos, apenas ficando atrás da Bahia, que tem mais do que o dobro dos municípios maranhenses.
Ato contínuo, a produção agrícola familiar de alimentos teve um salto significativo, depois de ter passado pelo seu pior resultado em 1997/1998 quando o então governo teve a ideia infeliz de retirar a Secretaria de Agricultura do organograma administrativo do estado.
Em 2002, o Maranhão possuía o pior índice de desenvolvimento humano entre todos os estados brasileiros (0,636 de acordo com a metodologia antiga de calculo do IDH). O Governador havia colocado como meta mobilizadora do seu governo chegar ao IDH de 0,700 em 31 de dezembro de 2006. Para tanto foram criados vários programas de mitigação da pobreza, dos quais o de maior visibilidade e com mais recurso foi o PRODIM que falei dele na semana passada. Com um conjunto de ações simples, mas aplicando de forma correta os recursos, o Governador entregou o estado do Maranhão descolado da ultima posição em termos de IDH e com a meta estabelecida previamente mais do que superada. Fomos para um IDH=0,705, sempre avaliando em termos da metodologia anterior à atual que começou a ser implantada em 2010.
O Maranhão tem saídas. A nossa maior chaga é a elevada quantidade de analfabetos maiores de 15 anos, quase um milhão de conterrâneos que nos proporciona a maior taxa de analfabetismo do Brasil, de aproximadamente 20%. A escolaridade média dos maranhenses também é a menor do Brasil. Na média, mal passamos dos 6,5 anos de escolaridade.
Nada mudará na nossa terra, como de resto em lugar algum do mundo, com taxas tão expressivas de deseducação. Há em economia uma teoria chamada de Capital Humano que preconiza que o progresso econômico depende muito da qualidade e do vigor da força de trabalho. A teoria rendeu ao seu criador, um economista americano Theore Schultz, o premio Nobel de Economia em 1968, Esta teoria experimentou e continua experimentando críticas por aqueles que acham que a visão dela é tecnicista. Contudo, os críticos, além de não mostrarem alternativas, acabam admitindo que sem educação as pessoas estarão fadadas a serem massas de manobras, não construírem os seus destinos, e serem vítimas de aventureiros.
Então o que precisa é “radicalizar” na educação para “derrubar” essa taxa de analfabetismo e elevar a escolaridade média, com escolas de qualidade, equipadas com bibliotecas, laboratórios, professores qualificados e bem remunerados.
O Governo do estado deveria patrocinar olimpíadas de matemática, química, física, biologia, português, inglês, e estimular a disputa anual por parte dos estudantes dos níveis médios das escolas públicas. Aquelas escolas que tivessem melhores desempenhos com os seus estudantes receberiam bônus por parte do governo, e os professores orientadores dos estudantes vencedores ganhariam incentivos salariais.
Um programa massivo de redução da taxa de analfabetismo de adultos poderia ser obtido mediante o envolvimento das igrejas católicas e evangélicas espalhadas pelos rincões maranhenses. Seriam buscados tutores voluntários que poderiam receber uma remuneração simbólica (por ser trabalho voluntário) para alfabetizar as populações nos povoados usando como instrumento o cotidiano da vida das pessoas. Os alfabetizandos iriam para as aulas levando algo do seu cotidiano e aprenderiam primeiro a desenhar o nome do objeto, depois ler e escrever normalmente. Ao final de cada período de formação de turmas, que eu estimo ser de seis meses, seriam feitas grandes solenidades de formatura em que os formandos (alfabetizados) receberiam uma Bíblia de presente e escolheriam um trecho para ler alto e em bom som. Acho que poderíamos avançar muito se algo assim fosse feito. Fica a sugestão.
*Professor Titular e Coordenador do Laboratorio do Semiárido na Universidade Federal do Ceará.