José Lemos*
Nas ultimas duas semanas eu apresentei, sem que ninguém me pedisse, algumas ideias acerca de alternativas que eu imagino poderiam ajudar o Maranhão a descolar da última posição que mantem em todos os indicadores sociais e econômicos.
Tenho enfatizado que a nossa maior chaga é a deseducação. Quase um milhão de maranhenses maiores de 15 anos são analfabetos, aproximadamente um quinto da população do estado nesta faixa etária. Apenas 31% dessa população tem escolaridade acima do nível elementar (nove anos continuados de escola) como se depreende dos dados brutos publicados pela PNAD/IBGE de 2014. Um desastre!
O economista americano Thodore Schultz (1902-1998) lançou em 1962 um trabalho seminal que dizia que a produtividade do trabalho, vale dizer a renda do trabalhador, está relacionada com a sua qualificação. Em trabalho recente de 2015 quando fiz a Tese para prestar concurso para ascender à categoria de Professor Titular aqui na UFC eu lancei mão dessa postulação, conhecida como “Teoria do Capital Humano” para mostrar que nos municípios do Nordeste (inclusive nos 217 maranhenses) esta relação se confirma. Portanto, como eu escrevi nos dois primeiros textos desta série, não sairemos de onde estamos com os atuais níveis de escolaridade.
Educação é obrigação do Estado. Entendido no sentido lato: Federal, Estadual e Municipal. A Federação está distante dos nossos problemas, inclusive de um ponto de vista geográfico. Quem está presente e sabe das nossas agruras somos nós. Precisamos bater pesado na porta da Federação e fazer o dever de casa para atender as nossas necessidades de incrementar a escolaridade das nossas crianças, jovens e nocautear a taxa de analfabetismo dos adultos. Com efeito, a maior incidência de analfabetos está na população adulta com 30 ou mais anos. São 898 mil maranhenses nesta condição de serem analfabetos. Desse total, 479 mil estão nas áreas rurais o que, proporcionalmente à população que ainda sobrevive nessas áreas e nesta faixa etária, nos dar uma taxa incrível e inacreditável de 41% de analfabetos. Lembrando que o Maranhão é o estado que, relativamente, tem a maior população rural no Brasil.
Em locais com patamares tão críticos de escolarização, fica difícil atrair atividades que requeiram mão de obra mais qualificada, e utilizadoras de tecnologias modernas. Caso empresas assim sejam atraídas, elas terão que trazer junto a força de trabalho. O que é desinteressante para um estado que precisa gerar empregos.
Em situações assim, o setor rural pode apresentar uma contribuição significativa. Sem descuidar da elevação da escolarização da força de trabalho, o estado monta um aparato técnico, de assistência técnica, fomento e extensão rural, visando prover o desenvolvimento rural. Isto segurará parte da população nessas áreas em condições adequadas. De outra forma essa gente migrará para as cidades e fará parte dos cinturões de pobreza e contribuirá para o incremento do caos urbano que já conhecemos.
Não há no Brasil um estado que tenha tantas condições, como o nosso, de fazer uma revolução agrícola e rural. Tendo em vista que o nosso Maranhão tem uma vocação incrível para a produção vegetal e para a criação de animais. Temos o segundo maior rebanho bovino do Nordeste. Certo que tem qualidade discutível.
E há alternativas interessantes. Há dois anos se desenvolve um trabalho de pesquisa na região do Munim, uma das mais devastadas do estado. O trabalho, que eu tive o privilégio de opinar e até de participar de parte da pesquisa de campo, e análise dos resultados, mostra que naquele lado a criação de abelha nativa e sem ferrão (“tiúba”) pode ser uma alternativa de renda para as famílias. Não da forma que é praticada atualmente. Naquela área poderiam ser desenvolvidos, com incentivo do serviço de assistência técnica do estado, projetos de implantação de cultivos de cajueiro “anão precoce”. Variedade criada pela EMBRAPA que tem maior produtividade do que a espécie “gigante” que é a normalmente explorada (não cultivada) de forma extensiva por ali. Podem também ser incentivados projetos de reflorestamento com o cultivo do mirinzal, árvore que produz uma madeira de qualidade e que foi abundante naquelas bandas, num passado nem tão remoto assim, como nos disseram as pessoas mais idosas que entrevistamos. O trabalho com abelhas nativas a que me refiro mostra que as floradas das árvores de mirim e dos cajueiros gigantes são duas boas fontes de néctares para a alimentação das abelhas nativas produzirem mel de altíssima qualidade.
Além do mirim, cajueiro anão precoce, o serviço de assistência técnica do estado pode incentivar a disseminação do cultivo de mangaba, ainda bastante encontrada naquela área, cuja floração é muito “visitada” (como dizem os criadores) pelas abelhas tiúbas. Há ainda alternativas interessantes, como o cultivo de Jussara ou Juçara (açaí fora do Maranhão), como mata ciliar dos rios Munim, Una e os seus afluentes. A popa da Juçara (ou Jussara) tem grande aceitação Brasil adentro e que, se cultivada com manejo adequado, pode produzir palmito de forma sustentável. E a florada de Juçara ou Jussara, é pasto que as “tiubas” não dispensam, como nos disseram os seus criadores.
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*Professor Titular e Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará. Escreve neste espaço no O Imparcial desde abril de 2004. Já se foram mais de 600 textos inéditos.