José Lemos
Imagine-se uma situação em que um trabalhador se voltasse para o patrão e lhe dissesse que, ele lhe paga o salário, mas fará o trabalho da forma que lhe aprouver, não tendo que dar qualquer satisfação ao patrão. O empregado que agisse assim, seria taxado de louco, inconsequente, irresponsável. Todos já sabem qual seria o seu destino: Seria posto para fora do emprego. Sumariamente.
Os senhores Juízes dos ditos Tribunais Superiores do Brasil, chamados pomposamente de Ministros (nos EUA e em países sérios não tem essa pompa) dizem que tomam as suas decisões pouco se importando com o que pensem os brasileiros. Os seus patrões. Nós pagamos uma carga absurda de impostos diretos e indiretos para prover-lhes régios salários, que nenhum outro brasileiro ousa receber pelo trabalho suado como empregado. Pagamos-lhes regimes de férias que nenhum outro trabalhador tem neste País de tantas carências. Provemos-lhes casas pomposas para morar. Passagens aéreas, carros de luxo, com combustível e motoristas. Aquelas indumentárias ridículas que lhes são colocadas às costas, segundo o que nos ensina o insuspeito historiador Marco Antônio Villa, são-lhes apostas por um serviçal que é pago somente para isso. Por nós, claro. Não bastasse tudo isso, ainda há deles que precisa de alguém para puxar-lhes e empurrar-lhes aquelas confortáveis cadeiras (eles não podem sentar em qualquer uma, como nós que lhes pagamos as contas) para sentarem e levantarem.
Ficam ali com aquele ar de entes superiores. Extraterrenos. Com linguajar rebuscado, parece que propositadamente caprichado para que não sejam entendidos pela maioria, e parecerem sapientes. Vez em quando tentam buscar textos de autores que, desconfia-se tenham lido apenas as orelhas, e fazem citações para tentar mostrar uma erudição que se duvida alguns deles possuírem.
Os brasileiros comuns não sabem como é que conseguiram chegar àquelas posições de vestais vitalícios. Um processo anterior que envolve lobbies junto aos poderosos. Sim, elas não são conquistadas exclusivamente pela meritocracia. Há Juiz que manifestou voto aberto à atual Presidente. E tem mais casos estranhos.
Em frente aos holofotes se esmeram em falações intermináveis para justificar votos que, em geral, quem lhes acompanha a trajetória já antever o desfecho. O ex-Juiz Joaquim Barbosa, um dos poucos que honraram o cargo que exerceu com dignidade, chegou a falar em caloroso debate do Mensalão que alguns dos seus pares estavam ali mais para defender interesses de alguns poderosos e não dos brasileiros. Talvez por isso tenha saído prematuramente, nos deixando órfãos numa daquelas Cortes.
Nestes tempos em que milhares de pais de família perdem empregos todos os dias num ritmo que não se via até essa gente chegar ao poder em 2003, e em que aqueles que conseguem permanecer no trabalho veem a remuneração ser corroída por uma inflação de dois dígitos e sem perspectivas de recuperação de atividade econômica em pelo menos dois anos, os senhores Juízes se comportam de forma absolutamente imune a essas causas. Isto não importa. Não tem parentes nesta condição. E tudo isso foi causado por uma governante despreparada. Alguém que mostra, toda vez que abre a boca, não ter a menor condição de dirigir sequer um carrinho de bebê, pois pode fazer com que ele deslize e vá parar debaixo de carros em alta velocidade. Uma senhora e um partido que colocam à deriva o destino de duzentos milhões de habitantes. Nada disso conta na cabeça daqueles senhores pomposamente vestidos e pagos às nossas custas.
Mais de noventa por cento da população demonstra que não quer mais essa senhora com algum poder nas mãos, porque sabe que a sua simples presença significa mais caos. As manifestações de rua do dia 13 de dezembro, em que fomos espontaneamente com faixas, em um domingo nada significam. Os meios de comunicação, sobretudo o Jornal Nacional (JN) e o Datafolha se encarregaram de dizer e, assim dar fôlego para os senhores Juízes, que a manifestação pró impeachment foi enfraquecida porque “apenas” 43 mil pessoas estiveram nas ruas. Ao contrário da manifestação contra o impeachment que havia mais de 50 mil. Tudo na contagem deles Não dizem, no entanto, que os 43 mil saíram das suas casas no domingo, às suas custas para dizerem que não querem mais este governo. Os outros o fizeram no meio da semana, em horário de trabalho. Para quem trabalha. Óbvio. Em São Paulo, o Prefeito liberou os funcionários públicos, pagos com os impostos dos paulistanos para a manifestação. Soube-se que foram colocados ônibus à disposição, lanches e até pagamento financeiro. Mas nada disso foi dito pela voz empostada do âncora do JN, muito menos consta das “estatísticas” fajutas do Datafolha.
E os senhores Juízes, os donos dos nossos destinos (que país é este?) se reúnem, pomposamente, durante três dias, justamente para dificultar os caminhos que nós queremos: um Brasil livre dessa gente. Agiram contra os interesses da maioria dos brasileiros. Mas nós, a grande maioria descontente, venceremos. Apesar deles, do JN, do Datafolha, dos partidos e dos políticos que não conseguem viver, por falta de habilidades, distantes das tetas do Tesouro públio que nós cevamos com o nosso suor.
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*Publicado em O Imparcial do dia 19/12/2015.