José Lemos*
Essa turma que está no poder há mais de 12 anos, com a minha ajuda lá no começo (Ah se arrependimento matasse!), conseguiu o que parecia impossível: desajustar tudo o que havíamos consertado com grande sacrifício, sobretudo da população que eles dizem ser protetores: os mais pobres.
Nunca se viu neste País uma sequencia tão grande de incompetências e de irresponsabilidades administrativas como nestes anos que começaram lá atrás em 2003. Os que não têm memória curta lembram que quando havia a possibilidade do então candidato Lula ganhar a eleição em 2002, a atriz Regina Duarte foi para a televisão dizer que tinha medo do que poderia acontecer com o País se aquilo se concretizasse. Na época eu, e todos que apoiávamos o candidato, claro, execramos a atriz.
Fechadas as urnas e consolidado o resultado com a vitória daquele que passou a vida inteira vendendo a imagem de ex-operário comprometido com as causas populares, e assim nos enganou, o mundo econômico quase veio a baixo. A inflação disparou. A cotação do dólar foi para as alturas. A maior parte do segmento formador de opinião e que decide sobre a geração de negócios e de empregos, avaliava aquela ascensão da mesma forma que o fizera a atriz global. Regina Duarte tinha razão. Infelizmente!
Tendo ascendido ao poder começou a mostrar o homem vaidoso, megalomaníaco, arrogante, dono da verdade. Pior, inescrupuloso. O Professor Marco Antônio Villa da Universidade de São Carlos, lhe tem uma definição perfeita: “O princípio de Lula é não ter princípio”. Não se pode negar o enorme carisma que ele tem e a sua grande capacidade ilusionista (eu fui um dos que se iludiu com ele). O discurso populista, repleto de erros gramaticais (ele se regozija de jamais ter lido um livro) contagiava multidões. Claro, num país em que 49% da população maior de vinte e cinco anos não completou o nível elementar, segundo denuncia o Censo Demográfico de 2010, alguém que acena com um prato de comida para o dia seguinte, ancorado em impostos que pagamos com o nosso suor, sempre será louvado. E ele soube tirar proveito deste estado letárgico da população brasileira. Não é por acaso que nos últimos anos, o total de analfabetos no Brasil aumentou, como se depreende a partir das evidencias apresentadas nas três últimas PNADs do IBGE.
Com essa gente no poder, o fundo do poço está sempre mais em baixo. Quando imaginávamos que já havíamos visto tudo, eis que a Presidente envia para o Congresso Nacional um orçamento com déficit de R$30 bilhões. E a conta parece ser bem maior, pelo que nos ensinam quem tem proximidade dos números. Planejar um orçamento deficitário é a confissão de incompetência e dar pistas aos investidores que o ambiente de negócios não é promissor. Economia é ciência social aplicada que também tem nas expectativas dos agentes econômicos um forte componente definidor do que acontecerá no futuro. E um dos elementos que balizam essas expectativas é como está sendo administrado o orçamento do setor público. Sendo explicitamente deficitário é o caos.
Imagine que um pai de família, um de nós, planejemos para o nosso próximo ano que gastaremos mais do que ganharemos. Estaremos fadados a mergulhar em dívidas em efeito cascata, cair em mãos de agiotas, pagar juros. Dificilmente um pai de família responsável será capaz de fazer um desastre assim. Antes entra em acordo com os membros da sua família para saírem fazendo cortes das despesas que podem ser adiadas. Fazem o seu ajuste familiar porque sabem que esta situação não é sustentável.
Mas a Presidente e a sua trupe teve o desplante de fazer isso. Qualquer pessoa iniciada minimamente no estudo de Macroeconomia sabe que um déficit orçamentário do setor público só pode ser financiado de três formas: via emissão de moeda (o governo é o único agente que pode fabricar dinheiro) e ai causando inflação. A outra forma é vendendo títulos das dívidas públicas, interna e externa. Para atrair compradores desses papéis precisará manter remunerações elevadas, melhores do que qualquer alternativa. Leiam-se juros elevados, e o agravante da elevação da dívida pública que terá que ser paga com juros compostos e em moeda conversível, no caso dos papéis vendidos para o estrangeiros. A terceira opção de financiamento de um déficit orçamentário do setor público é elevando a carga tributária. Neste caso provoca-se retração econômica, estimula-se a sonegação fiscal e se provoca recessão. O PIB cai e uma alíquota maior de impostos incidirá sobre renda em queda. O resultado será retração (em vez de elevação como queria o Governo) da arrecadação. Em geral os governos utilizam as três opções.
Isto posto, com a brilhante ideia de enviar um orçamento deficitário para o Congresso, a Presidente, que se diz formada em Economia (Economista ela não é), nos manda estes sinais para logo mais: inflação e juros nas alturas; recessão; desemprego. Tudo isso junto faz a pior combinação possível: estagflação. E ainda dizem que não há motivo para impedi-la de governar por vias legais. Caso essa gente continue desgovernando o País, a fila de desempregados aumentará, o País não terá a menor chance de retomar uma trajetória virtuosa de progresso. Os mais pobres pagarão de forma mais dramática o desgoverno: com mais desemprego, salários corroídos daqueles que conseguirem manter o emprego, devido à inflação, erosão dos valores da bolsa família (menina dos olhos dos governantes atuais), via inflação, piora dos serviços públicos que tem nos pobres a maior clientela. Paradoxalmente o governo que diz que veio para beneficiar os mais carentes, lhes imprime o maior massacre de que se tem noticias desde a era Collor. É isto que queremos?
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*Texto publicado no O Imparcial do dia 5 de setembro e no Jornal Pequeno do dia 6/09/2015.
1 Comentário
Professor Lemos, o senhor acha que deveria haver dupla vacância, em se tratando de empeachment? na sua opinião, quem deveria ocupar o cargo, considerando a sucessão eleitoral para o Poder Executivo?
Abraço!