Luz de Reij **
Quem carrega o peso desse nome, carrega também a expectativa de personificar as qualidades daquele que foi o pai adotivo de Jesus, o Filho de Deus.
Dentre tantas qualidades de José, duas receberão aqui um destaque especial: a obediência e a humildade. Como todo bom judeu, José era conhecedor da Palavra de Deus. E a Palavra é sempre uma promessa que irá se cumprir, porque Deus não mente.
Sendo um homem justo, como afirma o texto bíblico e conhecendo a Palavra, José não hesitou quando o anjo lhe apareceu em sonho e lhe disse que não tivesse medo de receber Maria como esposa, pois, ela estava grávida do Espírito Santo. Esse acontecimento já era esperado e anunciado desde o profeta Isaias. Ao ouvir o anjo, José simplesmente obedeceu.
Em todas as vezes que o anjo do Senhor se dirige a José para lhe dar alguma orientação, o que acontece sempre em sonho, José obedece.
Foi assim quando Maria engravidou, quando tiveram que fugir para o Egito, porque Herodes queria matar o menino, quando voltaram do Egito, enfim José obedeceu sempre.
Podemos nos indagar qual a razão para tamanha obediência. A resposta é simples, mas não é fácil de seguir: aquele que confia na Palavra de Deus sabe que Deus faz boas todas as coisas e que Ele pode dar uma resposta positiva até às realidades negativas.
No entanto, a obediência vem carregada por outra qualidade espetacular de José, a humildade. Não seria possível obedecer sem humildade. Quem é humilde não se arroga de nada e José nunca se arrogou de ser o pai adotivo do Filho de Deus.
Os textos bíblicos são discretos em relação a José. Claro que os evangelistas queriam destacar a mensagem que Jesus trazia, os ensinamentos sobre o Reino de Deus e o que fazer para alcançá-lo. Mas até nisso José foi humilde, recebeu pouco destaque, passou quase despercebido nos Evangelhos, aparecendo apenas em Mateus e em Lucas.
Praticamente os textos falam de José na concepção e no batismo de Jesus, na fuga para o Egito e no retorno de lá, quando Jesus tinha doze anos e se perdeu dos pais na festa da Páscoa e mais tarde, quando Jesus pregava às multidões e alguém pergunta: – Não é ele o filho do carpinteiro? E só.
José sabia que cuidava do Filho de Deus. Foi com ele que Jesus aprendeu sobre a Torá – a Lei e os profetas e toda a Palavra do Antigo Testamento. José foi humilde e paciente, abdicou de todos os seus sonhos tendo em vista a missão de cuidar do Filho de Deus, lhe dando todo o suporte para que também Jesus pudesse cumprir o Seu projeto.
Quando Jesus foi crucificado, certamente José já havia morrido. Naquela época, a viúva ficava a cargo do filho varão. Caso uma mulher ficasse viúva e sem filhos homens, ela perderia todos os seus bens e ficaria desamparada. Tudo leva a crer que Maria fosse viúva, pois do alto da cruz Jesus confia Sua mãe ao discípulo muito amado, conforme Jo 19, 26-27: Jesus ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!”. A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu.
Claro que existem interpretações para essa fala. A mais aceita é que o discípulo muito amado, que não tem nome específico, sou eu e você, representa todos nós, a humanidade. E Maria a mãe de todos os homens. E João (Evangelista) acolhe Maria em sua casa. Mas, também poderia ser que Maria, viúva e sem filhos, estaria desamparada.
Segundo os estudiosos bíblicos, Maria tinha 16 anos quando engravidou. Toda menina judia a partir dos três anos de idade começava o estudo da Palavra de Deus e a partir dos doze anos poderia se casar. Mas todas deveriam permanecer virgens, porque qualquer uma delas poderia ser a mãe do Messias, que era esperado. A saudação do anjo a Maria: Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo! E depois, na saudação de Isabel: “Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!”, refere-se a esse acontecimento tão esperado e tão conhecido dos judeus, conforme Isaias 7,14:
“Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que a jovem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emmanuel”.
José, na sua simplicidade e obediência, acatou a ordem de Deus acreditando que a promessa se cumpria, certamente aceitou a missão confiada a ele pelo anjo do Senhor, acolheu Maria e o Filho de Deus em sua vida, como razão de sua existência.
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*Texto escrito por uma leitora que o fez comentando o meu texto publicado em 17-03-2017 sob titulo “A grande responsabilidade de ser um José”.
**Nome fantasia da leitora que prefere não se identificar.