José Lemos
O IBGE acaba de publicar os resultados amealhados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) com dados referentes ao ano de 2014. De lá se extraem os dados brutos para os quais fazemos uma avaliação de como está o nosso estado. Continua muito difícil a situação maranhense. Como falo no vídeo que está na internet a grande tragédia do Maranhão é a deseducação.
Com a divulgação dos dados da PNAD de 2014 constata-se que a população analfabeta maranhense maior de 15 anos se elevou em 2014 relativamente ao que acontecia em 2008. De fato, em 2008 existiam 841.409 analfabetos maiores de 15 anos no Maranhão o que proporcionava um taxa de analfabetismo de 19,4%. Em 2014 os analfabetos maranhenses somavam 958.301, portanto 116.892 a mais do que existiam em 2008. Em 2014 a taxa de analfabetismo do Maranhão saltou para 19,6%. A escolaridade média ficou estável, em 6,5 anos. Mas a população que tinha menos de nove anos de escolaridade (nível elementar) representava um percentual de 64%.
Essas evidências sugerem que a grande tragédia maranhense, que é a deseducação da sua população, continua a nos atormentar. Qualquer procedimento que vise melhorar a qualidade de vida dos maranhenses não terá qualquer chance de avançar se este indicador não for revertido de forma radical.
Por esta razão é que eu falo sempre que tenho a oportunidade em fazer uma revolução na educação maranhense. Isto significa não apenas elevar a quantidade de matriculas em todas as faixas etárias, mas elevar dramaticamente a qualidade do que é ensinado nos embora as maiores taxas de analfabetismo aconteçam na população maior municípios do estado.
O maior percentual de analfabetos tem idade igual ou superior a 50 anos. Para estes precisa-se de um programa de alfabetização de adultos que seja ancorado na realidade em que vivem: A maioria nas áreas rurais. Em 2005, cheguei a discutir com o então Secretario de Educação do Governador Zé Reinaldo, um Professor da UFMA muito competente, Doutor por uma Universidade inglesa, um projeto de redução do analfabetismo de adultos no Maranhão. O projeto consistia em envolver os fiéis militantes das igrejas católicas e evangélicas que tem grande capilaridade no estado. Esses militantes agiriam como tutores, com remuneração paga em forma de bolsa. Os adultos analfabetos aprenderiam a ler, escrever e fazer contas simples, utilizando os instrumentos e os objetos do seu cotidiano. Eles trariam alguns desses itens para a sala de aula (por exemplo, raizes de mandioca) e aprenderiam a escrever o nome. Trazendo em quantidades pequenas, aprenderiam a contar, fazer somas, subtrações, multiplicações e divisões. O programa seria intensificado com aulas ao menos três vezes por semana (sempre às noites) no próprio ambiente das igrejas. Ao final de seis meses “colariam grau”. Na oportunidade receberiam uma Bíblia de presente. Escolheriam um pequeno trecho bíblico de no mínimo dez linhas que leriam em voz alta no ato da solenidade. Acho que algo assim, ou parecido, poderia estimular a redução drástica do analfabetismo de adultos, num prazo reduzido, sobretudo nas áreas rurais. Infelizmente o então Secretário foi substituído e o projeto morreu no nascedouro. Mas fica a ideia.
Os jovens teriam escolas públicas equipadas com biblioteca, computadores, quadras esportivas. E professores bem remunerados. Além da prática de esportes, os estudantes, em tempo integral (o dia inteiro na escola), teriam a opção de aprender música, tocar um instrumento. O estado e os municípios promoveriam olimpíadas anuais de matemática, ciências, português, inglês e estimulariam a competição entre as escolas. Aquelas, cujos estudantes ficassem com as melhores pontuações receberiam incentivos. Tudo isso complementado com merenda escolar comprada dos agricultores do município ou do seu entorno. Acho que por ai poderíamos mitigar a nossa maior tragédia: a deseducação. E melhorar a renda. Assim o desenvolvimento humano teria duas das suas ancoras fortalecidas e isso seria captado por qualquer índice que afira bem estar, inclusive pelo (IDH), que muita gente boa fala nele sem ter a noção de que ele é apenas um “termômetro”: um aferidor. Não se “melhora IDH”. Incrementa-se o desenvolvimento humano com politicas como as sugeridas neste texto. O IDH (ou qualquer outro índice bem concebido) irá captar os avanços. Simples assim!
*Texto publicado no O Imparcial do dia 5/12/2015.