José Lemos*
A atual crise hídrica e de energia que experimentamos no Brasil é anunciada. Ninguém que tem poder de decisão pode falar que foi pego desprevenido.
Com efeito, entidades internacionais, dentre elas as Nações Unidas vêm advertindo acerca dos problemas climáticos que se rebatem inexoravelmente na escassez de água. O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2006 daquela entidade internacional foi todo dedicado para a discussão dos problemas da falta de acesso à água de qualidade e ao saneamento que afligia em torno de 2,5 bilhões da população do planeta que, naquela época, estava quase atingindo os atuais estimados sete bilhões.
Saneamento inadequado e dificuldades no acesso à água de qualidade caminham juntos como se fossem irmãos siameses. Os problemas climáticos estão associados ao desmatamento, ao adensamento de grandes conglomerados urbanos em prédios de estruturas compactas, assentados em terrenos sem qualquer permeabilidade, devido ao asfalto e ao cimento que ali são colocados e contribuem para que as águas pluviais aconteçam de forma mais escassa e sejam desperdiçadas, sobretudo nas áreas tropicais.
Nas áreas de climas sub-temperados, ou temperados, formam-se montanhas que ficam cobertas de gelos no inverno e degelam no verão. Essas águas dos degelos, juntamente com as pluviais, se precipitam e corroboram para a recarga dos aquíferos de superfície e subterrâneos desses locais.
Nas áreas tropicais, como Brasil, as únicas fontes de recarga de mananciais hídricos vêm das chuvas. Estas por sua vez se formam a partir de nuvens que dependem bastante da cobertura vegetal. A vegetação corrobora na produção de nuvens carregadas de vapor d’água que se juntam à evaporação das águas dos oceanos, num complexo movimento de ar que devido às mudanças de temperaturas e de pressão, provocam as chuvas. Precipitando-se na direção da terra, a água das chuvas precisam encontrar as copas das árvores que lhes amortecem a queda sobre o solo. O sistema radicular das plantas de todos os portes funcionarão como sistema venoso e a irrigará para a recarga dos lençóis freáticos. Não havendo este complexo sistema sinérgico as águas pluviais provocarão arrastes de solos e assoreamento de aquíferos. Assim, a manutenção de enormes e contínuas áreas de vegetação é benéfica para a formação e o armazenamento da água das chuvas. As nascentes dos mananciais precisam estar sempre bem vegetalizados para que os rios, riachos ou córregos não morram antes de nascerem.
No Brasil, além da devastação de florestas, equivocadamente, a maior parte da geração de energia provém das hidrelétricas que, por óbvio, precisam de fontes que devem estar cheias o ano inteiro para poder fazer girar as turbinas que irão produzir a energia nossa de cada dia. Quando a recarga do sistema não se dá devido à falta de chuvas por seguidos anos, forma-se o caos que estamos vivenciando no momento.
Então as fontes das crises de abastecimento de água e da energia são previsíveis e, por isso, deveriam ser criadas medidas para que não acontecessem e provocassem os estragos que estamos vivenciando no Brasil. A proteção da cobertura vegetal, evitando desmatamentos desordenados, contribuiria em muito para a formação de nuvens carregadas de água e, portanto, para que as chuvas se tornassem menos intermitentes.
O Brasil, mais do que a maioria dos países, tem oportunidades enormes de desenhar uma diversidade de fontes geradoras de energia. Podemos construir parques eólicos e / ou de energia solar. Esses parques não precisariam ser constituídos de megaestruturas. Mas reunidos em aglomerados menores, estrategicamente localizados e interligados que possibilitem produzir e distribuir energia.
O Maranhão tem um potencial enorme para contribuir tanto na manutenção da sua ainda abundante bacia hídrica como para produzir energia de fontes alternativas. Em 2006, no finzinho do Governo de José Reinaldo, foi iniciado um projeto piloto de preservação do Rio Itapecuru que começava com a recuperação da sua mata ciliar. Naquela época o projeto foi tão impactante que a Secretaria de Agricultura de então recebeu várias demandas de populações situadas em outras bacias que queriam projetos parecidos. Infelizmente aquela iniciativa morreu tão logo aquele governo findou.
O Maranhão também tem enormes chances de contribuir na produção de energias limpas como eólica e solar. E ainda pode usar biomassa, como dejetos animais para produção de biodigestores que geram energia para pequenas unidades. O endocarpo do babaçu possui elevado poder calorífico e pode, na minha modesta avaliação, ser utilizado como matéria prima para produzir energia elétrica para iluminar pequenas unidades agrícolas familiares maranhenses, sobretudo em locais mais remotos. Agora que saímos do pesadelo que nos afligia há anos, podemos finalmente deslanchar.
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 28/02/2015 e no Jornal Pequeno do dia 01/03/2015.