José Lemos*
Era meado de 2013, a Direção do Conselho Regional de Economia do Maranhão (CORECON-MA) que havia me condecorado com o honroso titulo de “Economista Emérito” me convidou para escrever um dos sete Capítulos do Livro que receberia o título de “Ensaios sobre a Economia Maranhense”, publicado em agosto de 2014.
Os colegas do CORECON conheciam as três edições do meu livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre” e também haviam acompanhado o trabalho que eu executei, com muita dedicação, como Secretário de Estado em duas pastas do então Governador José Reinaldo (2002-2006), e queriam que eu registrasse no capitulo do livro parte daquelas experiências.
Escrevi um Capítulo denso a que designei de “Maranhão: Um Estado (ainda) Rico em Recursos Naturais com População Empobrecida”. No título do trabalho eu tentava sintetizar os contrastes que a nossa terra apresenta.
Possuímos ao menos cinco rios perenes: Tocantins, Parnaíba, Itapecuru, Mearim e Munim. Todos esses eles têm afluentes, sob as formas de rios menores ou riachos, que os irrigam, formando um “sistema venoso” que privilegia uma parte do nosso estado com uma relativa fartura de água. Isto sem falar na pluviometria privilegiada que prevalece no Litoral e na parte ocidental do estado, fronteiriça com a Amazônia.
Os nossos solos não são dos melhores, em termos de fertilidade natural, mas há uma predominância de áreas planas, que facilitariam procedimentos agrícolas mais elaborados, não fosse a nossa grande indigência tecnológica.
Em 1995 eu publiquei dois trabalhos na Universidade da Califórnia na minha última estadia por ali como Visiting Scholar (1994/1995). Num desses trabalhos sob título: “Desertification of Drylands in Northeast of Brazil” (Desertificação nas terras secas do Nordeste do Brasil) eu elaborei um instrumento matemático que me ajudou a mapear todos os municípios dos nove estados do Nordeste com base em indicadores de desertificação reconhecidos por entidades internacionais que cuidam do tema.
Naquele documento ficava demonstrada a “vocação” que boa parte dos municípios do Leste Maranhense já tinha para fazer parte das ASD (áreas suscetíveis à desertificação). Os indicadores de degradação dos recursos naturais dos municípios daquele lado do Maranhão, em muitos casos, já eram semelhantes, (até piores) àqueles que encontramos em municípios das ASD daqui do Ceará e do Rio Grande Norte, que são os dois estados com maiores inserções geográficas no Semiárido Brasileiro.
Em 2001 eu publiquei na Revista Econômica do Nordeste (REN) um artigo cujo título é : “Níveis de Degradação no Nordeste Brasileiro”, em que, com base nos dados do Censo Agropecuário de 1996, eu retomei partes do trabalho (a mesma metodologia) que eu havia desenhado na Universidade da Califórnia com dados de 1980 e 1985.
Neste, que é um dos meus trabalhos mais citados, fica confirmada a “vocação” que os municípios maranhenses do Leste têm para serem ASD. Neles, os recursos naturais desaparecem a uma taxa de aceleração alucinante.
Mais recentemente colegas da Universidade Estadual do Maranhão escreveram um documento seminal sob titulo: “PAE-MA: Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca do Estado do Maranhão” publicado em 2012, em convênio da Secretaria de Meio Ambiente e Ministério do Meio Ambiente.
Todos esses documentos tem em comum mostrar a forte degradação dos recursos naturais do Maranhão a olhos vistos, sem que qualquer iniciativa mais arrojada seja tomada para que haja reversão dessa tendência que, pelo andar da carruagem, inexoravelmente irá jogar todo o Leste do Estado em áreas desérticas. Por baixo, ali residem ao menos 1,3 milhões dos quase sete milhões da população maranhense. A grande maioria desse contingente em estado caótico de pobreza absoluta. Aquela em que faltam os ativos essenciais à sobrevivência com um mínimo de dignidade.
Por isso é que estamos numa luta quase quixotesca, que já dura doze (12) anos, de tentar sensibilizar as autoridades maranhenses no sentido de fazerem gestões junto à SUDENE e ao Ministério da Integração Nacional para reconhecerem esse estado de coisas. Os técnicos que decidem acerca do que é, e do que não é semiárido, o fazem fundados em estatísticas defasadas. Demonstrei em trabalho acadêmico, que transferi para o Governo do Maranhão, que a nossa indigência é tão grande que sequer temos condições de prová-la, tal é a nossa também pobreza tecnológica. Os técnicos da SUDENE que decidem sobre os municípios que estão ou não nas ASD (áridas, semiáridas e sub-umidas secas) o fazem com base em estatísticas desatualizadas, ou atualizadas com base no que dispõem. Onde não se consegue aferir, não chega até eles. A máxima “O que os olhos não veem o coração não sente”, é muito verdadeira. Cabe aos que tem poder de decisão, voz no parlamento, jogar luzes sobre a nossa realidade semiárida. Talvez o documento que elaboramos possa ajudar. Tomara que consiga.
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*Artigo publicado em 07/10/2017.