José Lemos
No vídeo (655 visualizações em 21 dias) que está no youtube, e no texto da semana passada, eu chamo atenção das nossas vantagens comparativas e competitivas. Como eu falei, o Maranhão é o mais rural dos estados brasileiros. Tem, proporcionalmente, a maior população rural, segundo o IBGE. Isto em vez de ser problema pode ser uma das nossas soluções.
Em áreas carentes, e com o grau de instrução que tem majoritariamente a população maranhense, é muito difícil entrar direto em aventuras de grandes projetos industriais de ponta. Grandes empreendimentos intensivos em tecnologias avançadas requerem mão de obra especializada que ainda não temos no estado. Infelizmente.
O Ceará está com empreendimentos interessantes e de ponta no Porto do Pecém. Nos arredores existem municípios paupérrimos, com o agravante (que não temos no Maranhão ainda) de conviverem com secas sistemáticas. Pois bem, nos povoados do entorno do Porto do Pecém estão se formando colônias de estrangeiros. Principalmente de Coreanos do Sul. Quando chegamos ali, imaginamos que estamos num pequeno pedaço coreano. E estamos mesmo. Por que é assim? Justamente porque os cearenses não estão habilitados para aqueles trabalhos que exigem elevado conhecimento. Importam-se as tecnologias avançadas e a força de trabalho também. Então não é importante o complexo do Porto do Pecém para o Ceará? Claro que é. Mas com ele introduzem-se arquipélagos de prosperidades ladeados por um continente de pobreza.
Há cinco anos o então Governador do Ceará, Cid Gomes, queria introduzir num bairro paupérrimo de Fortaleza, chamado de Titanzinho, um estaleiro. A Prefeita da ocasião, então aliada, Luiziane Lins, acertadamente, na minha avaliação, não liberou a obra. A justificativa do Projeto do Governo do Estado era que o Estaleiro iria criar pelo menos 1.200 empregos diretos. Contudo, como aconteceu em SUAPE, em Pernambuco, esses empregos não seriam para cearenses, muito menos para os moradores daquele bairro. Por uma razão muito singela: aquela gente não tinha e não tem qualificação para tanto. Para o complexo de SUAPE em Pernambuco vieram imigrantes nipo-brasileiros.
Então, eu não quero dizer que os grandes projetos não devam vir para o Maranhão. Apenas estou alertando que se eles vierem, com eles terá que vir a força de trabalho para acioná-los enquanto a qualificação da mão de obra maranhense for essa que eu mostrei no vídeo e no texto da semana passada.
Por isso, na minha avaliação, o Maranhão precisa começar de imediato um projeto agressivo e radical de educação começando na fase mais tenra da vida, mas também reduzindo o nível de analfabetismo e incrementando a educação dos adultos. E para começar a gerar riqueza nós precisamos caminhar pelas trilhas em que temos vantagens comparativas e competitivas: a produção agrícola e a criação de animais.
Na Baixada maranhense, por exemplo, podemos elaborar projetos intensivos de recuperação de matas ciliares de mananciais de água de superfície cultivando juçara que os paraenses e os brasileiros (fora do Maranhão) conhecem por açaí. Produzir essa fruta ali, com adequada assistência técnica, é uma fonte importante de riqueza para aquela população que é uma das mais pobres do estado. Também na Baixada podem ser criados patos para serem vendidos no Pará. Esta ave, como sabemos, é parte ativa e contínua da culinária paraense. Ainda na Baixada podemos cultivar cupuaçu e cacau. Claro, sem descuidar das tradições dos cultivos de arroz, feijão, mandioca e milho, mas não com as tecnologias atuais. Em trabalho recente que está sendo publicado por Revista Cientifica Nacional eu mostro que podemos incrementar a produção destes itens no estado sem precisar avançar um único hectare a mais. Apenas lhes incrementando as produtividades por hectare colhido. Usando melhores cultivares e novas tecnologias.
No Leste Maranhense, na microrregião do Baixo Parnaíba, onde está outro bolsão de pobreza podemos incentivar o cultivo do cajueiro anão precoce. Cultivar desenvolvido pela EMBRAPA que tem elevada produção tanto de pedúnculo como de castanha. O Maranhão pode se agregar ao Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, para ser um dos grandes exportadores brasileiros de castanha de caju, como o são estes estados.
Do que sobra do babaçu, depois de retirado o mesocarpo (que pode ser usado em merenda escolar) e da amêndoa, pode-se gerar energia elétrica que é capaz de iluminar indefinidamente cidades de pequeno e até de médio porte. Caso atentemos para isso, logo sairemos do extrativismo e adentraremos nos cultivos de palmeiras de babaçu.
Agricultura é ciência complexa que envolve riscos. Embora existam unidades familiares e não familiares ambas são administradas por sujeitos que tem objetivos comuns: extrair do solo condições adequadas de vida. Criar instituições distintas para administrar o negócio agrícola (de qualquer porte), em vez de ajudar, atrapalha. Justamente porque não há definição de campos de atuação. Em não havendo prevalecem outros critérios que não os técnicos para as tomadas de decisões que afetam a todos. As decisões ficam lentas porque estarão ancoradas em vaidades pessoais de busca de poder.
Claro que não dará certo. Principalmente num estado pobre como o Maranhão.
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*Texto publicado em O Imparcial do dia 29/08/2015 e no Jornal Pequeno do dia 30/08/2015.