Jose Lemos*
Ontem assistimos às posses dos governadores dos estados e do Distrito Federal. No geral, revimos um “espetáculo” repetido, com raras exceções. Alguns governadores assumirão verdadeiras massas falidas deixadas pela irresponsabilidade dos governadores anteriores. Os casos mais graves são os do Maranhão e do Distrito Federal, onde os cofres públicos foram exauridos pelas administrações que já vão tarde.
Em geral observa-se que os Governadores, sobretudo aqueles pertencentes à base aliada, repetem nos estados a mesma estrutura mastodonte do Governo Federal. Um número excessivo de Secretarias. Algumas com designação exótica que não conseguimos entender o significado e a razão de terem sido criadas. Não passarão de mais ônus para os cofres combalidos desses estados. Aqui no Ceará o Governador eleito seguiu à risca a cartilha do seu patrono. Aliás, sem o patrono e sem a máquina do paupérrimo estado do Ceará, ele jamais conseguiria o feito. Mas o foi e, com muita “criatividade”, na reunião dos Governadores recém-eleitos do Nordeste, sugeriu a ressurreição da CPMF. Os outros governadores, mesmo também sendo aliados do governo central, parecem não lhe ter dado bolas. Isto mostra ao que veio. Depois esbanjou “talento” na escolha dos Secretários. Colocou na Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado um político que sequer tem curso universitário. Seguiu o modelo da sua Chefe, a quem chama de “Presidenta”, que também colocou no Ministério da Ciência e Tecnologia, alguém que jamais escreveu sequer uma Monografia de conclusão de curso de Graduação. Mas ele lidará com a comunidade científica nacional. Dará opiniões sobre as temáticas científicas. Terá reuniões de trabalho com os Reitores das Universidades Federais (Doutores e alguns pós-Doutores), decidirá sobre projetos a serem financiados pelo CNPq, ou se envolverá com os problemas da CAPES que coordena os cursos de pós-graduação do país. Monoglota, como o daqui do Ceará, terá que “dialogar” com autoridades de outros países. Seria bom consultar os Currículos de ambos na Plataforma Lattes do CNPq. Deve ter assuntos relevantes para a Pasta.
Aliás, ter gente em cargos de Secretários de Estado, ou de Ministro, sem dominar os assuntos das Pastas é muito comum nestes tempos de Governos em que a designação dos titulares para esses cargos depende dos interesses dos caciques partidários, em vez de serem do interesse de quem elegeu o Governador ou a Presidente, como conviria. Foram os governos tucanos que inventaram desdobrar o Ministério da Agricultura em fatias, para poder saciar o apetite infindo dos aliados políticos. Hoje temos o Ministério da Agricultura que, segundo dizem, é para cuidar do Agronegócio. Dele saiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário que, segundo os “iluminados”, é para cuidar dos agricultores familiares. Neste Ministério o orçamento é bem menor do que no outro. Mas tudo bem. Alguém buzinou nos ouvidos da Presidente que o agricultor familiar não trata a sua atividade como negócio. É apenas para contemplação e para produzir comida. Para esses dois Ministérios a Presidente designou, respectivamente, uma Psicóloga e um Advogado. Agrônomo nem pensar. Certo que a Psicóloga é produtora rural. Mas isso não lhe dá condição para entender, planejar e executar os complexos sistemas envolvidos na produção agropastoril. Assim com um Mestre de Obras, ou um bom pedreiro, não conseguirá jamais planejar a estrutura de um prédio, tarefa exclusiva dos Engenheiros Civis. Do Advogado que está no Ministério que seria voltado para os agricultores familiares, sabe-se apenas que ele é muito bom de panfletagem e na distribuição de Bolsa Família. Agricultores familiares de qualquer porte tem uma estrutura produtiva que envolve complexos conhecimentos de solos, meteorologia, disponibilidade hídrica, ocorrência de pragas, doenças, colheita, armazenamento, mercados para os seus produtos. Precisariam dialogar com alguém que conheça minimamente estes problemas. Advogados, até onde eu saiba, não recebem este tipo de treinamento. Mas um deles dará os rumos da agricultura familiar brasileira neste País nos próximos anos. E salve-se quem puder!
O esquartejamento das Secretarias de Agricultura chegou aos estados. Neles também se acomodam os interesses políticos, em vez da vontade dos que votaram nos eleitos. Estado promissor na produção agrícola, o Maranhão que tem em torno de 2,5 milhões de hectares para serem ocupados com lavouras temporárias, e outro tanto com lavouras perenes, um rebanho de mais de sete milhões de cabeças, terá os seus rumos conduzidos por profissionais de duas Secretarias, inspiradas no modelo federal, que não são formados em Agronomia. Aqui, como no Brasil, segue-se a máxima de Pero Vaz de Caminha: “Em se plantando tudo dá”. O CREA, as Associações dos Engenheiros Agrônomos do Maranhão e do Brasil, não deram um pio. Até onde eu saiba.
No seu discurso de posse, a Presidente, em mais um dos seus atos falhos, falou com toda a “humildade que lhe caracteriza”, que reconhece “parte” dos equívocos dos seu primeiro mandato. Mas ai arrematou ao seu estilo que irá “melhorar as distorções”. Talvez por esta razão que nomeou como Ministro da Educação um senhor cuja única incursão que se sabe dele na área foi tentar acabar com uma greve de Professores colocando a polícia para “resolver” o problema e dizer que professor é para trabalhar sem receber salário. Além disso, o estado que ele governou, por longos e intermináveis oito anos, somente tem status educacional menos ruim do que Maranhão, Piauí, Alagoas e Paraíba. Faz todo sentido a nomeação. E o Brasil segue deitado em berço esplêndido!
*Artigo publicado no Jornal Pequeno do dia 4-01-2015