José Lemos*
Em 1994 o dia das mães foi celebrado em oito (8) de maio. Aquela foi a última oportunidade que tive para abraçar e beijar a minha mãe. Naquele dia, eu e dois filhos adolescentes, viajamos para os Estados Unidos para ficar por dois anos, em busca do meu último título acadêmico. Eles foram para estudar naquele país. Eu não sabia, embora tivesse sido avisado por ela, que aquela seria a última vez que nos veríamos. No começo de novembro ela teve problema de saúde, ficou aquele mês inteiro em tratamento intensivo em Hospital de Fortaleza, morrendo no final do mês, e eu não pude vir. Não pude porque a minha bolsa de estudos, paga pelo CNPq, havia atrasado, e eu não tinha como bancar a passagem. Foi a maior pancada que levei do destino (se existir destino). Um sofrimento enorme. A conquista daquele título, que era fundamental para a minha carreira acadêmica, teve um preço muito elevado. Como consolo, restou-me não ter visto a minha mãe imobilizada, depauperada pela doença que a acometeu. Fiquei como última imagem aquela senhorinha de cabelos grisalhos acenando para mim à distância, com os olhos marejados.
Este parágrafo introdutório teve como objetivo sinalizar a motivação do texto desta semana que é falar de alguém fundamental nas nossas vidas, na véspera do dia em que o nosso calendário sugere ser seu dia. Nossa Mãe. Alguém, que na juventude, nos carregou no ventre por um longo período. Naquele lapso de tempo o seu corpo experimenta “deformações” causadas pelo ser que se desenvolve. “Deformações” que a tornam mais bonita, mais sublime. Os passos ficam lentos devido ao peso que carrega dentro de si, que se eleva à medida que o tempo decorre. Ela não reclama. Cuida do seu futuro bebê com carinho. Preparava-lhe as roupinhas com esmero. Caso saiba antecipadamente o sexo, já o faz levando em consideração este conhecimento. Caso não saiba, não fará diferença, produzirá roupas, indumentárias “neutras”. Sempre com carinho, devoção, paciência…
Durante a gravidez a futura mamãe submete-se a uma série de sacrifícios. Um deles é a precaução e até a privação de vida intima. Fardo que requer a compreensão do seu parceiro dando a sua cota de sacrifício. Finalmente o bebê nasce, e começa outra etapa de cuidados que se redobram, agora para que a criança não tenha dificuldades neste mundo repleto de maldades, que a mamãe conhece muito bem. Amamentar, trocar fraldas, permanecer em vigília para quando a criança chorar, ela está ali do lado para carregar-lhe nos braços, proteger, acariciar com palavras, com gestos, com carinho. Incansável!
Cuidará do filho na infância para que ele absorva fundamentos de vida, cresça saudável. Independentemente da posição que esteja situada na pirâmide social ou econômica, a mãe fará o que tem de melhor para tentar construir uma estrada sem obstáculos para o filho. Não conseguirá aplainar os caminhos, como gostaria, porque ao longo das nossas vidas são muitos os percalços que se nos apresentam. Quando eles aparecerem, a mamãe estará pronta para oferecer palavras, gestos, ações de conforto para que o(a) filho(a) saia da situação difícil que, por desventura, esteja envolvido(a). Sendo religiosa, apelará também para a ajuda Divina. Não será por falta de ações objetivas e subjetivas da mãe que o filho ou a filha deixarão de caminhar por caminhos mais suaves.
Contudo, nem sempre os filhos retribuem com igual denodo, discernimento, abnegação os carinhos e os cuidados que são dados pelas mães. Por paradoxal que pareça, os nossos primeiros conflitos quando adentramos na adolescência, quase sempre são com os pais, sobretudo com a mãe. Justamente aquela que tentou nos proteger e preparar para a vida. A mãe, quase sempre, será a última a saber de fatos importantes que acontecem na vida do filho ou da filha. É para a mãe que os filhos dirigem palavras duras. As mães tem uma capacidade incrível de antever prováveis dificuldades que os filhos irão encontrar ao buscarem determinados caminhos. Quando a mãe, por espírito de prevenção tenta chamar a atenção acerca do equívoco que o filho ou a filha podem estar se envolvendo, como resposta ouvem palavras duras. Do tipo “não se meta na minha vida”! “Deixa-me errar sozinho(a)!”. A mãe ouve e engole seco, com o coração partido, com o sofrimento estampado no rosto que o filho não consegue perceber. À mãe restará ficar na torcida para que nada de ruim aconteça com o(a) filho(a) a partir da decisão que irá tomar. Quando acontece o pior, e que o espírito materno, com incrível precisão, anteviu, o filho ou a filha voltam para casa e a mãe receberá com os braços abertos. Sem qualquer restrição.
Infelizmente avaliamos a importância da Mamãe que tivemos, quando a perdemos. Queremos lhe dizer então uma palavra de carinho. Falar-lhe o que não “tivemos tempo” de fazer enquanto ela estava viva. Não dá mais. Ela se foi. Talvez os filhos pudessem refletir sobre isso neste dia das mães. Melhor do que qualquer presente material será falar palavras de carinho para a Mamãe que ainda temos. Seja ela jovem ou idosa. Não importa. Um abraço, um beijo, um afago, será o bastante para lhe fazer feliz. Bem que eu gostaria de fazer assim com a minha Mamãe. Uma mulher incrível. Não posso mais. Infelizmente!
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 10 de maio de 2014 e no Jornal Pequeno do dia das mães em 11-05-2014