Jose Lemos*
Na semana passada discorremos acerca das características do lado ocidental do Maranhão onde se situam o que chamamos genericamente de “Baixada Maranhense”. Vimos os indicadores precários de qualidade de vida, sobretudo de renda, da maioria da população que sobrevive daquele lado do estado.
Falamos do paradoxo de uma região onde a natureza foi tão generosa em termos de paisagem e de dotação de recursos naturais e ser portadora de indicadores tão ruins. As causas fundamentais daquela situação é o descaso com que é tratada aquela gente do estado pelos vários governos que se sucedem no nosso estado.
Indo para o lado oposto do estado, na sua porção leste, a situação consegue ainda ser pior do que aquela que observamos no oeste do estado. Esse lado do Maranhão tem 44 municípios onde vive uma população que soma 1,33 milhões de maranhenses com um PIB per capita que, em valores de 2014, era de R$4.399,63 ou R$364,64 mensais.
Naquele ano o salário mínimo valia R$724,00 por mês. Isto significa que na média os moradores daquele lado do Maranhão sobreviviam com uma renda que equivalia a apenas 51% do salário mínimo.
Naquele ano o PIB per capita do Leste Maranhense variava de R$2.480,33 (o equivalente a 29% do salario mínimo mensal) em Santana do Maranhão a R$6.604,85 por ano (o equivalente a 76% do salario mínimo mensal) em Caxias. Observa-se também que em apenas nove (9), dos 44 municípios do Leste Maranhense, o PIB per capita superava a media daquele lado do estado.
Quem viu o texto que escrevi na semana passada constatará que a situação do Leste maranhense é muito mais grave do que o da Baixada. Essa parte do Maranhão experimenta dificuldades pluviométricas. Tem um balanço hídrico fortemente negativo na maior parte do ano. Balanço hídrico significa a diferença entre a chuva que cai e a água que evapora por causa do calor, da vegetação rarefeita, dos ventos. Nessa área os solos são muito arenosos com dificuldades para sustentar lavouras.
Estão no Leste do Maranhão os onze municípios que já identificamos apresentarem características de semiárido. Apenas nesses onze municípios sobrevivem mais de novecentos mil conterrâneos, e o Governo Federal insiste em não reconhece-los como pertencentes ao ecossistema do semiárido, o que acontece de fato. Isso proveria àquelas populações o acesso aos serviços diferenciados, recursos diferenciados, estratégias politicas diferenciadas que poderiam aliviar em muito o sofrimento.
Por força de um trabalho de pesquisa que eu tive o privilégio de participar em 2015 e no começo de 2016 eu viajei bastante para essa área. Ali fotografei a passagem rarefeita. Adentrei em locais de difícil acesso. Conheci a “Dona Sabida” no interior do município de Morros que foi tema de um dos meus textos nesta coluna que eu assino aos sábados. Aquela mulher simboliza o estado de penúria que prevalece na grande maioria das famílias rurais que sobrevivem daquele lado do Maranhão.
Naquelas viagens constatei que as pessoas desconhecem por completo a presença do estado. Não há assistência técnica nem extensão rural. A pouca assistência que recebem é feita, precariamente, pela abnegação de alguns poucos técnicos de uma ONG que atua naquelas bandas. Nunca ouviram falar que existe PRONAF nem para que serve. Totalmente esquecidos pela estrutura que governa o nosso estado.
Agricultores cujas lavouras praticamente inexistem. Os recursos naturais desaparecem numa velocidade incrível. Restam apenas alguns exemplares de Mirinzais, de arbustos de Muricis, Mangaba, cujas inflorescências servem de pasto para abelhas. Que são criadas de forma precária. A abelha “tiúba”, por exemplo, ainda é criada em muitos dos criadores que visitei na forma primitiva que eles chamam de “curtiço”. Esse e um repositório de abelha, em geral um tronco de madeira em putrefação, onde as abelhas fizeram os seus ninhos. Claro que não pode prover resultados satisfatórios.
Aquela região é muito parecida com a parte do Ceará que cultiva caju. Avalio que para ali poderia ser incentivado o plantio dessa fruteira. O cajueiro, além de se adaptar àquele tipo de solo arenoso, àquele clima bastante agressivo, tem a vantagem de produzir quando todas as outras atividades da roça já produziram. Produz na entressafra das lavouras alimentares. Por isso o seu cultivo representaria a garantia de ocupação dos agricultores durante todo o ano, numa atividade que tem um forte apelo comercial.
Também devido à agressividade climática, para aquele lado do Maranhão poderiam ser estimulados projetos de criação de ovinos e caprinos e um amplo e radical projeto de reflorestamento com manejo das espécies para que possam ser fontes de renda para os agricultores.
Mesmo na adversidade, o Maranhão tem condições naturais para criar instrumentos adequados para os seus filhos. Precisaria apenas ser mais bem cuidado por aqueles que foram eleitos para lhe governar e lhe representar no legislativo estadual e federal.
========================================================================
Professor Titular na Universidade Federal do Ceará. Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) nesta Universidade.
Curriculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5498218246827183