José Gualhardo Alvares Prazeres, como você ousou ir-se assim tão depressa e bem antes do combinado, cara?
Aos familiares do Gualhardo.
Convivi com o Gualhardo, o José, durante todo o Ginásio e o Cientifico nos bancos do Liceu Maranhense. Fomos muito próximos. Sonhávamos alto. Éramos um grupo de garotos que ainda tinha o Maneco (José Manoel Ribeiro Bastos), Herbert, Heliomar, Gonçalves de Jesus (Espírita), Pina, Frazão, Morais, Ivaldo, Érico e alguns outros. Aprontamos todas que tínhamos direito. Tivemos professores fantásticos que eu não declinarei os nomes para não cometer injustiças. Todos foram responsáveis pelos traçados das nossas trajetórias como profissionais e, sobretudo, como seres humanos.
Fomos juntos para o Cursinho Preparatório para o Vestibular do Prof. José Maria do Amaral. Estágio obrigatório para todos nós que queríamos encontrar os nossos caminhos. Lá também tivemos grandes professores.
Mas a nossa trajetória por aquele belo prédio cinza de janelas estilo romano (o nosso Templo em que convivemos os quatro anos do ginásio e os três do cientifico) nos proporcionou muitos momentos lúdicos. As aulas de educação física bem cedinho! Uma tortura para nós garotos. Tínhamos que chegar à quadra do Liceu antes das seis da manhã em três dias da semana. Mas as dificuldades se encerravam quando ficávamos perfilados em observância às ordens do Mestre, Educador Físico, que aproveitava aqueles momentos para encaminhamentos que foram definitivos nas nossas trajetórias por este planeta: Respeito, Ordem, Obediência aos Mestres aos Pais e aos mais velhos. As aulasse encerravam com uma bela pelada. Íamos para as nossas casas. Tomávamos banho, café e voltávamos para estar antes das oito para as aulas que se encerravam ao meio dia.
Participamos juntos de memoráveis desfiles dos “Dias da Raça” nos 5 de setembro. Vibramos juntos com as olimpíadas estudantis. Belas, jovens e calorosas tardes no Casino Maranhense. Havia as paqueras. Eu fazia um esforço enorme (sempre sem sucesso) para ser notado pelas garotas. Gualhardo era mais charmoso. Ao fim das aulas havia a descida obrigatória pela Rua Grande para, em frente ao Cine Éden, esperar as garotas dos Colégios Rosa Castro, Santa Teresa, do Liceu, São Luís, Ateneu descerem com as suas minissaias. Lindas. A torcida era para que um “vento buliçoso balançasse os seus cabelos” (como na bela Toada de Donato do Boi de Axixá), mas que também fosse um pouquinho mais generoso para irmos à loucura…
Gualhardo, talvez tenha morrido sem saber que ele teve grande influencia na minha decisão de fazer Agronomia em Belém. Eu fui fazer aquele vestibular por causa da Bolsa da SUDAM para os maranhenses que logravam passar no vestibular. Em valores de hoje a bolsa seria de R$1200,00. Garoto urbano, eu não sabia bem do que se tratava o curso para além da bolsa de estudo. Foi o Gualhardo quem me falou que o seu irmão, o Antônio, fazia Agronomia e ainda me disse que ele falava maravilhas do curso e da cidade de Belém. Eram as informações que faltavam para eu tomar a decisão.
Passei naquele que foi o único vestibular que eu fiz na minha vida, e fui para Belém. Lá eu conheci o Antônio Gualhardo, de quem fui calouro.
O tempo passou, e quis o destino que eu e o Antônio Gualhardo nos encontrássemos e trabalhássemos juntos na Secretaria de Agricultura do Maranhão. Antônio foi um dos meus melhores Assessores e Conselheiros naquela fase rica da minha vida Profissional. Fizemos uma grande pareceria e construímos uma grande afeição.
Gualhardo, o Garoto José, já exibia um enorme talento para a oratória. Tanto assim que não tivemos dúvida em escolhê-lo nosso orador oficial na festa de conclusão do Científico. Nossa despedida daqueles anos de glórias no Liceu Maranhense.
E agora eu soube da noticia que a estadia dele como inquilino deste Planeta Azul se encerrou. Gualhardo se foi. Mas deixou um legado de trabalho honrado, de competência e, acima de tudo, de dignidade que muito orgulha a todos nós que o conhecemos. Você se mandou meu amigo. Mas há uma certeza: Encontrar-nos-emos algum dia em outras galáxias. Eu tive um orgulho enorme de ter te conhecido e convivido contigo. Lamento não ter tido o privilégio de ficar mais tempo contigo por aqui. Afinal construímos carreiras profissionais diferentes. Em lugares diferentes. Mas eu sempre te cultuei como grande profissional de Medicina que foste neste Planeta, e como grande ser humano que serve de exemplo para as gerações que nos seguem.
Com muito pesar do seu amigo desde os tempos de bancos do nosso Velho e amado Liceu Maranhense. Transmito aos teus familiares a minha dor e as sinceras condolências. Imagino a dificuldade que está sendo para eles a certeza da privação em definitivo de alguém tão querido.
lemos
Em Fortaleza, às 22:05 do dia 22 de setembro de 2018.