Jose Lemos
Nesta semana, que começou no dia 29 de agosto, eu refiz um percurso que já trilhei muitas vezes como maranhense e profissional que gosta e precisa conhecer mais as carências e as potencialidades do nosso sofrido estado.
Algo que constato, e que ainda não me convenci se é bom ou se é ruim, é a capacidade que tem os nossos conterrâneos de estarem sempre renovando as esperanças, a cada ciclo de governo que se encerra e prenuncia a vinda de outro que eles esperam que seja diferente. Nos últimos tempos as frustrações tem se repetido, mas essa gente continua esperançosa de que um dia as suas vidas mudarão. Essa expectativa foi renovada quando Jackson Lago foi eleito Governador em 29 de outubro de 2006. Naquele dia eu estava no meio do furacão, entre todos, em plena Praça Maria Aragão, vendo como aquela multidão estava feliz e com as expectativas renovadas. Eles haviam experimentado um breve período de avanços no Governo anterior que gerou sinergias promissoras nas quais o então candidato a governador surfou para se eleger.
Em seguida os poderosos do estado se acumpliciarem com os do Poder Judiciário e promoveram uma das maiores violências contra um homem íntegro e contra uma população que havia recomeçado a pensar que as suas vidas poderiam ganhar outro rumo. Aquele golpe jurídico mergulhou o estado em trevas que começaram em abril de 2009 e se entenderam até outubro de 2014, quando o grupo que dominava o estado, depois de tê-lo feito mergulhar ao fundo do poço, parece ter sido arquivado de vez.
Lá estavam de novo os maranhenses de esperanças renovadas. Agora lhes parecia que o estado tomaria outro rumo. Contudo, parece que não é bem assim que as coisas estão acontecendo. No ano passado eu andei pela região do Munim num trabalho com produtores de abelha melípona e constatei que a administração pública do estado do Maranhão é a grande ausente naqueles rincões, que não estão tão longe assim. Simplesmente não há assistência técnica aos agricultores. O pouco que recebem de assistência vem de uma ONG que vem fazendo das tripas coração para sobreviver.
Quase todos aqueles agricultores jamais ouviram falar em PRONAF. Não tem acesso a mercados para comercializarem o pouco que conseguem produzir para além das necessidades familiares. Os acessos são horríveis. Sobrevivem das transferências que não podem substituir a vontade que eles tem de caminhar com as próprias pernas.
Estive nesta quarta feira no município de Lago do Junco, município que faz parte da região dos Cocais. Lá a ASSEMA (Associação em Áreas de Assentamentos do Maranhão) que tem sede em Pedreiras, desde 1989, faz milagres prestando assistência técnica às famílias de assentadas que fazem parte da associação.
Um dos “braços” fortes da ASSEMA é a COOPALJ (Cooperativa dos Agricultores Agroextrativistas de Lago do Junco) que processa amêndoas de babaçu transformando-as em óleo que é, em grande parte, exportado. Aquela Cooperativa realiza um trabalho interessante junto aos seus associados. Compra as amêndoas de babaçu a um preço diferenciado, o que força os atravessadores a comprarem dos não associados ao preço que ela pratica que, infelizmente, ainda é muito baixo: R$1,80 por quilograma. Valor que propicia uma renda de dezoitos reais para uma boa quebradeira de coco ao final de um dia extenuante de trabalho. Muito pouco. Mas fora das áreas de atuação da COOPALJ a renda ainda é menor do que esta. Além disso, a Cooperativa mantém e renova um estoque de mantimentos que são distribuídos em cantinas estrategicamente localizadas nos povoados do município, onde as quebradeiras de coco trocam as amêndoas por aqueles itens que são vendidos praticamente a preços de custo.
Na zona rural de Lago do Junco estão situados a Escola Família Agrícola de Lago do Junco (EFALJ) e o Centro Familiar de Formação por Alternância (CEFFA). Ambas abrigam filhos dos agricultores e adotam a pedagogia da alternância. A primeira atualmente educa 70 adolescentes entre 11 e 14 anos, entre a sexta e a nona série. A segunda escola é de nível médio, tendo atualmente 228 estudantes.
Sobrevivem de convênios que mantem com entidades internacionais e dos produtos que os agricultores que tem filhos matriculados fornecem para fazer parte das refeições. Os Professores, todos formados, têm vinculo precário de trabalho e recebem salários de R$1000,00 em apenas dez meses. Portanto, uma media mensal de R$833,33. Sem direito a férias remuneradas ou qualquer outro benefício. Uns abnegados.
O Governo do Estado do Maranhão é o grande ausente naqueles projetos de educação. E sabemos que a maior vocação do nosso estado é a agricultura e que a nossa maior chaga é justamente a deseducação. E que ela, a deseducação, é maior nas áreas rurais. Aquelas iniciativas são das comunidades, que inclusive já contam com instalações razoáveis, mas que faltam melhorar bastante. Faltam equipamentos, bibliotecas, tudo. Nada disso fez o Governo que se instalou em janeiro de 2015, renovando os sonhos daqueles jovens, se movimentar, para reverter esse cenário. Talvez fosse interessante o Governador ficar mais atento, buscar espaço na sua agenda e ir conhecer aquelas e outras experiências parecidas que tem no nosso estado. Certamente se empolgará, e as ações do seu governo poderiam se estender até ali. Fica a sugestão.
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*Artigo publicado no dia 03/09/2016 no O Imparcial.