José Lemos*
Desde que os políticos brasileiros descobriram que o futebol anestesia multidões, não fazem a menor cerimônia em tirar proveito de situações que lhes parecerem boas para aumentar o cacife eleitoreiro. Logo eles que se mantêm distantes, no dia a dia, do contato com a gente simples, que exercita com mais paixão o gosto por este esporte cativante. Pagam ingressos caros, lotam estádios, idolatram jogadores, sofrem por seus times. Esses são os eleitores a quem os políticos buscam cativar em períodos pré-eleitorais, buscando captar popularidade que esperam ver transformada em votos para “turbinarem” a carreira política. O futebol é um bom aliado. Imaginam e com razão.
Independentemente do perfil ideológico que dizem assumir, tem o mesmo comportamento oportunista. Com efeito, muitos políticos atuais, que se auto-proclamavam “puros”, “éticos” e, por isso, criticaram asperamente, os do passado que tiravam proveito desse “ópio” nacional, fazem, no presente, de forma até pior, o que aqueles que criticavam faziam no passado. Com efeito, quando o Brasil foi tri-campeão mundial de futebol em 1970, o General Garrastazu Médici deixava-se fotografar com radio de pilha (então na moda) ouvindo transmissão esportiva, porque assim fazia a maioria dos brasileiros. Tentava, com aquele gesto, cativar a popularidade que as ações do seu governo não eram capazes de fazer. Na época, mesmo com a censura à imprensa, foi duramente criticado por “gente boa” que tem poder hoje, porque estaria tentando tirar proveito daquele momento de êxtase da população brasileira. Quanta ironia!
Paulo Maluf, então Governador de São Paulo exorbitou. Com dinheiro dos pagadores de impostos, deu um fusca de presente a cada um dos tricampeões do mundo. Foi asperamente criticado na época, mas hoje é aliado dos atuais governantes do país, que exercitaram ácidas críticas àquele e a tantos outros dos seus atos. A cada título conquistado pela seleção, ou por um clube brasileiro, prefeitos, governadores, presidentes fazem questão de recebê-los em seus palácios ou gabinetes. A cena do jogador Vampeta fazendo piruetas em plena Rampa do Palácio do Planalto, sob os aplausos de FHC, então Presidente da República, seus Ministros e bajuladores, foi um desses momentos insólitos.
É por demais conhecida a retórica do ex-presidente da República, repleta de agressões grosseiras ao vernáculo, que não perdia a oportunidade de usar o futebol, nos seus intragáveis e contraditórios pronunciamentos diários. Chegou a comparar o “talento” do filho, que teve enriquecimento meteórico, pelo que se ler na imprensa, com o Ronaldo, jogador de futebol. Ex-atleta de grande talento que nos faria um grande bem se não falasse, e nos deixasse apenas deleitar com as suas jogadas geniais.
A atual Presidente da República extrapolou querendo tirar proveito da conquista de um time de futebol. Antes havia levado uma sonora vaia no estádio no começo da Copa das Confederações deste ano quando a multidão percebeu a sua intenção oportunista. O seu antecessor já houvera experimentado a sua de um Maracanã lotado. Ela, a atual Presidente, que nasceu gaúcha e viveu boa parte da sua história em Minas Gerais, conseguiu criar um factóide para tentar fazer média com os brasileiros anestesiados com o titulo de Campeão das Américas conquistado pelo glorioso Atlético Mineiro do outro Ronaldo, bem mais inteligente do que o homônimo. Para agradar a multidão que aplaudia o feito do “Galo Mineiro”, disse que quando criança frequentava assiduamente o Mineirão na companhia do seu pai. Ela que já tinha colocado no seu Currículo da Plataforma Lattes do CNPq que era Doutora em Economia sem ser, mais uma vez foi pilhada fraudando a verdade. Quando o Mineirão foi inaugurado em 1965, seu pai já havia morrido e ela tinha dezoitos anos. Provavelmente já estava engajada na luta armada, e não se envolveria com esse tipo de “futilidade” que eles sempre diziam, quando estavam na oposição, que era o ópio do povo. Ah mundão para dar voltas!
Neste ano de 2013, finalmente o Maranhão conseguiu exibir algo diferente para a crônica nacional que não fosse a liderança em pobreza, violência, maranhenses “exilados” pela exclusão social. O nosso Sampaio Correa conseguiu um feito inédito ao chegar ao vice-campeonato da Série C, ascendendo, com méritos, à segunda divisão. Pois bem um Deputado, de quem jamais se ouviu falar que tivesse qualquer afinidade com futebol, fez um pronunciamento na Câmara exaltando os feitos da nossa “Bolívia”. A Governadora do estado não passou em branco a ocasião. Ao contrário, vestiu-se de vermelho, amarelo e verde e se deixou fotografar assim. E sorridente. Uma torcedora fanática, diria alguém menos avisado. Uma forma de escamotear a impopularidade e conquistar simpatias para as eleições que se avizinham. Isso num estado com um quinto da população analfabeta e mais da metade daquela que vota sem ter concluído o nível elementar de ensino. Prato cheio. Ops! Urnas cheias de votos. Deve ter imaginado.
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*Artigo publicado em 7/12/2013