José Lemos
Quem me conhece sabe que eu sou fisgado em música. O rádio fez parte da minha vida desde a minha tenra idade. Ele foi um dos instrumentos que eu utilizei para estudar inglês, a língua que sempre me fascinou, claro, depois da nossa.
Em função da minha, “vocação musical” (não sei tocar qualquer instrumento) eu contabilizo preferências por um arsenal de músicas de todos os espectros. Para o meu gosto, a música é boa ou ruim. Não importa o tipo, nem eventuais rotulações. Gosto das letras que são sensualmente sutis ao falarem da aproximação entre homem e mulher. Para o meu gosto, o melhor evento que pode acontecer na nossa passagem como inquilinos efêmeros deste Planeta Azul. Sou também fascinado por músicas que exaltam as belezas da natureza.
A música brasileira, no geral, me cativa, mas também tenho grande apreço por aquelas de boa qualidade em outros idiomas, mas especialmente as cantadas na língua que Shakespeare enobreceu com o seu enorme talento. Por ser a minha segunda língua.
Dentre as músicas que eu aprecio, sem dúvidas “My way” é especial. Música originalmente escrita em francês que descrevia nos seus versos as dificuldades de um relacionamento amoroso em fase terminal.
A versão em inglês tem a mesma melodia, mas a letra é totalmente diferente da original francesa. Foi vertida pelo talentoso Paul Anka (“Put your head on my shoulder” e “Diane”, que foi vertida para o português, talvez sejam as suas músicas mais conhecidas por estas bandas tupiniquins). Nascido canadense adotou a cidadania americana. Na versão inglesa os “lyrics” da música mostram um homem maduro descrevendo os caminhos que escolheu para conduzir a sua trajetória na vida. Fala dos equívocos e dos acertos que avalia ter cometido. Dentre outras passagens nessa direção, um dos versos fala que o personagem teve que tragar comidas desagradáveis, mas que também teve a sabedoria de vomitá-las, eliminá-las. Na versão em inglês, foi cantada pela primeira vez em 1968 por ninguém menos do que Frank Sinatra (“The Voice”). Esta viria ser uma das suas músicas mais tocadas. Foi gravada também por Elvis Presley, pelo próprio Paul Anka e tantos outros musicistas dessa estatura. “My way” é, seguramente, uma das músicas mais gravadas e tocadas no planeta em todos os tempos.
Para mim ela também é muito importante. Tanto que a cito em dois trabalhos acadêmicos. O que me proporcionou o meu título acadêmico nos EUA e, mais recentemente, na Tese que preparei e defendi para fazer concurso para Professor Titular.
Nas minhas escolhas pela vida (“in my way”), eu tenho cometido miríade de equívocos e alguns acertos. Costumo atribuir uma ponderação desproporcionalmente maior para os acertos, que entram com sinal positivo nessa minha equação de vida, e uma ponderação propositadamente menor para a quantidade enorme de equívocos, que entram com sinal negativo. Assim, quando avalio de “forma ponderada”, manipulada por mim, para a minha paz interior, o saldo é positivo. E vou “Tocando em Frente” (Renato Teixeira e Almir Sater), com a certeza de que adiante “Pode Acontecer Tudo, Inclusive Nada” (Flávio José: “A natureza das Coisas”). Talvez faça isso por conveniência. Ser humano que eu sou, e sabendo das vaidades, das arrogâncias, das prepotências, dos arroubos de que essa espécie é bem dotada (eu não poderia ser diferente), isso acaba me fazendo um grande bem.
Dentre as opções que eu fiz para construir os meus caminhos (my way), acumular riqueza material, certamente não foi a mais importante. Não por falta de oportunidades, mas por convicção, ou talvez pela falta de talento. Jamais me imaginei sendo proprietário de imóveis de luxo, carros potentes, jóias, contas bancárias polpudas, portfólio recheado de aplicações financeiras, coleção de obras de arte de artistas famosos para exibir vaidoso para outras pessoas… Meus herdeiros não terão isso.
Em vez disso, optei por caminhos mais parcimoniosos. Um deles é estudar. Muito. Uma busca incessante por aprender mais. A cada dia que eu agora coleto com muita alegria tendo em vistas alguns momentos em que estive na iminência de perdê-la, eu me alegro quando aprendo e apreendo mais.
Dentre as minhas “vocações” de não ficar rico de um ponto de vista material, uma que pulsa em mim fortemente é também escrever textos que escapem do rigor cientifico, dos conceitos elaborados da Academia. Gosto de escrever textos para jornais. Aqui alcançamos um público maior e podemos usar uma linguagem mais leve, mesmo quando tratamos de temas técnicos. Faço isso por algum tempo. Durante quatorze (14) anos assinei aos sábados, uma coluna no Jornal O Imparcial daqui de São Luis.
Essa parceria se encerrou em outubro do ano passado. A minha rotina excitada das quintas e sextas-feiras quando tinha que “descobrir” e escrever textos inéditos para aquele jornal (foram quase 800) ficou estancada por quatro meses. Agora retomo com muito tesão no Jornal Pequeno (JP), também aos sábados. Este é o Jornal mais querido dos Maranhenses e que já me deu a honra de publicar vários dos meus textos.
Fiquei pensando de que forma começaria a minha jornada de articulista por aqui. Avaliei que poderia fazer de uma forma mais leve. Daí a opção por este texto. Espero que os meus leitores do outro jornal migrem para cá e continuem fazendo as criticas, sugestões e prossigam me proporcionando a generosidade das leituras qualificadas.
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*Primeiro Texto para o Jornal Pequeno de São Luis, 16/03/2019.