José Lemos*
Esta frase foi atribuída ao Presidente da França, Charles De Gaulle, ao definir o Brasil em 1962, Ele havia ficado irritado com o então Presidente João Goulart, devido à proibição da pesca de lagostas por barcos franceses na costa brasileira. Há especulações de que ele não houvera falado isso, e que tenha sido invenção dos opositores do então Presidente da República.
Polêmicas à parte acerca da autenticidade da autoria da frase, temos que admitir que concordamos com ela na integra. Ao menos no passado recente, e no presente, há motivos de sobra para acreditarmos que o Brasil, definitivamente, não é um País sério. Motivações para acreditarmos nesta assertiva não faltam.
Não pode ser sério um País que deixa de trabalhar em meados de dezembro para os festejos de fim de ano e apenas volta à rotina depois do carnaval, em fevereiro. E tendo “direito” à quarta-feira de cinzas para “repousar” da longa jornada das farras do carnaval. Como já está próximo ao final de semana, a quinta e a sexta-feira, já ficam devidamente “enforcados”. Ai vem o sábado, domingo, para esticar o “descanso”, porque ninguém é de ferro. Neste ano são ao menos 60 dias de esticada orgíaca.
Em quarenta dias teremos a Semana Santa. São mais quatro dias parados. Neste ano tem a Copa do Mundo, e o Brasil está lá. Claro que será “ponto facultativo” para os brasileiros torcerem pelos pupilos do Tite. A cada vitória do Brasil, teremos feriado no dia seguinte. Para comemorar. A cada derrota também pararemos para lamentar e ficar antenados no que dizem os “especialistas” acerca das possibilidades do time brasileiro.
Claro que não pode ser sério um Pais que faz um movimento de massas pedindo a redemocratização do País, o Parlamento vira as costas e decide que a eleição deve ser indireta e para o primeiro mandato aceitamos, sem voltar às ruas de novo, que assuma a Presidência da República, justamente a figura que foi o maior avaliador dos regimes que a maioria dos brasileiros daquelas passeatas queria se ver livre.
Parte-se finalmente para a primeira eleição supostamente livre para Presidente da República. Sabe-se hoje que os dois candidatos que a decidiram tinham por trás uma montanha de ilícitos. E nós, os brasileiros aqui da planície, acreditando que tudo transcorria normalmente. Por isso fomos para as ruas com as bandeiras dos dois contendores finais: Incrivelmente idênticos como se siameses fossem. Hoje sabemos.
Não é sério um País que tem governantes que constroem processos hiperinflacionários, devido às suas irresponsabilidades, e depois impõem “planos de estabilização monetária” com endereço certo de quem pagará as contas. Nós, os bobos.
Não há seriedade em um País que coloca no poder alguém que passou a vida inteira falando que ele e o seu partido eram os paladinos da ética, dos bons costumes, do bem cuidar os recursos públicos. Que governariam para a maioria da população e que, no poder, fazem exatamente o contrário. Sob a luz do sol, acenam como protetores dos pobres, e para isso usam programas copiados de Governo anterior (que antes diziam ser eleitoreiros) e, nas caladas da noite, fazem conluios com empreiteiros, banqueiros, que em troca de acesso às benesses dos recurso públicos superfaturam obras, saqueiam a maior estatal brasileira, de onde retiram propinas para turbinar o projeto de poder, e viabilizar o enriquecimento pessoal do Presidente, da sua família, dos amigos.
No projeto ilimitado de poder estava a escolha a dedo de “postes”. Dentre eles estava o casal que disputaria a Presidência da Republica, Governadores, Prefeitos e até Senadores. Ela, o “poste” Presidente, foi escolhida para resguardar-lhe o lugar enquanto ficava em quarentena esperando para dar o bote novamente. Ele, o “poste” Vice-Presidente, para assegurar os votos do partido que se especializou em avaliar falcatruas.
Pior, na oposição estava alguém que estava nivelado com aqueles que acabaram levando a maioria dos votos, sabe-se lá como. Mas se o vencedor tivesse sido o opositor, a nossa situação não seria diferente. Um País que ficou diante daquelas opções não pode ser sério. A que ponto nós chegamos!
Não pode ser sério um País em que uma pessoa, com todo um portfolio de denuncias e já condenado a mais de uma dúzia de anos de prisão, ainda encontra fôlego para dizer que é candidato à Presidência da República. Que os seus séquitos, parceiros das orgias com os nossos impostos acatem isso como normal, não se questiona. Mas o fato de existirem brasileiros, aqui na base da pirâmide econômica e social que admitam essa possibilidade, não pode ser atitude de um País sério. Principalmente porque nesse grupo de pessoas estão aquelas que fazem parte dos 13 milhões que perderam as fontes de rendas devido aos desmandos que aconteceram nesses 15 anos. Isso é masoquismo.
Não é sério um País que tem um Presidente, aposentado com privilégios, inclusive de precocidade, que quer impor aos brasileiros uma reforma da previdência que nós não lhe autorizamos, e que rotula de privilegiados nós que suamos para conseguir vagas no serviço publico mediante concursos públicos impessoais, e sacrificando parte da nossa juventude. E nós vamos ficar acomodados, sendo acusados de privilegiados e nada fazer? Temos uma arma poderosa nas mãos. Fiquemos de olhos e ouvidos atentos nos deputados que ao menos acenarem com a possibilidade de votar esse famigerado projeto. Daremos o troco a eles em outubro. É o mínimo que temos que fazer. Nós, e todos os brasileiros de bem, não permitiremos que essa reforma passe.
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Artigo publicado em 10/02/2018, sábado de carnaval.