José Lemos*.
Oscar Niemeyer foi um dos maiores arquitetos que a humanidade conheceu no passado recente. Imagine-se que ele haja concebido uma das suas belas peças arquitetônicas e a entregasse para um Engenheiro Civil que, mesmo observando os materiais da melhor qualidade para a construção da estrutura e do seu requintado acabamento, inadvertidamente construa o edifício sobre um terreno movediço ou pantanoso. Claro que a obra de arte do nosso “poeta” da arquitetura desmoronaria. Óbvio que este é apenas um exercício de metáfora. Ao que se conheça, isso jamais aconteceu com o nosso arquiteto maior.
Assim é a Ciência Estatística. Nela encontramos sofisticações interessantes. Uma vez que começamos a descobrir os seus segredos, e tenhamos habilidades matemáticas, podemos elaborar modelos altamente sofisticados e que são capazes de ajudarem a interpretar, com rigor, fenômenos científicos que estamos querendo entender. Nada disso, contudo, terá validade se utilizarmos na construção do nosso modelo bem estruturado, de um ponto de vista da Ciência Estatística, uma base de dados problemática ou fajuta.
Um fenômeno científico é aquele que se repete de forma sistemática na natureza. Ao cientista cabe tentar desvendá-lo e buscar traçar-lhe a trajetória. Óbvio que para fazer isso, precisa dominar bem a ciência em que o fenômeno acontece. A Ciência Estatística entra como o instrumento acessório (certamente o único) capaz de ajudar na formatação e no entendimento do fenômeno. Sem ela, o observador ficará no “achismo”. “Acho” que vai acontecer assim, ou de outra forma, sem ter convicção alguma, inclusive em termos do tamanho do erro que pode cometer. A Ciência Estatística nos proporciona a possibilidade de aferir a magnitude do desvio que podemos incorrer ao analisar um fenômeno científico. Isso não é pouca coisa, principalmente quando envolve vidas humanas.
As Ciências Agronômicas, Médicas, Físicas e Químicas não estariam no estágio atual, não fosse o conhecimento que os pesquisadores dessas áreas adquiriram em Ciências Estatísticas. Os fenômenos naturais, se bem conhecidos pelo cientista, apresentam maiores possibilidades de rigor nos resultados. Vacinas, antibióticos, todos os medicamentos, os cultivares de lavouras de elevada produção, as vacas que tem elevado pedigree leiteiro. Tudo foi possível conquistar porque cientistas perseverantes lhes estudaram a genética, a fisiologia e desenharam experimentos fundamentados em Modelos Estatísticos sofisticados para chegar aos resultados que fazem diferença na humanidade.
Nas Ciências Humanas e Sociais a aplicação da Ciência Estatística não é tão acurada. Não devido a ela, mas por causa da forma com que a base de dados utilizada nessas ciências é normalmente obtida. Neste caso, o conjunto de informações dependerá muito do pesquisador, inclusive do seu viés ideológico e político. Em função do resultado que se quer obter, será possível desenhar o modelo estatístico que convém. Pode-se encaminhar os preceitos da ciência para respaldarem os objetivos de quem encaminha a pesquisa. Com esse comportamento, transmite-se a ideia de que se agiu cientificamente. Nas pesquisas de opinião sobre a avaliação de um governo, ou de um determinado candidato, os resultados podem ser largamente modificados, bastando que o “pesquisador” desenhe a amostra conveniente. Aí ele oferecerá ao interlocutor a informação que este quer ouvir. Interpretar fatos estatísticos, também pode ser fortemente impregnado pelo fundamento dogmático do analista de ocasião, que nem precisa ter lá esses treinamentos. Os “marqueteiros” políticos são exemplo acabado dessa assertiva. Com um bom serviço de marketing, regiamente pago, de preferência com dinheiro público, podem criar fatos que acabam se tornando verdades. E a massa desinformada acredita. Por exemplo, os atuais mandatários do Maranhão dizem que o estado tem o décimo sexto maior PIB do Brasil. Informação verdadeira. Mas não dizem que a população maranhense é a oitava do Brasil e que, por isso, quando este PIB se pulveriza entre os seres humanos ainda vivos do estado (a maioria), deixa-o na última posição empatado com o Piauí que tem PIB bem menor. Não dizem também que Amazonas Espírito Santo ou Distrito Federal que possuem populações bem menores do que a do Maranhão tem PIB maior do que o maranhense.
Quando os atuais detentores do poder federal dizem que a taxa de desemprego no Brasil é baixa, não dizem como ela é calculada. Computam-se as pessoas da população economicamente ativa que, estando desempregadas, registram a busca de empregos nas entidades oficiais. Não o fazendo, por alguma razão, não serão computadas como desempregadas. Mas por que alguém desempregado não procuraria emprego? Por ser masoquista, certamente não seria. Não buscaria porque está recebendo transferências federais direta ou indiretamente (45 milhões aproximadamente do Bolsa Família), ou porque tem algum aposentado ou pensionista na família bancando-lhe as despesas, ou porque são biscateiros. Como pode uma economia que cresce a dois por cento ao ano está “turbinando” com pleno emprego? Isto não existe. Tanto é verdadeiro que quando medimos a produtividade do trabalho no Brasil ela se mostra raquítica e se traduz na baixa renda média daqueles que trabalham. Por que isso? Simples, basta verificar quantos brasileiros pagam imposto de renda. Abril é o mês de conferir. Aí não terá maquiagem de dados.
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*Texto publicado em O Imparcial do dia 5 de abril de 2014.